REGIANE GONZAGA formou-se em Pedagogia e é Pós Graduada em Análise do Comportamento Aplicada (ABA); Psicopedagogia Clínica e Institucional; Autismo. Mas não por acaso. Seu único filho, Matheus, foi tardiamente diagnosticado com autismo. E foi também por causa de Matheus que ela conheceu o espiritismo. Escrever um livro com seu relato de vida era seu sonho, com o único intuito de ajudar aos que enfrentam a mesma situação. Saiba mais na entrevista a seguir:
Como conheceu o espiritismo?
A primeira vez que estive em um Centro Espírita foi em 20/11/2017 no Centro Espírita Nosso Lar em Matão. Os padrinhos do Matheus me aconselharam a leva-lo, após uma crise convulsiva, para que ele pudesse fazer um tratamento espiritual. E lá eu tive oportunidade de conhecer a Doutrina e estou até hoje.
Frequenta ou trabalha em instituições espíritas? Como se chamam?
Sim. Eu frequento, estudo e trabalho no Centro Espírita Nosso Lar em Matão.
Qual a importância do espiritismo em sua vida?
O espiritismo me fez voltar pra Deus e me fez compreender muitas coisas que antes eu não entendia.
Possui outros livros publicados, além deste lançado pela Editora EME?
Não. Esse é o primeiro e a realização de um grande sonho.
Qual a principal motivação para escrever O autismo em minha vida?
Meu objetivo maior sempre foi o de ajudar famílias e profissionais que lidam com o Autismo, compartilhando as coisas que aprendi ao longo de todos esses anos de estudo e convivência.
O que deseja transmitir aos leitores com esta obra?
Que aqueles que lerem o meu livro possam compreender o Autismo; que os pais e profissionais possam se sentir encorajados e também levar uma mensagem de fé e esperança.
Existem causas para o autismo?
Sabemos muito pouco sobre as causas do Autismo. Mas podemos dizer que podem ser genéticas, biológicas e ambientais e eu acrescentaria espirituais.
Crianças autistas nascem, choram, alimentam-se normalmente. Em que fase da vida aparecem as primeiras manifestações da doença?
Em primeiro lugar, o Autismo não é visto como uma doença, mas sim como um Transtorno. É possível identificar alguns sinais antes mesmo de 1 ano de idade, porém a grande maioria, apenas começa a perceber com 2/3 anos de idade ou então quando essa criança começa a frequentar a escola, onde os sinais se tornam ainda mais visíveis.
Mas geralmente os pais começam a perceber o problema quando o filho tem que idade?
Varia muito! No meu caso eu percebi antes de 1 ano que ele era diferente das outras crianças da mesma idade, porém, o diagnóstico veio quando ele já tinha mais de 5 anos. Muitas vezes os pais têm dificuldade em aceitar que algo não está normal com seu filho e ficam achando que é apenas uma fase, que logo vai passar, atrasando assim o processo.
O autismo em minha vida é o relato real de sua experiência pessoal. Qual foi sua reação ao saber que têm um filho com autismo?
Como eu passei mais de 5 anos tentando descobri o que ele tinha, quando eu recebi o diagnóstico foi uma sensação de alívio, porque finalmente eu tinha um diagnóstico. Mas em seguida foi de total desespero porque eu não tinha ideia do quer era o Autismo e não sabia lidar com isso. E em seguida foi de muita revolta contra Deus e então eu passei a viver uma situação de luto.
Como as famílias devem se preparar para cuidar de uma pessoa com autismo?
Com muito amor, paciência, dedicação, procurar sempre se informar o máximo possível, fazendo cursos, lendo livros, pesquisas, participando de grupos com essa temática e cuidando de si mesmo. O cuidador também precisa ser cuidado!
Autismo tem cura? Como é o tratamento?
O Autismo não tem cura! Mas se a intervenção for precoce, os sintomas podem ser amenizados. O Tratamento vai depender da necessidade da criança. Mas geralmente inclui intervenção com Psicóloga, Fonoaudióloga, Terapeuta Ocupacional, Fisioterapeuta, Psicopedagoga e Neurologista.
Os autistas devem frequentar escolas comuns?
É o mais indicado e eles são protegidos pela lei da inclusão. Mas existem alguns casos que acabam frequentando escolas especiais.
Mas nossas escolas estão preparadas para receber alunos autistas?
Eu percebo uma grande movimentação da parte das escolas e dos professores buscando por conhecimento e se preparando para receber esse tipo de público. Mas infelizmente isso ainda não ocorre em todas as escolas. Mas acredito que estamos no caminho.
E a evangelização espírita? Está devidamente preparada?
Infelizmente ainda não. Mas existe muita boa vontade.
Do ponto de vista espírita, como se entende o autismo?
Podemos entender o autismo como prova ou expiação para se recuperar de delitos praticados em outras existências ou como experiência iluminativa solicitada pelo próprio espírito ou missão.
Segundo o espiritismo, como avaliar a experiência encarnatória do autista?
O Autista é espírito como todos nós. A cada encarnação temos oportunidade de reparar nossos erros, adquirirmos experiências e assim evoluir.
O autismo pode ser uma atitude de rejeição à encarnação?
Alguns pesquisadores no assunto, dizem que dependendo do caso, a encarnação pode ter sido compulsória, isto é, sem a sua concordância ou conhecimento prévio disso. Mas na maior parte, o próprio espírito, que se sentindo culpado, pede por isso, para tentar se redimir dos erros praticados.
Para a visão espírita, qual seria a função dos pais de crianças autistas?
Nós pais, também estamos aqui para evoluir. Acredito que nossa função seja de auxiliar esse espírito dando-lhe amor.
O espírito que está encarnado em uma criança autista encontra-se lúcido – e somente o corpo não responde naturalmente aos estímulos – ou o espírito pode encontrar-se igualmente comprometido?
Ainda sou muito leiga nessas questões, mas acredito que ele se encontra lúcido. Para mim é como se o espírito fosse prisioneiro do corpo.
Segundo pesquisas, a incidência de autismo está aumentando significativamente no mundo. Qual seria a razão, na visão espírita?
Acredito que se deva ao processo de transição planetária em que estamos vivendo. Ainda hoje assisti uma palestra que falava que, muito provavelmente, são espíritos que tiveram alguma ligação com a primeira e segunda guerra mundial.
Em O autismo em minha vida você narra, também, sua coragem para a superação. Sem comprometer o que vamos ler no livro, como isso aconteceu? Onde você buscou forças?
Eu precisei me tornar mais forte para poder ajudar o meu filho. Percebi que ficar parada só me lamentando não iria ajuda-lo em nada. Ele foi a minha força e a minha inspiração.
Como a fé, em qualquer de suas expressões, pode ser um bom suporte também para os pais de crianças autistas?
A fé é essencial, independente da religião, para qualquer pessoa. É preciso acreditar que existe uma força maior, um Deus que nos ama. Senão não existiria uma razão para estarmos aqui hoje.
Que lições você aprendeu até aqui, com Matheus, e que servem para todas mães de crianças autistas?
Nossa, ele me ensinou e ainda me ensina tantas coisas! Mas ele me ensinou a saber esperar o tempo certo das coisas; a dar um passo de cada vez ao invés de correr; a ser mais paciente e tolerante; que as coisas mais belas são as coisas mais simples; que nada se consegue sem sacrifícios e lágrimas; ele me ensinou a ser forte e acima de tudo ele me ensinou a amar.
Você ainda enxerga o Matheus todo azul (quem ler o livro vai entender)?
Não (risos). Aquilo foi mesmo apenas no instante do seu nascimento.
E que mensagem deixaria para todos os nossos leitores?
Ame! Porque no final tudo se resume ao amor. Todos nós estamos aqui para evoluir. “O Autismo em minha vida” conta apenas a minha trajetória pessoal com o autismo. Mas sabemos que cada um possui a sua própria história. Cada um tem o seu próprio tempo para despertar. Mas não demore muito! Eles precisam de nós! E nós também precisamos muito deles! Um dia poderemos enxergar isso com muito mais nitidez e só então compreenderemos o porquê de todas as coisas. Mas uma coisa é certa: nada acontece por acaso! Em tudo existe uma sabedoria divina. Tente encarar os desafios como uma maneira de crescer espiritualmente e moralmente. E jamais perca a fé e a esperança. Um abraço fraterno a todos!