No decorrer da História, para a maioria de nós, a guerra era uma certeza, enquanto a paz era usufruto momentâneo e frágil.
Jamais teríamos compreendido as doze Leis Morais¹ trazidas pelos Espíritos, pois, para nós, só existia a “lei da selva”, numa perspectiva darwiniana da existência.
Quando políticos, generais, homens de negócio e cidadãos comuns faziam planos para o futuro, sempre deixavam em aberto a possibilidade de uma guerra, da mesma forma como nós condicionamos um passeio “caso não chova”. Da Idade da Pedra, há poucos séculos, nos quatro cantos da Terra, cada um de nós sabia que, a qualquer momento, nossos vizinhos poderiam invadir nosso território, derrotar nosso exército, chacinar nosso povo e ocupar nossa terra.
Açúcar e pólvora
Mas à medida que o século XX foi avançando, na maior parte das regiões, as guerras tornaram-se raras. Enquanto nas antigas sociedades agrícolas a violência humana foi a causa de 15% de todas as mortes, atualmente é a responsável por apenas 1% da mortalidade global².
Estamos vivendo o momento histórico em que o açúcar é considerado mais perigoso do que a pólvora. Na verdade, para um segmento cada vez maior da humanidade, a guerra se tornou inconcebível. Pela primeira vez na História, quando avaliamos o futuro, não pensamos na guerra como um acontecimento provável. A possibilidade do uso de armas nucleares num confronto transformou ideia da guerra num ato insano de suicídio coletivo e isso forçou as nações da Terra a encontrar meios alternativos e pacíficos de resolver conflitos.
Simultaneamente, nas questões econômicas, as premissas materiais passaram a perder cada vez mais espaço para o conhecimento. Antes, as principais fontes de riqueza eram os recursos materiais, como minas de ouro, campos de trigo e poços de petróleo. Hoje, a principal fonte de riqueza é o conhecimento. E isso é um sinal importante que indica um movimento de progresso da Terra na hierarquia dos mundos.
A paz possível
As nações podem conquistar poços de petróleo numa invasão, mas não se pode conquistar conhecimento dessa maneira. Desde que o conhecimento se tornou o mais importante recurso econômico, a rentabilidade da guerra declinou, e as conflagrações tornaram-se cada vez mais restritas a certas regiões do mundo – como o Oriente Médio e a África Central – onde as economias ainda são antiquadas, baseadas em recursos materiais.
Atualmente a palavra paz tem um significado diferente do que no passado. Em gerações anteriores – ou reencarnações anteriores –, aprendemos a ver a paz como a consequência temporária da guerra, algo como “hoje há paz, amanhã não se sabe”. Mas nos dias atuais a entendemos como a impossibilidade da guerra.
Hoje, é cada vez mais difícil que focos de conflitos se mantenham “isolados”, sem a interferência internacional a favor de uma rápida pacificação.
O espírita atento
Em consulta aos Espíritos superiores³, o Codificador recebeu como orientação que a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual, deixando transbordar as paixões, leva o homem a esses conflitos armados tão severos. Uma barbárie que só reconhece o direito do mais forte acha o estado de guerra normal.
Explicaram ainda que a redução das guerras é um sinal claro de progresso e, mesmo quando ocorrem, são menos desumanas, e que a tendência natural é que venham a desaparecer, como observamos na análise dos fatos, pois nos elevamos na compreensão da justiça e na prática das leis divinas. Mas, infelizmente, apenas no calor das batalhas e da escravidão é que pudemos entender o valor da liberdade e do progresso. Ainda serão necessárias muitas encarnações para que os culpados por esses conflitos globais expiem todos os assassinatos que causaram.
O espírita precisa estar atento às notícias para que não seja arrastado por uma torrente de sensacionalismo que lhe afete o entendimento sobre o que Espiritismo vem ensinando desde a Codificação: a impossibilidade de a violência tomar conta do mundo e a vida piorar. Mas nem precisávamos necessariamente dos estudos doutrinários para chegar a essa conclusão. Basta que tenhamos em mãos um bom livro de História.
JULIANO P. FAGUNDES no livro Às portas da regeneração (Texto adaptado)
¹ O Livro dos Espíritos, Terceira parte.
² War in Human Civilization, de Azar Gat (Oxford: Oxford University Press)
³ O Livro dos Espíritos, Questões 742 a 745.