Progresso de leitura

 

Depender de uma profissão é uma forma menos odiosa de escravidão do que depender de um pai.

(Virgínia Woolf)

 

Eu vejo o trabalho como uma bênção, e minha curta existência atual, 70 anos, foi pontuada por muitas atividades, desde o menino vendedor com cesta na rua – verduras e maçã, boia fria no corte de cana e apanhador de algodão –, até vendedor de raspadinha, escritório de contabilidade, administrador no banco e editor de livros.

E até os dezoito anos tudo que ganhava tinha que entregar ao meu pai. Família extensa, com dez irmãos, todos tinham que contribuir.

História de abuso e sucesso

A vida das mulheres nos últimos dois milênios foi primeiro oprimida pelos pais, e, depois, pelos maridos que as subjugavam, porque eles eram os detentores da renda familiar.

Virginia Woolf foi uma escritora, ensaísta e editora britânica. Sofria de depressão, iniciada aos treze anos. Sofria também abuso do meio-irmão.

Obteve sucesso com seus livros. O romance Mrs. Dalloway é um dos mais conhecidos. Entretanto, seu texto Um teto todo seu é um ensaio feminista que expõe o caráter dominador masculino e a situação de opressão em que, historicamente, a mulher estava inserida.

O trabalho não era uma coisa boa para Virgínia, mas ela o considerava menos odioso (sentia revolta ou ressentimento do pai) do que a mulher depender do benfeitor/pai, que para ela foi, em parte do tempo, opressor e tirano.

Cometer erros

“Um pai sábio deixa que os filhos cometam erros”, disse Mahatma Gandhi.

E, claro, se mantém próximo para orientar, se precisarem de amparo.

Por mais assustadora que a frase pareça, por que devemos deixar que nossos filhos errem? Porque errar é aprendizado, persistir no erro é ignorância, e os filhos precisam se convencer de não ter medo de errar, seja no estudo, no trabalho, nos relacionamentos, nos empreendimentos.

Contidas no aprendizado, crianças e adolescentes se transformam naqueles adultos sem atitudes e que só reclamam, que não gostam do emprego, do lugar onde moram ou do casamento em que entraram e no qual se sentem infelizes. Muitas e muitas vezes não fazem nada para mudar, são inseguros e não sabem tomar decisão. E assim acabam sendo comandados por outros, que tomam as decisões em seu lugar.

Em nome do Pai

Sem autor identificado, encontrei este texto e fiz uma adaptação para finalizar nosso artigo, lembrando que ninguém vem a este planeta sem pai – mesmo que seja de proveta, teve um pai que deu uma sementinha:

“Gratidão ao meu pai e também ao seu pai; a todos os pais, aqueles encarnados na Terra e os desencarnados, no Céu espiritual; os pais de paz e os de guerra; os pais que assumiram e os pais que sumiram; os pais que voltaram e os pais que nunca nos viram; os pais que são cegos e os que veem demais; o pai que é mãe e a mãe que é pai; o pai que lê livro e o pai que não lê nada; o pai brigão e o que conta piada; o pai que a gente ajuda e o que dá mesada; o pai elegante e o pai desajeitado; o pai viajante e o que não sai. Em nome do seu, do meu e de todos, Pai Nosso, muito obrigado por escolher ser pai”.

 

ARNALDO DIVO RODRIGUES DE CAMARGO, diretor da Editora EME