Progresso de leitura

Quando os fenômenos de materialização atingiam o ponto alto nas famosas sessões com Peixotinho, Carlo Mirabelli, Ana Prado e Otília Diogo, um solerte repórter participava desse seleto grupo de estudiosos e observadores. O saudoso Nedyr Mendes da Rocha, dedicado servidor nas lides da USE-SP, era o obstinado repórter fotográfico, interessado em captar tais fenômenos nas lentes da sua câmera.

O legado de Nedyr, desencarnado em junho de 2010, é significativo tanto para o movimento de unificação em terras paulistas quanto no campo da pesquisa científica. Graças ao seu trabalho, um excepcional acervo documental e fotográfico sobre materializações está hoje disponível na internet e também em um livro da Editora EME, O fotógrafo dos espíritos.

Na centena de slides que compõem o acervo de Nedyr, vemos as figuras de Chico Xavier e Waldo Vieira interagindo com espíritos materializados. É compreensível e natural o interesse desses médiuns pela fenomenologia de efeitos físicos, já que eles eram igualmente portadores deste tipo de faculdade.

Mas, como bem asseverara o mentor Emmanuel, aqueles fenômenos, conquanto importantes ao estudo e investigação científica, cederiam maior espaço aos de efeito inteligente, capazes de promover, com maior rapidez, o progresso moral da Humanidade. Dizia o espírito que as materializações, embora retumbantes e extraordinárias, não produziriam impacto maior que as páginas consoladoras vindas do mais além.

Emmanuel estava certo. Nem as mesas girantes, que abalaram os salões parisienses no início da segunda metade do século 18 ou as levitações de Daniel Dunglas Home, tampouco as fotos do espírito Katie King, materializado ao lado de William Crookes, poderiam superar as carícias e bem-aventuranças da imortalidade cantada por aqueles que choramos na Terra.

Com efeito, Chico Xavier passaria desde então a dedicar-se mais inteiramente à psicografia, o que viria resultar em mais de 400 títulos, incluindo centenas de cartas ditadas por espíritos a seus entes queridos.

Se os livros pontificam a obra de Chico Xavier, como o best-seller Nosso Lar, transformado em filme de sucesso, as cartas psicográficas não ficaram menos célebres. Só no ano do centenário de nascimento do médium, dois filmes trataram do tema: o documentário As cartas psicografadas por Chico Xavier, de Cristiana Grumbach, e As mães de Chico Xavier, dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes.

E por quê?

Páginas de poetas do quilate de Castro Alves e Antero de Quental, enfeixadas na magistral obra Parnaso de além-túmulo, deslumbraram o mundo, mas não deixaram de provocar críticas enciumadas da academia e até mesmo a cobiça de herdeiros interessados em supostos direitos autorais.

Mas como enganar o coração de uma mãe, que lê nas entrelinhas e identifica até mesmo o perfume do filho amado? Existiria para esses corações consolo maior do que o de reconhecer vivo aquele que ficara sob a lápide fria? Como duvidar, diante de tantas evidências e elementos comprobatórios?

Dizem que é mais fácil nos resignarmos com a morte dos pais, mas que não suportamos a partida dos filhos. Sobretudo quando estes se vão no esplendor dos verdes anos! Talvez por isso mesmo tenham sido tão importantes as cartas que foram reunidas em livros como Jovens no além, Voltaram mais cedo, Somos seis e tantos outros.

Um livro, também da Editora EME, abordou o drama de uma família campineira ante a morte do filho Alexandre Barbutti. Em Na maior das perdas – a divina consolação, Regis de Morais apresenta as mensagens ditadas pelo jovem estudante da Unicamp, que desencarnou praticando exercícios físicos. “A morte é a vida em outra moldura”, escreveu o jovem aos pais numa das suas cartas.

Assim, reafirmando o que anteviu Emmanuel, os fenômenos poltergeist continuarão intrigando os céticos e confundindo os orgulhosos, e a ciência haverá de avançar novos degraus na investigação da realidade post mortem, ainda que lentamente. Mas as mensagens de além-túmulo, dos que nos antecederam, consolando e demonstrando a vida imortal, permanecerão como poderoso farol, na noite escura, a guiar as almas para Deus.

 

*RUBENS TOLEDO é jornalista e diretor de Comunicação na USE São Paulo. Produz e apresenta o programa A Vida Continua (www.avidacontinua.org.br). Na Editora EME, atua como revisor e colabora na avaliação e preparação de originais.

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