Sete histórias de pecados
MÔNICA AGUIEIRAS CORTAT é assessorada em sua mediunidade por uma equipe de espíritos amigos liderados por Ariel. Após o sucesso de Nas trilhas do umbral, agora a equipe vai enfocar os sete “pecados capitais” em uma nova saga literária.
É este o tema desta entrevista com a médium, confira!
Como surgiu a ideia de Sete histórias de pecados?
A ideia vem de meu mentor, que vai me mostrando as imagens, as histórias. Se eu acredito na condenação eterna por conta desses pecados, como o italiano Dante Alighieri descreveu em “A Divina Comédia”, na qual ele os coloca em nove círculos distintos, conforme a gravidade deles? Não… a eternidade é tempo demais, e o sofrimento do espírito depende dele mesmo. E ninguém pode ser definido como apenas um Glutão, ou Irado, ou Preguiçoso! Pessoas são muito mais do que rótulos, mas acredito que os espíritos quiseram mostrar como algumas atitudes, tão comuns em nosso plano Terrestre, podem causar a nossa infelicidade e nos afastar de Deus.
Qual o motivo para tratar estes temas?
Desmistificação de algumas ideias infundidas ao longo dos séculos, como a danação eterna, o mito de um Deus que sempre está disposto a punir pelo menor erro humano, cheio de ressentimento, fortalecer o poder do livre-arbítrio e da responsabilidade que vem com ele.
Se o espiritismo não adota a concepção do pecado tal qual o fazem as religiões cristãs, o que estas histórias podem acrescentar ao conhecimento doutrinário?
Nosso material doutrinário é excelente, escrito no século XIX, foi muito à frente de seu tempo! Mas algumas pessoas o interpretam de uma forma muito pessoal, inserindo neles valores que herdaram de seus vínculos familiares ou ainda de outras vidas. Ser espírita é acima de tudo, ser Cristão! Sabedores de outras vidas, como julgar nosso semelhante? Esses “pecados” são, acima de tudo, vícios de comportamento, e muitos deles estão conosco em nosso dia a dia! Não somos perfeitos, estamos em constante evolução!
Um ser humano que se perde na ignorância do mal, atrai para si o mesmo campo vibratório, e as histórias dos romances nos mostram esse tipo de tragédia! Não são poucas as crenças espalhadas pela Terra que afirmam que colhemos o que plantamos… colocar a “culpa” num Deus vingativo, ou no extremo mal, pode ser confortável, mas a verdade é que temos que começar a mudança em nós mesmos.
Mesmo assim, ainda existem espíritas que aceitam a teoria de “pecado”. Por que isso acontece?
Somos um país católico, tivemos avós católicos, sabemos da influência dos espíritos da nossa vida cotidiana. Acredito que usem a palavra “Pecado” se referindo mais como um desvio de comportamento, mas não como fonte de condenação eterna.
Também ainda hoje o conceito de “castigo de Deus” é muito forte, mesmo no meio espírita. Como o espírito pode se libertar desse dogma?
É triste ver pessoas nivelando o Criador ao nível humano, tão pequeno e tão mesquinho, como se Ele fosse compreensível a seres como nós, ainda na infância da evolução! Pequenos grãos de areia na praia que olham para as estrelas, tentando minimizar o infindável Universo…
Deus não castiga, Ele ensina e espera a nossa evolução! Nós é que nos perdemos em atitudes errôneas, buscando coisas que não nos fazem falta e nos esquecendo de fortalecer o nosso espírito em valores que trazem a nossa felicidade. Pode ser fácil culpar Deus, mas a consequência de nossos atos virá da mesma forma. Talvez por isso a vingança seja tão desnecessária! Cada qual sabe do peso e da leveza dos seus dias.
Tal qual o aluno que gosta de estudar vê a lição com bons olhos e o que não gosta vê as mesmas lições com sofrimento, assim também somos nós diante das provas e expiações?
Sim. Mas é muito difícil chegar ao nível daquele que vê as provas que a vida manda sem sofrimento… a mãe que ama e perde um filho, se não crê na continuidade da existência, pode sofrer com a saudade e questionar a validade de sua vida. O moço saudável que descobre estar com uma doença terminal, pode se revoltar com a perda da saúde e questionar a Justiça Divina. São casos extremos de sofrimento, que podem ser apaziguados apenas pela fé e o conhecimento de que nada se finda aqui, que estamos apenas de passagem, e que com o fim do corpo, o espírito voa, livre, e retorna ao seu verdadeiro lar!
Quando estiver passando por uma prova de sofrimento, tão comum em nossas vidas, pergunte-se: “O que Deus quer que eu aprenda com isso?”, você verá que conforme o sofrimento se vai, as respostas aparecem. Se você ficou mais forte, generoso ou paciente, é sinal de que aprendeu algo!
O certo é a pessoa dizer: eu passo por uma expiação ou eu sofro uma expiação?
Podem passar ou sofrer, depende muito da pessoa. Eu me lembro de duas pessoas em situações curiosas que vi faz pouco tempo: estava na porta do supermercado uma senhora de seus cinquenta anos, com uma pequena placa ao lado pedindo uma cesta básica. Não pedia para nenhuma instituição, era para a própria família! As roupas e os sapatos estavam um pouco gastos, mas eram limpos e de razoável qualidade, via-se que provavelmente era uma mãe de família que estava pela primeira vez em tal situação e estava raivosa e incomodada, evitando olhar para as pessoas, tanto que os outros pedintes estavam ficando longe dela. Aquela mulher estava sofrendo uma expiação, sua revolta era nítida, e eu acredito que para ela foi uma situação bastante dura.
Por outro lado, vindo de Uber com minha filha passamos por um sinal onde um homem, de pequena estatura, chegou até nossa janela, com umas pequenas cestas amarradas ao tronco magro, que era todo cheio de sorriso e alegria, e nos ofereceu balas para comprar. O homem não tinha braços! Brincou com o motorista, simpático como ele só, uma energia benéfica saia dele, que mesmo com a recusa do motorista, continuou sorrindo e brincando, indo rápido para o outro carro, trabalhando com a maior alegria debaixo de um sol de janeiro! Aquele homem, tão abençoado, estava passando por uma expiação. Me alegrou o dia!
Todas as nossas atitudes contrárias à Lei de Deus merecerão reparações futuras ou podem ser consideradas pela Espiritualidade Maior apenas como equívocos no campo da experiência?
Acredito que vale o que está no coração humano, no momento de seus erros! Se foi um engano, como tal será tratado. Somos imperfeitos, estamos aqui em continuo aprendizado, e se pudermos aprender pela observação e não pela dor do sofrimento, melhor será! Cada caso é diferente de outro, e cada ser humano é responsável pelas suas ações ou omissões, mas existem, é claro, alguns equívocos!
Um ser que é prisioneiro de sua própria Ira pode prejudicar a vida de diversas pessoas num rompante que levou apenas alguns minutos. Não é o que faz um assassino, violento e egoísta, quando desfere o golpe que mata? Quem lhe deu tal direito, do sofrimento da família da vítima, e do espírito ofendido, que pode pedir por vingança? A soberba estava presente, em sua forma mais maldosa, e ele colherá os frutos disso: boas pessoas irão se afastar naturalmente dele, assim como os bons espíritos, e ele atrairá pessoas com valores parecidos! O estranho seria acontecer o contrário, e a Espiritualidade Maior terá em vista sempre a evolução deste espírito, que ao seu próprio tempo, por seu livre-arbítrio, será guiado para a sua própria evolução.
Mas o espírito da vítima pode ser evoluído o suficiente para seguir em frente, decidir não revidar, e de forma alguma terá a obrigação de viver eternamente com um laço com seu ofensor. Agindo assim ele acelera sua evolução, se desfaz de um entrave que poderia prejudica-lo, e segue o seu caminho. Seres maldosos não vão para o Inferno, eles já estão em um!
E o que dizer para as pessoas que acreditam que os “pecados” são sempre uma forma de influência de espíritos inferiores?
É confortável colocar a culpa nessa influência somente, assim como dizer que um religioso pode nos absolver de todos os nossos pecados, e nos tornar puros! Eu respeito a fé alheia, claro que existem a influência de espíritos inferiores, alguns até bem resistentes e maldosos, inimigos de outras existências, sofredores que gostam de fazer sofrer! A humanidade não está cheia de pessoas prejudicando umas as outras? Por que desencarnariam e se tornariam santas? Elas são o que eram em vida! Só que boa parte delas entra em seu pensamento, te influencia sem você notar, usa a sua energia e os seus fluídos vitais!
Obsessores estão espalhados por toda a parte, tiram vantagem de sua “invisibilidade”, e costumam influenciar sim. Mas, a resposta final, vai ser sempre sua, e de mais ninguém!
Usando um exemplo do “Pecado da Inveja”: as vezes um pensamento maldoso, sobre uma determinada pessoa invade seus pensamentos. Você tenta afastar esses pensamentos, lembrando-se das qualidades da mesma pessoa, ou continua incentivando os pensamentos negativos? Para um obsessor que começou com o pensamento, é um prato cheio! Se você dá ouvidos e incentiva pensando mal de seu semelhante, em vez de exercitar a sua caridade, ele vai ficar ali durante um bom tempo, colocando inclusive outros pensamentos negativos em sua mente! Se não der ouvidos e desejar o bem à pessoa que ele atacou, ele se cansa, e vai embora! Quem quer ficar falando se não é ouvido? Você ficaria?
O Mestre Jesus nos pediu sempre para não julgar, amar ao próximo e para sermos cautelosos! Seguindo esses ensinamentos, fica mais simples! Uma boa oração afastando esses pensamentos perniciosos, incluindo pedir pela iluminação de espíritos sofredores, também ajuda!
O primeiro Sete história de pecados aborda a ira, a preguiça e a avareza. Dentro do conceito espírita, você teria como dizer qual destes seria o pior?
O personagem da Ira era filho único de pais abastados, logo, crescendo cercado pelos empregados do pai, sendo agradado por todos os lados, a Ira não se manifestava. A única pessoa que o enfrentava era quem o sustentava, não era conveniente agredir ao pai. Seu ato desvendou muito de seu caráter, de seus valores morais, e sua atitude posterior confirmou o seu destino. Nunca conheceu uma pessoa que tenha uma reação inesperada, fora do comum? Assim é a Ira, acompanhada pelo egoísmo e a soberba.
Já o preguiçoso do livro é um manipulador nato, que se julga merecedor de todas as regalias, e acredita que merece muito mais consideração do que todos que o cercam. Ainda que o sustentem da melhor forma, ele julga seus fornecedores como se tivessem a obrigação de servi-lo, tornando-se um vampiro das vidas alheias, e usando a “culpa alheia” com maestria, infernizando os que o incitam ao trabalho. Viver com ele, por mais que o ignore, é um tormento! E como “cabeça vazia é a oficina do Diabo”, claro que a coisa se complica.
Já o avarento me surpreendeu pelo aprendizado que tive com ele! Era um homem que duvidava da existência de Deus, mas morria de medo do Inferno, contraditório como ele só! Era de fato avaro, mas isso vinha de vidas passadas, trauma passado por um período de fome severa! Sim! Levamos conosco sentimentos e características de outras vidas!
Teimoso, ranzinza, impossível, ainda assim ele nada deixou faltar aos seus filhos! Admitia os seus erros, amou e foi amado por sua caçula! Recebeu o castigo de Deus por sua avareza? Claro que não! Mas ele mesmo acabou se castigando por conta de seus próprios erros e crenças equivocadas… como é importante esclarecermos as pessoas que a vida depois da passagem segue, que Deus nos aguarda, que há redenção!
O mais nocivo deles? Dadas as consequências, o da Ira. Com qual eu não conseguiria viver muito tempo? O Preguiçoso… a vida é muito preciosa para desperdiçar o nosso tempo!
Quando identificamos em nós uma destas características, como devemos agir para combatê-la? Como o conhecimento espírita pode ajudar nesta mudança?
Acredito que a maior parte de nós já teve momentos de vários desses “pecados”, em maior ou menor grau. Somos imperfeitos, erramos, mas também existe em nós a chama da mudança, da redenção! A culpa que nos assola quando agimos de forma prejudicial na realidade demonstra que a nossa alma já percebe o caminho certo a seguir, existem pessoas tão desprovidas de luz, que nem empatia sentem!
Agiu mal hoje, faça diferente amanhã! Desculpe-se, siga em frente, não existe ser humano que nunca tenha errado! O conhecimento espírita nos consola, mas também nos enche de responsabilidade!
Um espírita deve se abster de julgar ao próximo, ainda que tenha uma vida presente sem máculas. Ele sabe da multiplicidade das vidas passadas, e com isso, sabe que nelas podem existir erros que ele já cometeu. Aliás, aqueles que mais julgam o próximo hoje em dia, não costumam ter uma vida assim tão “imaculada”!
Quem estuda a doutrina também sabe da mediocridade existente numa série de preconceitos que ainda imperam em certos corações. Como ser racista, se reencarnamos em diversas raças? Como ser misógino ou machista, se podemos reencarnar em qualquer sexo? Como discriminar alguém por pertencer a uma diferente classe social, se mesmo em apenas uma vida pobres podem se tornar ricos, e vice-versa? A matéria é tão provisória! A doutrina é libertadora, e mesmo hoje, brilha além de seu tempo!
Agindo dessa forma, com caridade e amor ao próximo, já conseguimos ao menos dominar alguns desses comportamentos que nos arrastam para a infelicidade.
Como poderíamos distinguir o limite entre o amor próprio e a avareza?
Acredito que o excesso de amor próprio tenha mais em comum com a Vaidade do que com a Avareza. Se o avarento tivesse o comportamento das pessoas com muito amor próprio, gastaria dinheiro com ele mesmo, mas ele não gastava quase nada com ele, embora não deixasse nada de essencial faltar aos seus! O que ele tinha, na realidade, era pavor de ficar sem dinheiro, só se sentia em segurança poupando o máximo que podia, juntando todo valor que conseguisse, pois acreditava com segurança que tendo dinheiro seria melhor tratado e respeitado pelas pessoas, o que no fundo não deixa de ter um pouco de verdade! A sociedade não trata bem as pessoas destituídas de fortuna. Sabe quem costuma se irritar com o avarento? Aqueles que tentam ter alguma vantagem financeira com ele…
Apenas a Avareza, caso não explore ninguém, não cause dano a outros, não negue socorro a sua família ou a si mesmo, não é assim tão grave. Se uma pessoa trabalha duramente e decide poupar, mesmo sendo um tanto mesquinho, leva uma vida mais triste, mas é uma escolha dela! Está longe de ser como o Irado ou o Preguiçoso, cujo amor próprio muitas vezes extrapola os limites, e prejudica os que vivem à sua volta. Não gosta de sua atitude? Não seja sustentado por ele! O maior prejudicado pelo engano da Avareza, é o próprio avarento!
Já o segundo volume de Sete história de pecados aborda a gula. Quando é praticada por puro prazer, a gula torna-se nociva ao ser humano?
Quem nunca conheceu um “guloso” encantador, bonito, simpático, inteligente e até generoso? Eles amam o prazer da comida, e temos que comer para sobreviver! É complicado, mas a gula em si, assim como o excesso de peso, se não for mórbido, só prejudica a própria pessoa. A vida quando encarnado na Terra pode ser complicada, com isso, muitas pessoas buscam compensações, então aparecem os vícios, formas de compensar ou fugir dos percalços que a existência nos traz. Somos frágeis, alguns vícios tem causa genética, e nenhum deles é bom. Mas, o prazer da gula pode se tornar nocivo e até causar mortes, o diabetes abrevia o tempo das pessoas todos os dias, mas como é bom degustar um doce!
No segundo romance temos duas irmãs tão diferentes no físico quanto no caráter, sendo a mais velha um tanto gulosa. Quem dera fosse só esse o problema, dona de um desvio de comportamento grave, o narcisismo, a fome da bonita Inês vai bem além da comida, embora ela não abra mão de sempre ter por perto seus doces e biscoitos. O resultado de suas ações vai delineando sua vida, como acontece na vida de diversas pessoas que apresentam esse tipo de comportamento.
O que os leitores podem esperar nas próximas “histórias de pecados”?
Toda vez que começo um romance tenho a mesma expectativa do leitor, como me mandam as imagens, escuto os diálogos, eu nunca sei o que vai acontecer. Dos já findados eu posso adiantar que me deram aprendizados bem valiosos, e me mostraram a enormidade da dor que mora no coração dessas pessoas que desejam o mal ao próximo, agindo de forma egoísta ou desonesta.
Nunca ouviram alguém dizer que “o inferno é aqui mesmo”? Para pessoas com maus instintos, é assim que funciona! E eles não entendem e muito menos apreciam boas pessoas, as acham tolas, sortudas, ou fracas, e ficam irritadas com elas! Não conseguem entender um ato de solidariedade desinteressada, seus dias são de desconfiança e destempero. Os livros mostram as consequências desses atos, incluindo depois da passagem, quando o mundo espiritual desvenda a verdade em seus pensamentos.
Mas, eles mesclam nisso também a redenção, lembram dos ensinamentos do Cristo, de que a eternidade é tempo em excesso para qualquer punição. Os sentimentos amor também são mostrados com a sua força única e benéfica, as vidas anteriores vão sendo desvendadas… nada é por acaso, tudo tem um motivo! E todos possuem o livre-arbítrio na medida de sua evolução!
A Espiritualidade Maior decide por aqueles que ainda não possuem o discernimento para o seu melhor desenvolvimento, mas na medida em que o ser evolui, ele vai decidindo em conjunto, sempre com o amparo de carinhosos irmãos! Não existem caldeirões do Inferno, mas novas chances planejadas por seres cheios de amor!
Espero ao menos poder ter passado isso, com as histórias mandadas: a vida do ser que combate esses “vícios de comportamento”, é infinitamente mais feliz do que as dos que se entregam a eles. Gente com bons sentimentos também sofre em sua estada pela Terra, com ingratidões, traições e maldades de forma em geral, mas eles dormem tão melhor! Não passam pelo tormento da Inveja, conseguem descartar as mágoas e quando notam que não são compatíveis com os comportamentos mesquinhos que os cercam e atrapalham o seu desenvolvimento, hoje em dia, dado o desenvolvimento da Terra, podem se afastar! Espíritos devem ser livres para praticar o bem e evitar futuras tragédias! Alguém lhe fez mal, não se vingue, afaste-se! Não crie laços futuros que podem ser ainda mais danosos… viva alegre e em paz!
O Paraíso e o Inferno caminham dentro de cada um de nós, todos os dias!
Luz e Paz!