Aos amigos de verdade nunca dizemos adeus, mas até breve. Nesse dia claro, com poucas jangadas no mar azul de Fortaleza, com muitas flores no meu jardim, o que me trouxe de volta borboletas e passarinhos, disse meu até breve silencioso a mais um amigo que partiu para a velha pátria espiritual.
Não faço estardalhaço com a morte. Nem sequer utilizo este conceito, pois a trato como transferência, viagem ou qualquer outra palavra com cheiro de eternidade. Por isso, silenciosamente disse meu até logo, direcionando ao seu espírito o quantum de energia que reservo apenas para pessoas que tocam meu coração.
Foi Cajazeiras dar continuidade aos trabalhos interrompidos quando deixou o plano dos desencarnados. É sempre assim. Quando alguém parte de um plano aporta em outro, o mesmo onde deixara suas afinidades. Por isso não anuncio seu desencarne, mas seu renascimento no plano espiritual, onde seus amigos se preparam para recebê-lo sem os pesares típicos dos encarnados, que geralmente só lembram de seus benfeitores quando sentem que já não podem mais receber de seus valores.
Francisco de Assis Carvalho Cajazeiras (1954/2020), médico, espírita, escritor, era um velho amigo de doutrina espírita. Por muitas vezes estudamos juntos e participamos de reuniões espíritas destinadas à pesquisa científica.
Certa feita, dentro de um carro, pois íamos fazer palestras no interior do Ceará, soube que ele estava escrevendo um livro e indiquei a Editora EME, de Capivari, para que ele fizesse contato. Foi assim que foi acolhido como membro da generosa família dessa editora.
Escolheu ele para partir o dia 13 de maio, dia em que se comemora o livramento dos escravos no Brasil, um dia consagrado à liberdade. Parte o homem, ficam as lições. O arado que ele empunhava será manuseado por outros, pois as lições precisam ser ministradas e a beleza espírita que enche de luz os salões dos centros espíritas sinaliza que a orquestra da caridade, dirigida do alto pelo maestro Jesus e seu ajudante Kardec, deve sempre continuar. Para nós, velho amigo, distância não quer dizer afastamento.
Mais um pouco e eis que nossas mãos se tocarão sem medo de vírus ou de contágios. Será como nos velhos tempos, o brilho da alegria e a mansidão da paz.
LUIZ GONZAGA PINHEIRO, professor e escritor com mais de duas dezenas de livros publicados pela Editora EME, reside em Fortaleza (CE)