O perdão é, pois, remédio santo para a euforia da mente na luta cotidiana.
Tanto quanto não deves conservar detritos e infecções no vaso orgânico, não mantenhas aversão e rancor na própria alma.
Emmanuel (Chico Xavier)¹
Uma leitora que se identifica como judia, residente no Brasil, tradutora de inglês, pergunta-nos: “Querido Arnaldo, aprendemos na doutrina espírita a não guardar mágoa das ofensas. Gostaria de saber como integrar este ensinamento ao sentimento? Pois, por menos que queiramos, com frequência nos lembramos desta ou daquela ofensa, especialmente de pai ou mãe, familiares que nos deviam proteger. Sabemos tratar-se de ignorância, de um déficit evolutivo, conhecemos ainda a lei de ação e reação que desencadeia essas ofensas. Entretanto, como limpar a mágoa do coração, como afastar esses pensamentos nocivos?”.
Entendo que não tem uma chave, tem um processo de compreensão e de libertação pela ressignificação – dar um novo sentido a um fato que nos ocorreu, transformar uma experiência ruim em uma força motriz que nos leve a algo positivo.
Não adianta rezar terço, fazer novena, é necessário perdoar.
Errar para crescer
O perdão é que vai nos tranquilizar, com a aceitação. Esta é a chave espiritual: eu não sou perfeito e os outros também não são, mas eles estão melhorando dia a dia e temos que dar a oportunidade de eles errarem para crescerem.
Grandes almas que estiveram de passagem por aqui já ensinavam que é melhor sofrer a injustiça em vez de praticá-la, porque podemos oferecer a outra face, a do amor, da tolerância. Veja o que disse Pitágoras: “Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadeira desgraça consiste em cometê-las”.
O rei e filósofo Marco Aurélio repetia: “Quem peca, contra si peca; quem comete injustiça, a si agrava, porque a si mesmo perverte”.
Injustiça e desgraça
Somente nós podemos fazer mal para nós, os outros fazem mal para eles mesmos, e o médium Chico Xavier, dizia: “Se quiser realmente ver o teu maior inimigo, pare por alguns instantes à frente de um espelho”.
Como vivemos sob a custódia de leis divinas, uma delas, que fala do retorno, afirma: “Quem semeia a injustiça colherá a desgraça”.
Nessa escola da vida somos chamados a aprender, e o perdão é um processo de aperfeiçoamento de nossa alma. O perdão vai muito além da justiça dos homens. E a busca da serenidade exige perdoar aquelas coisas difíceis que pensamos que não podem ser perdoadas, como manter uma gravidez indesejada (fruto de violência ou estupro) ou agressão cometida por pessoas de nossa convivência, como familiares e parentes que deveriam nos amar.
Protegendo o coração
Para exercer o perdão precisamos de humildade, e isto não significa ser menos que o outro, mas entender que não somos mais que ninguém. O guia e modelo da humanidade, o maior líder da história, nos ensinou que é a humildade que nos faz grandes! E ele que era o único que podia nos condenar, mas nos amou quando disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Jesus, em Lucas, 23:34).
Com o processo de ressignificar das agressões com o perdão, estamos protegendo o nosso coração, com todo o cuidado que ele merece, porque dele nascem as fontes da saúde e da vida.
ARNALDO DIVO RODRIGUES DE CAMARGO é diretor da Editora EME
¹Palavras de vida eterna – CEC