Progresso de leitura

Certo dia minha esposa estendeu-me uma edição da revista Época e me disse: “eis o assunto de seu próximo artigo”. Era a edição 443 que tinha, como matéria principal, “a nova cruzada dos cientistas ateus para reduzir a influência da religião”. Na capa, uma pergunta: A ciência vai matar Deus? Tal preocupação (da revista e de minha esposa) tem nomes e sobrenomes – Daniel Dennet, Richard Dawkins e Sam Harris. Eles são, digamos, os líderes do Novo-Ateísmo que condenam a crença em Deus. Para eles, as religiões não estão somente erradas, mas, pior, são perversas. No ano de 2006, foram lançados nos EUA muitos livros de cientistas influentes, contra a religião. Dennet, Dawkins e Harris são os que causaram mais rebuliço com suas publicações. Eles pretendem fazer os agnósticos (os que têm dúvida sobre a existência de Deus), assumir o ateísmo. E afirmam que religiosidade faz mal à humanidade.

Se a ciência não pode avaliar a existência de Deus, os cientistas acham difícil acreditar em um Deus distinto para cada religião. O Deus de um católico é diferente do Deus de um Muçulmano. Um dos dois tem que estar errado.

Para estes cientistas, o Novo-Ateísmo é uma resposta às insistentes intervenções religiosas no meio científico. Não são poucas, de fato: Galileu, perseguido e martirizado, pôr ter-se lembrado de falar sobre o movimento da Terra, coisa impossível, ideia louca; Genner com a sua vacina contra a varíola, que afirmaram pretender ele inocular a bestialidade no homem; Horário Weiss, descobridor da anestesia, sofreu tantas perseguições que acabou se matando; em 1470 o Parlamento francês confiscou os primeiros livros impressos introduzidos em Paris. O povo considerava os tipógrafos e os impressores como bruxos, chegando a pedirem, em 1533, a supressão da imprensa; Dominico foi morto na masmorra pôr ter demonstrado a significação do arco-íris; só para citar alguns exemplos. Também não contribuiu muito o fato da religião tentar empurrar teorias como a criação do mundo em sete dias, ou a população do orbe terrestre à partir de Adão e Eva. Ou que todas as espécies animais sobreviveram ao dilúvio por conta de uma arca, aonde todos conviveram pacificamente.

Mas, se não há nenhuma evidência concreta da existência de Deus e as investigações sobre a origem do universo também não abrem espaço para a concepção divina, não podemos olvidar que a ciência não caminha completamente unida. Com a chegada da Física Quântica e suas probabilidades, por exemplo, mudou-se o modo como a ciência observava a realidade já que não mais existia exatidão absoluta nos resultados da física. Como a nova mecânica confrontava a teoria da Relatividade, Albert Einstein proferiu uma frase memorável: “Deus não joga dados”.

Apesar de não ser religioso, Einstein também afirmou certa vez: “A Ciência sem a Religião é aleijada e a Religião sem a Ciência é cega”. Ou seja, não funciona separada uma da outra. Mas, mesmo assim, a teoria do Big Bang, por exemplo, que tenta explicar a origem do universo, até hoje é contestada, pois o homem que a desenvolveu, Georges Lemaitre, era ao mesmo tempo cientista e padre católico. Einstein afirmava que o Big Bang era muito semelhante aos dogmas religiosos sobre criação do mundo por parte de Deus, o que deixava a teoria “desconfortável”. Curiosamente, até o Século 19, antes da teoria evolucionista de Darwin, a ciência aceitava o fato de que as coisas que não eram explicadas estavam ligadas à intervenção Divina. Depois de Darwin, a situação mudou. Mesmo assim, existem questões que a ciência não responde. As de ordem moral, por exemplo. Como afirmou o cientista Stephen Jay meses antes de morrer, a ciência se limita a descobrir as consequências de um determinado comportamento, sem determinar se elas são boas ou más. Para Jay, estas questões pertencem à religião. E conclui: “questões morais e éticas podem ser discutidas, mas a ciência não pode respondê-las”.

Assim, se a ciência não consegue comprovar a existência de Deus, isso prova que ainda existe um limite para os cientistas. Porém não para a fé: 95% dos brasileiros acreditam em Deus. Existem cientistas que fazem questão de assumir suas crenças e não veem qualquer contradição entre Ciência e Religião. Elas se complementam, desde que haja bom-senso entremeando o caminho de ambas. E, se falamos em bom-senso, lembramos Allan Kardec.

Foi Kardec quem afirmou: “A Ciência marchará com os homens, sem os homens e apesar dos homens”. Dizia isso apoiado pela Doutrina que ajudou a desenvolver e que se solidificou no tripé Ciência-Filosofia-Religião. O Espiritismo é ciência porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais. Não existe o sobrenatural no Espiritismo: todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, tem explicação científica. Outrossim, pesquisas indicam que pessoas que acreditam em Deus vivem mais e se sentem mais felizes. E se reproduzem mais que os não crentes. Não é difícil entender o porquê. Entre a teoria científica da criação da Terra e a narrativa do mesmo evento na visão espírita, a segunda é muito mais poética, inspiradora, reconfortante e profunda do que a primeira:

“A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíram-lhe a providência com a palavra “natureza”, em todos os seus estudos e análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade sem fim. E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz do Sol beijava, em silêncio, a beleza melancólica dos continentes e dos mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso.

Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens”¹.

(¹do livro: A Caminho da Luz Médium: Francisco Cândido Xavier Espírito: Emmanuel)

 

GEORGE DE MARCO é jornalista-redator das publicações periódicas da Editora EME.