Esta semana foi de pesar para o Brasil.
A morte do ator e humorista Paulo Gustavo, após longa luta contra a covid, e o ataque bárbaro a uma creche em Santa Catarina que vitimou cinco pessoas (entre elas três crianças) causou comoção e questionamentos sobre mortes prematuras e perdas em geral.
Já tratamos neste artigo que o espiritismo, ampliando o entendimento sobre o destino das almas após a morte, traz claramente a maior consolação que se pode ter para o enfrentamento de um drama como esses: a morte não existe e os laços sinceros permanecem sempre!
Entretanto, principalmente para quem desconhece os princípios espíritas, a desencarnação de crianças ou jovens sempre nos parece contrária à lei natural, porque achamos que o normal seria que os pais, os mais velhos, morressem primeiro.
Cada experiência é única
Em seu livro A morte sem mistérios, o juiz de direito aposentado Donizete Pinheiro lembra que “por mais doloroso que seja para os pais, o fato deve ser encarado dentro dos ditames da justiça divina, que não falha nunca. Cumprida a curta existência, o espírito irá se preparar para outra, agora em melhores condições”.
Segue o autor explicando que a “conformação diante do fato irreversível é necessária à paz interior e ao prosseguimento com a vida, que não cessa, nos convidando a outros aprendizados”.
Donizete Pinheiro também destaca um ponto importante: “Morrer em virtude de acidentes, homicídios ou calamidades naturais quase sempre tem uma conotação expiatória. Quer dizer: quem assim morre está depurando o espírito em razão de crimes ou viciações do passado, desta ou de outras vidas”.
E chama a atenção para o fato de que “pouco importa se a morte é individual ou coletiva, porque a experiência de cada espírito é sempre única e as consequências igualmente serão personalíssimas, levando-se em conta a ficha de débitos e méritos de cada um”.
Um marco em nossa existência
Claro que os espíritas compreendem isso bem, e seria falta de sensibilidade querer que os familiares de Paulo Gustavo, das vítimas da creche e, em geral, dos mortos pela pandemia, aceitem suas perdas naturalmente.
“De modo bem abrangente, podemos entender as perdas como marcos em nossa existência, que podem nos promover a uma condição evolutiva mais avançada, na medida em que temos que mobilizar-nos e lançar mão de nossos recursos pessoais a fim de superá-las. Diante delas, temos a sensação da perda dos referenciais nos quais alicerçávamos nossas vidas”, esclarece a psicóloga Francislene Magda da Silva em seu livro Encarnação – passagem para a felicidade.
Ensina também a autora que “para lidar de modo salutar com as perdas, precisamos fazer um autoexame bem acurado a fim de identificarmos a representatividade da perda, auscultando sentimentos, crenças, temores, dependências, supervalorização e, principalmente, perguntando-nos sobre nossa fé e sobre nossa confiança em Deus, na vida, no semelhante e em nós mesmos, enquanto centelhas divinas que somos”.
Acionar nossa centelha divina
Para Francislene, “o verdadeiro alicerce que nos sustenta a estrutura está em nosso íntimo, e é a certeza de que estamos, constantemente, amparados pelo poder de Deus, que nos criou a sua imagem e semelhança. Portanto, capazes de fazer brilhar nossa luz, expressar nossa força e nossa capacidade de superação e transformação.
E assim, nesse momento em que a dor e a insegurança se fazem presentes, vamos acionando a centelha divina que se expande nos iluminando internamente, ajudando-nos a perceber potências da alma pouco exploradas, tais como a criatividade, a oportunidade de ampliar nosso olhar sobre a vida e descobrir que podemos ser fraternos, que necessitamos ser humildes, que necessitamos ser responsáveis e autônomos na realização de nós mesmos e assim contribuir para a realização daqueles com os quais estamos convivendo momentaneamente, já que o ir e vir das reencarnações nos lança o tempo todo a novos encontros e situações existenciais”.
E encerra seu texto convocando o leitor a “aprender enquanto estamos juntos, para que, com estas vivências salutares em nosso arquivo pessoal, possamos continuar juntos, mesmo estando separados momentaneamente”.
Aqui, Francislene faz coro com Donizete, que em seu livro acima citado, relembra que “como imortais, mais cedo ou mais tarde voltaremos a nos encontrar, no mundo espiritual ou em outras reencarnações”.
E Donizete escreve algo muito tocante para aqueles que ficaram: “A experiência da perda traz aprendizados para a alma. Talvez conquistar independência; ou valorizar a amizade e o amor, porque tudo que nos acontece tem uma finalidade educativa. Deus não seria todo amor e justiça se a morte fosse uma punição para nos fazer sofrer de saudade e de solidão” (grifo nosso).
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