Progresso de leitura

Roni Ricardo – A nobreza de um servo

Natural de Santa Rita de Jacutinga (MG) RONI RICARDO OSÓRIO MAIA é espírita desde 1990 graças às orientações de seu pai, pois seu avô paterno era adepto do espiritismo. Administrador, com especialização em Docência e Gestão de Pessoas, está vinculado à AEEV (Associação Espírita Estudantes da Verdade), em Volta Redonda (RJ), onde reside com esposa e filho.

Nesta entrevista, ele nos conta um pouco sobre sua vida e sobre seu novo livro, A nobreza de um servo. Confira:

Vamos começar pela devida apresentação aos nossos leitores. Fale-nos de você: quem é Roni Ricardo por Roni Ricardo?

Um ser esforçado para se melhorar, sexagenário, e com um laço muito estreito com a doutrina de luz e verdade – e esta me abraçou nessa existência.

Fale-nos do trabalho que desenvolveu na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) como administrador e posteriormente como professor no Senac.

Pela CSN foram 80% de vida trabalhista e, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), outros 20% até me aposentar por tempo de contribuição previdenciária. A administração, além de ter sido a minha formação acadêmica, meu labor por décadas, é algo que está latente em mim. Não consigo fazer nada sem o planejamento, a organização, a coordenação e o controle.

Você vem de uma família espírita. Seu avô, que veio de Portugal no início do século 20, já exercia a função de doutrinador? E seu pai?

Sim, do lado paterno, meu avô chegou ao Brasil egresso de Portugal no final do século 19. Descendente da família Maia, adepto do espiritismo, atuou na Zona da Mata Mineira. Ele ajudava pessoas obsidiadas e fornecia muita ajuda pelo passe e orientações mediúnicas. Meu pai é espírita de berço. Esse respaldo para mim é muito significativo, tendo em vista que eu pude trilhar o caminho espírita sem retaliação familiar. Existem muitos casos onde isso não acontece, como tenho conhecimento. Na minha opinião sincera, é uma dádiva para minha atual reencarnação ter tido essa oportunidade.

Sua mãe viveu até os 98 anos e era católica praticante e seu pai, espírita. Qual a lição que você colheu desse entendimento e respeito no lar?

Minha mãe sempre foi dócil para com todos, respeitava a crença espírita, mesmo católica. Ela tinha uma frase corrente: “Seu pai sempre disse que todos os caminhos nos levam a Deus!”

Você é um escritor que já publicou outros livros e A nobreza de um servo é o primeiro pela Editora EME. Que livros são esses e por onde saíram?

A Editora EME tem o meu maior respeito pela sua qualidade, esmero nos produtos e o diferencial no atendimento ao cliente. Além de sua prestação de serviços sociais, filantrópicos e à causa espírita. Desde 2015 tem sido impresso pela Gráfica EME meus livros com muito apuro na confecção, o que é digno de reconhecimento.

Em 2015 lancei Palavras de consolo – Bastidores do Projeto Yvonne Pereira (esgotado); 2017, Vida Futura (versão e-book); 2018, Lenitivo à dor (esgotado); 2019, Cartas aos irmãos da Terra (pela Editora Fergus em coautoria com Roberto Fonseca, também esgotado); 2020, Por enquanto … recomeços; 2023 Perdonare (versão e-book) e 2024 Os girassóis se abrem ao sol (versão e-book).

Para 2025, encontra-se em fase de diagramação e acabamento prévio por meio da Gráfica EME, o futuro livro Sob os olhares da compaixão, com o qual comemorarei, em 01/08/2025, 160 anos de publicação da obra básica O Céu e o Inferno e 65 anos de idade. Este livro também terá a versão e-book.

Suas obras foram em prol da creche Lar Espírita Irmã Zilá, em Volta Redonda, que funciona semanalmente. Fale-nos deste projeto.

As tiragens impressas dos livros de 2015 a 2020 foram revertidas para a instituição; depois, as versões e-books tornaram-se obras doadas para esse respeitável trabalho filantrópico. Trata-se de creche, reconhecidamente espírita, que ampara 300 crianças carentes no bairro Belmonte, em Volta Redonda (RJ). Eu conheço o projeto idealizado pela presidente da instituição, a incansável amiga e pessoa tão dedicada como é a Eliana Itaborahy e a sua equipe de colaboradores – inclusive, voluntários em diversos segmentos. Eu vi a implantação desse ideal, como sempre falo, desde quando estava no papel, em 1996. Hoje em dia existe um pavilhão de dois andares. Graças às doações de beneméritos, associados, campanhas e a parcela da iniciativa privada, que reconhece um trabalho edificado no bem e constata a lisura como tudo tem sido realizado ao longo de quase 30 anos. É uma assistência social aos pequeninos necessitados, levando luz às almas dessas crianças em romagens terrenas, em processos difíceis em relação às suas subsistências, como a fome, e, em alguns casos, às carências afetivas. E todo trabalho sério e em prol dos necessitados está sob a égide de Jesus.

Você também desenvolveu o Projeto Yvonne Pereira. O que é? Quando e como surgiu?

Nos idos da década 2000, ao adquirir os livros da estimada médium Yvonne do Amaral Pereira, eu me encantei com os relatos de Recordações da mediunidade e Devassando o invisível. Parecia que ela estava ao meu lado contando suas histórias, devido à sua linguagem simples, com primor doutrinário e destreza em retratar tudo o que ela vivenciou, principalmente no aspecto mediúnico. Em 2008, eu resolvi elaborar uma palestra pública sobre a mediunidade de Yvonne Pereira, com apoio da vice-presidente, hoje no plano espiritual, da Associação Espírita Estudantes da Verdade (AEEV), onde estou filiado há 30 anos. Da mesma forma fui estimulado pelo prezado Augusto Marques de Freitas, já desencarnado, à época como o presidente do Centro Espírita Yvonne Pereira, em Rio das Flores (RJ) a prosseguir naquele projeto que germinava.

Na primeira palestra pública realizada em 31/05/2009, na AEEV, os presidentes de outras instituições espíritas compareceram e me convidaram para divulgar, em suas respectivas instituições, tal palestra. Foi o início de tudo, e um confrade ia sugerindo para outro. De minha parte, quando era convidado, sugeria levar a divulgação sobre a médium e muitos aceitavam, logo me diziam que ela não poderia ficar esquecida.

Outros apoiadores surgiram como Gerson Sestini, do Rio de Janeiro, e Orson Peter Carrara (SP), e eu não parei. Foram seis anos de 2009 até 2015 com viagens e as palestras sobre a dedicada medianeira, até resultar no livro Palavras de consolo – Bastidores do Projeto Yvonne Pereira (esgotado em 2015). Destaquei no livro alguns detalhes daquilo que eu absorvi naqueles percursos, viagens. Foram diversos depoimentos de muitos indivíduos que intencionaram  suicídios, casos de pessoas que se suicidaram. Em diversas vezes a palestra acalmou aqueles com as ideações suicidas, que estavam presentes na plateia, conforme desabafos obtidos, pois o roteiro da palestra não só relatava os suicídios praticados em duas vidas pregressas de Yvonne Pereira, como realçava a prevenção do ato infeliz, com base nas orientações das obras espíritas, principalmente, as questões 953 a 957 de O Livro dos Espíritos.

Agora vamos falar sobre seu novo livro. O que o motivou a escrever A nobreza de um servo?  Qual seu objetivo com esta obra?

A nobreza de um servo foi captado durante o auge da pandemia. Eu estava em casa, sem contato direto com as pessoas devido à reclusão em face do contágio, em meados de 2022 (muitas casas espíritas estavam fechadas ou com trabalhos virtuais). As imagens do Porto de Calais (França) começaram a se apresentar em minha mente, captei um recado espiritual e, além disso, uma médium trabalhadora de uma casa espírita em Volta Redonda obteve o mesmo aviso mediúnico. Ela, por ser minha amiga de longa data, me telefonou com o recado que eu já havia recebido – na realidade, era a confirmação da obra que me fora destinada. Nós dois não nos víamos havia muitos meses, devido ao afastamento imposto pela pandemia. Depois, acalmado o problema pandêmico, ela leu e se emocionou com o romance. Foi a primeira leitora do livro a me sugerir levar adiante. Depois, solicitei as opiniões de outros amigos espíritas para que eles conhecessem o teor doutrinário, bem como avaliarem a obra finalizada. Foram apoios prestimosos recebidos das partes dos seguintes amigos: Heliana Sant’ Anna, Vilma Conrado Gonçalves, Denise Corrêa de Macedo, Nicola Frattari, Orson Peter Carrara e Nadejda Varginha.

O objetivo dessa obra é relembrar que mediunidade não é favor nem castigo, porém é uma chance de trabalho e reparação perante a justiça divina.

O que o leitor encontrará neste romance?

O romance apresenta um enredo sobre um jovem servo e médium curador, assim como um amor (quase impossível) em uma época de outrora. Os capítulos se descortinaram com influxos de pensamentos voltados para uma história cujo mote principal é a mediunidade de cura. Meu querido mentor me convocou a esse trabalho e, além de sua presença, eu obtive também a assistência espiritual de outra singela companhia, captada mediunicamente; no caso uma religiosa – Irmã Angélica, que se juntou ao processo de elaboração do livro com cunho doutrinário, principalmente voltado aos médiuns, respaldado pelo exemplar O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Trata-se de um enredo com muitas nuances, a começar pela mediunidade de cura, com almas afins que se reconhecem, o preconceito de castas de tempos passados, a perseverança e uma história de dois seres que se amavam.

Faça-nos uma resenha, por favor.

São capítulos movimentados, cada qual com seu teor característico, como o reconhecimento de almas em romagens terrenas, a clausura dentro de um convento, a vida monástica do jovem personagem no mosteiro dos franciscanos, um reencontro inesquecível e os rumos de uma história elaborada por meio de uma vontade ardente de servir, no sentido espiritual, retratada através do personagem central – Armand Dubois.

Destaco a envolvente personagem Ana Túlia Albernaz, uma fidalga portuguesa. Ela surgiu como um contraponto na trama que se seguia um curso de repressões e renúncias. Todavia, nem tudo neste nosso mundo é aspereza, existem almas boníssimas que trafegam pelo plano físico, embora raras. As cenas na propriedade dela – uma quinta em Loures, Portugal – são marcantes; os quitutes preparados fizeram-me sentir o aroma dos biscoitos de araruta e erva-doce. Na época precisei buscar em uma padaria para saborear.

Existe algo marcante que gostaria de relatar de sua experiência na preparação deste livro?

Como tudo começou, a forma fragmentada como surgiu: Primeiro apresentaram-se as cenas do jovem atirando pedrinhas no mar, sentado nos grandes blocos de pedras na encosta do Porto de Calais, França, em um tempo medieval. O início da obra foi determinante, foram dias e dias vendo somente essa cena inicial do livro. Em outras palavras, a preparação para o conteúdo que foi surgindo, em capítulos, nas semanas de meados de 2022 – precisamente, de junho a novembro.

Você é muito emotivo? No desenrolar do enredo chorou muito com a história?

A sensibilidade está latente em mim. Os livros, filmes, peças teatrais, músicas, reportagens com valores altruísticos me emocionam. Então certamente chorei com a história de A nobreza de um servo, pois o final é emocionante e surpreendente. Há uma cena de Milly com o pai dela, Harold Rightway, quase no desfecho da narrativa, para mim inesquecível. Uma frase tornou-se muito marcante: “O que passou ficou nas noites dos tempos…”.

A mediunidade de cura é o tema em destaque em A nobreza de um servo. Qual o tipo de mediunidade que você considera a mais interessante e por que?

Entendo que cada mediunidade cumpre seu papel, não tenho predileção, mas no meu caso, como médium inspirado, é essa faculdade a qual poderia destacar.

É possível saber se temos a mediunidade de cura? E de que forma podemos aplicá-la para ajudar alguém?

A mediunidade de cura se destaca por levar o alívio às pessoas; muitos indivíduos a possuem e não a desenvolvem. Outros se tornaram médiuns curadores. A mediunidade de cura é tão antiga quanto é o nosso mundo civilizado. Nesse caso, cito os antigos curadores das tribos da Antiguidade.

Porque os trabalhos de cura fascinam (no bom sentido) a tantos médiuns?

Vejo nesse aspecto um problema: a ostentação, sem nenhuma crítica a ninguém, pois cada um faz de seu livre-arbítrio o melhor caminho que lhe convém. No entanto, destaco o zelo, o qual se deve ter em propalar um dom emprestado.

Se o corpo reflete o que provém do espírito, e o corpo adoece, não podemos afirmar que é o espírito o doente?

Com certeza. São as marcas desarmonizadas com o bem que ficaram imputadas em um perispírito necessitado de reparações por diversas existências corpóreas. A doença surge como reparação e sempre como o meio para se curar. Jesus há mais de dois mil anos aqui compareceu e nos forneceu o remédio – amar ao próximo como a si mesmo, além do seu belo discurso moral, o sermão da montanha, onde se encontram nas frases eternizadas os atenuantes para os nossos flagelos e doenças. Com mais um detalhe: O Consolador prometido por Jesus continua a nos ofertar as instruções por meio desse grande médico das almas.

Mesmo Allan Kardec já tendo iniciado o assunto na Revista Espírita por que a medicina espiritual continua intocável, quase como um dogma?

Entendo que se deve respeitar a medicina. A ciência ainda não se aliou à religião. Quando se definiu sobre posturas clínicas, as quais a medicina não permite o exercício, é de bom-tom que se deve acatar. Contudo, as curas espirituais, no meu entendimento, se valem sobre o aspecto de merecimento do sujeito. E com apuro são realizadas em diversos locais, independentemente de ser uma instituição espírita.  Um médium curador, não espírita, pode curar alguém noutro ramo social ou religioso em qualquer ponto do planeta. A mediunidade está em toda parte, independentemente da cor, credo, cultura, posição social etc.

Apesar do advento de Arigó, entre tantos outros fatos, por que a medicina ainda demora para reconhecer a questão espiritual no tratamento da saúde?

Conforme já relatado, entendo que a medicina deve ser respeitada em suas determinações. Por enquanto, não há congraçamento  pleno da ciência e a religião. Contudo, já acontecem estudos científicos com a constatação da reencarnação, da fé, da oração e outros mecanismos voltados para a imortalidade da alma e os efeitos da cura em pessoas espiritualizadas, enaltecendo-se  as pesquisas e comprovações cientificas daquilo que Allan Kardec, assessorado pelos benfeitores imortais, publicou desde 1857 (O Livro dos Espíritos) até 1890 (ano de sua desencarnação), com as eloquentes obras espíritas e  seus expoentes sucessores, os quais eu gostaria de citar: Léon Denis, Gabriel Delanne e, na pátria brasileira, eu não poderia olvidar Doutor Bezerra de Menezes, com inenarráveis intercessões espirituais,  e casos comprobatórios de sua intervenção clínica,  entre outros tantos cooperadores espíritas pelo Brasil.

A nobreza de um servo nos traz uma linda história de amor proibido e suas consequências. Em que momento o amor deixa de ser um sentimento natural e passa a ser um sentimento espiritual?

Tanto na matéria como no mundo espiritual viceja o amor. Entende-se, equivocadamente, apenas o amor carnal. Não falo nesse sentido, pois é um sentimento sublimado, capaz de unir seres em um só propósito – o progresso evolutivo. Daí, propagam as vertentes do amor: maternal, paternal, filial, social, espiritual etc.

Com tantas histórias de amor e dor, podemos afirmar que o amor é um tipo de prova?

No meu sentimento não. Porém, existem os casos dos amores impossíveis, os quais, em meu parecer, são processos provacionais ou expiatórios por ainda portamos a inferioridade, estagiando em um mundo imperfeito. Nessa conjuntura provacional decorrente do mais sublime dos sentimentos – o amor –, encontra-se o exercício moral e o aprendizado destinados a cada ser imortal.

Assim como em seu romance, o amor pode conduzir a jornada de muitas pessoas. Existe alguma forma de se controlar essa poderosa energia chamada amor?

O sentimento pleno do amor é a meta de todos. O apóstolo Pedro, em sua Primeira Carta, 4:8, enalteceu que o amor cobre a multidão de pecados. Não há como contestar o dileto seguidor do Cristo. O que se deve fazer é utilizar o crivo da razão e verificar quando esse amor descamba para o descontrole e a invigilância acerca dos envolvidos e o momento que se vive.

Como o Espiritismo pode auxiliar-nos quando estamos diante de uma paixão que nos turva os sentidos?

Orai e vigiai, não existe resposta mais profícua, assim recomendou-nos Jesus.

Na apresentação de A nobreza de um servo, o sociólogo Nicola José Frattari Neto explica a importância dos romances para o espiritismo. Ainda existe preconceito com relação a este gênero literário no meio espírita?

Eu compreendo que não. Escuto muitos leitores que apontam a preferência pelo teor romanceado. O romance tem o seu lugar destacado em qualquer processo literário. O escritor Machado de Assis foi meu autor preferido na época da adolescência. Existem gostos variados, sabemos disso. O prezado Nicola Frattari, com seus livros publicados, nos ofertou a sua contribuição para outras vertentes espíritas.

Na sua opinião, um romance pode, sim, ser considerado obra doutrinária? E como isso deve ser avaliado?

Com certeza, haja vista as aulas cognitivas que os leitores obterão com os romances da Trilogia Yvonne Pereira e como se deve proceder para evitar equívocos e/ou comprometimentos de ordens passionais. A grandiloquente série histórica da autoria do espírito Emmanuel, através da mediunidade de Francisco Candido Xavier, remonta-nos às épocas pretéritas com rompantes, disputas, dissensões e ricas histórias nos aspectos de sentimentos verdadeiros – me refiro ao surpreendente livro Renúncia.

Deixe uma mensagem para quem nos lê agora

A mediunidade deve respeitada no sentido lato da palavra.

A boa leitura eleva o homem.

A assimilação pela boa literatura será capaz de alavancar o nosso progresso moral destinado ao orbe terrestre. Autores sérios e comprometidos com os seus deveres em retribuir aos leitores as melhores mensagens a eles afiançadas, têm-nos ofertado preciosas obras, através dos escritos direcionados ao bem comum, assim como os seus labores literários continuarão a nos premiar com valorosos textos e de cunhos espiritualizados. Aqui não comento apenas as obras espíritas: Refiro-me aos   livros com propostas enobrecidas, os quais deverão preponderar e alavancar a nossa humanidade terrena em direção a um futuro mais harmonizado com a fraternidade universal.