SEXTA 13 – superstição, crendices e misticismos

superstition

Progresso de leitura

Existem duas hipóteses sobre o significado e a origem da superstição relacionada à sexta-feira 13. Ambas são ligadas ao cristianismo.

A primeira conta que em uma sexta-feira 13 de outubro de 1307, a Ordem dos Templários foi declarada ilegal pelo Rei Filipe IV de França. Criado no tempo das Cruzadas, este exército era responsável por guardar o templo de Salomão na cidade de Jerusalém e os peregrinos que visitavam a Cidade Santa. Com a declaração do rei, seus membros foram presos – alguns torturados e executados por heresia.

A segunda, mais difícil de confirmar, afirma que Jesus foi crucificado numa sexta-feira 13, já que a páscoa judaica é celebrada no dia 14 do mês de Nissan (o mesmo período de março-abril), no calendário hebraico. E, de acordo com os evangelhos, Jesus foi preso, julgado e crucificado durante as comemorações da páscoa.

Artigo de luxo

Volta e meia, a humanidade se apega à lendas, crendices e misticismos diversos sem motivos muito lógico para tanto. Em verdade, lógica houvesse, e nenhuma das situações lendárias se manteria de pé. Esse comportamento não é novidade. Na Idade Média, os gatos ganharam fama de animais amaldiçoados e seus proprietários eram tidos como bruxos. O motivo é tão simples quanto banal: os gatos afugentavam os ratos que transmitiam a peste. Seus donos, portanto, morriam menos do mal que os que não possuíam gatos. Porém, foi preferível amaldiçoar os gatos e condenar seus donos do que enxergar o óbvio. Mas isso era, repetimos, a Idade Média, quando o conhecimento era artigo de luxo para pouquíssimos.

A obra menos conhecida de Kardec

Instruções práticas sobre as manifestações espíritas é, provavelmente, a obra menos conhecida de Allan Kardec. Foi lançada em 1858 como uma espécie de manual dedicado aos médiuns. Com cerca de 160 verbetes, foi relançada em 1923 pelo francês Jean Meyer e traduzido para o português por Cairbar Schutel que percebeu não somente o grande valor histórico da pequena obra, mas também a importância do seu tão compacto quanto valoroso vocabulário espírita como fonte ímpar de consulta.

Ali, vamos encontrar a visão doutrinária sobre superstição:

Por mais absurda que seja uma ideia supersticiosa, quase sempre repousa sobre um fato real, mas desnaturado pela ignorância, exagerada ou falsamente interpretada. Seria erro supor que vulgarizar o conhecimento das manifestações espíritas seria propagar superstições. De duas uma: ou os fenômenos são uma quimera, ou são reais. No primeiro caso haveria razão para as combater; mas se eles existem, como o demonstra a experiência, nada os impede de se repetirem. Como seria pueril atacar fatos positivos, o que deve ser combatido não são os fatos, mas a falsa interpretação que lhes pode dar a ignorância. Sem dúvida nos séculos passados foram eles a fonte de uma porção de superstições, como todos os fenômenos naturais cuja causa era desconhecida. Pouco a pouco o progresso das ciências positivas faz que umas desapareçam, enquanto que, melhor conhecida, a ciência espírita fará desaparecer as outras.

 

Apoiam-se os adversários do espiritismo no perigo que tais fenômenos apresentam para a razão. Todas as causas que podem excitar as imaginações fracas podem produzir a loucura. O que, antes de mais nada, é preciso é curar o mal do medo. Ora, o meio de o conseguir não é exagerar o perigo, fazendo crer que todas as manifestações sejam obra do diabo. Os que propagam essa crença visando desacreditar a doutrina, fogem completamente ao seu objetivo, primeiro porque assinar uma causa qualquer aos fenômenos espíritas é reconhecer a sua existência; em segundo lugar porque, querendo persuadir que o diabo seja o seu único agente, afetam perigosamente a moral de certos indivíduos. Como não podem impedir que se produzam manifestações mesmo entre aqueles que as não desejam, eles não verão em seu redor e por toda parte senão diabos e demônios, até nos mais simples efeitos, que tomam por manifestações. Nisto há muito coisa para perturbar o cérebro. Dar prestígio a esse medo é propagar o mal do medo, em vez de o curar. Nisto está o verdadeiro perigo; pois aí está a superstição.

Afugentando as trevas

Segundo o próprio Kardec, Instruções práticas sobre as manifestações espíritas foi uma espécie de “versão prévia” de O livro dos médiuns, que a substituiu mais tarde. Nesta segunda obra da codificação vamos ler, no item 13, primeira parte, que “o espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos, ou sobrenaturais. Longe disso, demonstra a impossibilidade de grande número deles e o ridículo de certas crenças, que constituem a superstição propriamente dita”.

Não obstante, fiquemos atentos ao que diz Herculano Pires para não sermos subjugados pela crendice fanática: “Ajudar o homem a se equilibrar na posição justa do espiritualismo esclarecido, para que o mundo seja melhor e mais belo, é a missão do espiritismo (…)”. Segundo Herculano, foi este o motivo de Allan Kardec escrever, em O evangelho segundo o espiritismo, “esta legenda de luz: Só é inabalável a fé que pode encarar a razão face a face, em todas as etapas da humanidade”. Para o notório filósofo espírita, é exatamente por isso “que o espiritismo insiste na necessidade do esclarecimento permanente da razão para os problemas da fé”, pois ambas afugentam “as trevas e o frio da ignorância e da superstição, para nos dar a luz da compreensão e o calor da vida”.

 

GEORGE DE MARCO é jornalista-redator das publicações periódicas da Editora EME