A história da gênese de quase todos os povos antigos se confunde com a da religião deles, donde o terem sido religiosos os seus primeiros livros. E como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o da Humanidade, elas deram, sobre a formação e o arranjo do Universo, explicações em concordância com o estado dos conhecimentos da época e de seus fundadores.
Por exemplo: quando foram desenterrados os primeiros ossos de dinossauros e outros animais extintos, o sábio francês Georges Cuvier apresentou a seguinte teoria: seriam ossos de animais que não conseguiram embarcar na Arca de Noé, morrendo no dilúvio bíblico…
Os erros da gênese mosaica
De todas as Gêneses antigas, a que mais se aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Levando suas investigações às entranhas da Terra e às profundezas dos céus, demonstrou a ciência, de maneira irrefragável, os erros da Gênese mosaica tomada ao pé da letra e a impossibilidade material de se terem as coisas ocorrido como são ali textualmente referidas. Ora, assim procedendo, a ciência desferiu fundo golpe em crenças seculares (a velha guerra ciência X Deus, como já tratamos aqui).
Muitas descobertas da ciência, de alguma forma, acabaram por se acomodar em meio aos dogmas religiosos, como a teoria do Big Bang – a explosão primária que originou o universo.
Porém, se chocar com o maior dos dogmas religiosos, aquele que afirma que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, levou Charles Darwin demorar 21 anos para publicar suas teorias sobre a origem das espécies. Darwin enfrentou as pressões do pai, que queria ver o filho um clérigo anglicano, e da esposa, Emma, que tinha medo do casal ser separada na eternidade – ela, no Paraíso. Ele, no Inferno. Após se debater com questões religiosas por quase toda sua vida, Darwin declarou-se agnóstico e publicou seu famoso trabalho “Da Origem das Espécies pela Seleção Natural”.
Segundo Darwin, os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados, deixando um número maior de descendentes. Tais organismos são, portanto, selecionados para aquele ambiente. Assim, a teoria mais aceita pela ciência hoje, é a de que todas as espécies vivas da Terra estão, de algum jeito, interligadas, proveniente de um único indivíduo.
Até hoje, em pleno século 21, Darwin continua sendo ferozmente combatido por quase todas as religiões.
O que dizem as religiões
Nos EUA, quase 60% da população acredita descender de Adão e Eva. Em muitas escolas americanas, trocaram-se as lições evolucionistas de Darwin pelo Criacionismo (Teoria que incorpora todas as crenças de que as origens do universo e da vida são atribuíveis ao sobrenatural e a meios milagrosos). Na Rússia, idem, com o apoio da Igreja Ortodoxa que afirma não haver provas concretas para as teorias de Darwin. No Quênia, um dos principais líderes evangélicos local se recusa a exibir o mais completo esqueleto humano pré-histórico já descoberto (batizado de Turkana Boy). Motivo: o “bispo” se recusa admitir que tenha algum tipo de ligação com Turkana. No Catolicismo, o então Papa Bento 16 afirmou, em livro, que as teorias de Darwin não podem ser comprovadas, pois o desenvolvimento da vida está ligado a uma “razão divina, inexplicável pela ciência”.
E o espiritismo?
O espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.
Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira, (…) porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, (…) porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações.
(…) A Ciência moderna abandonou os quatro elementos primitivos dos antigos e, de observação em observação, chegou à concepção de um só elemento gerador de todas as transformações da matéria; mas, a matéria, por si só, é inerte; carecendo de vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao principio espiritual. O Espiritismo não descobriu, nem inventou este princípio; mas foi o primeiro a demonstrar-lhe, por provas inconcussas, a existência; estudou-o, analisou-o e tornou-lhe evidente a ação. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Pela união indissolúvel deles, facilmente se explica uma multidão de fatos até então inexplicáveis.
Alguns desavisados, desses que se precipitam em criticar sem basear-se em teses concretas, costumam dizer que o espiritismo não é ciência porque nunca se ouviu falar em espíritos criados em laboratório. Bom, a ciência também nunca criou um planeta em laboratório e nem por isso a astronomia inexiste.
Espiritismo e Darwinismo
Por isso, o espiritismo não se debate contra as teorias de Darwin. Pelo contrário: o estudo das propriedades do perispírito, dos fluidos espirituais e dos atributos fisiológicos da alma pode abrir novos horizontes à ciência, dando a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, até então, por falta de conhecimento da lei que os rege sem, contudo, negar ou destruir o evangelho, conforme encontramos em A Gênese, de Allan Kardec, cujos trechos, no destaque acima, enriquecem este texto.
De certa forma, espiritismo e Darwinismo se encontram no raciocínio do cientista Francis Collins (um dos mapeadores do DNA humano): “Se Deus escolheu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para produzir criaturas que à sua imagem tenham livre-arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?”.
GEORGE DE MARCO é jornalista-redator das publicações periódicas da Editora EME