Imprensa espírita, compromisso com a verdade

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Progresso de leitura

Reclamada por uns e desprezada por outros, a função crítica da imprensa espírita é atividade pouco ou quase nada exercida. Às vezes só acontece esporadicamente. E aqueles que se aventuram a exercê-la quase sempre recebem por prêmio uma silenciosa condenação. São vistos como obsediados, vaidosos, incentivadores da desunião, inimigos da unificação.

A própria crítica tem suas curiosidades. Quando ela serve aos interesses de uns, recebe destes o apoio. Quando os alcança, é por estes condenada. Ao notar o espiritismo ridicularizado pelos meios de comunicação, parcela considerável dos meios espíritas clama por medida; ao ridicularizar o Espiritismo com interpretações e comportamentos exóticos, esta mesma parcela, se criticada, se arma para combater os críticos.

A crítica é boa quando atende interesses; é nociva quando os fere. Se um livro ruim surge nas hostes espíritas, logo aparecem aqueles que pedem sua condenação. Mas se os livros forem por eles mesmos escritos, ai de quem os criticar.

Entre nós, a crítica do pensamento costuma ser vista como crítica ao pensador; a análise da produção mediúnica é tida como agressão ao médium; e a crítica ao comportamento de uma instituição é tida como crítica à própria instituição. O conceito de concessão divina vige com muita força em nossas hostes. Por imaginar existir segundo decisão divina, boa parte das nossas instituições não admite crítica contra elas, porque, no fundo, entendem a crítica como dirigida ao poder que lhes concedeu o mandato.

Fé espírita, a aliada da razão

Andamos de mãos dadas com a humildade; exalçamo-la com veemência em nossas preleções públicas. Ela, porém, não se encontra suficientemente fortalecida para impedir que se tenha reações bruscas diante da simples notícia da crítica.

Admite-se práticas espíritas duvidosas na própria casa; na casa dos outros, não! É que nos meios em que estamos, tudo é feito por obra divina e o divino em nossas hostes não erra. Nas hostes alheias é diferente…

A fé espírita é aliada da razão; nisto todos estão de acordo. Mas quando a razão se insurge contra os excessos do sentimentalismo e a manutenção da ignorância é recebida como inimiga. E como tal tratada!

Pode-se escrever coisas duvidosas, em livros e na imprensa. Pode-se até mesmo difundir interpretações adversas ao conteúdo doutrinário e alcançar com isto milhões de pessoas. Tudo é permissível. Mas a crítica que busca repor estas malversações da informação é vista como a agressão injusta.

“Quem não é digno da verdade entrega-se à mentira”

Em teoria, a doutrina é postada no mais alto dos pedestais; na prática, o homem fica com a casa, pois sucumbe ao poder que esta confere. Filho e construtor dela, herdeiro do mandato divino, age na convicção de que o apontamento de qualquer falha nela existente pode ferir-lhe de morte. Por isso, resolve postar-se na defesa da casa, eliminando a fonte da crítica.

E quando nada mais resta para combater a crítica, alegam que a imagem da doutrina está sendo ferida, além movimento. Exigem, portanto, o silêncio, pois, assim, as nódoas internas não serão conhecidas pelos adversários; eis a capa das aparências, culturalmente adquirida no passado.

A imprensa espírita tem compromisso com a verdade. Onde quer que ela seja vilipendiada, nos nossos meios ou além-fronteiras, deve ser defendida. Para recordar Herculano Pires, “quem não defende a verdade traída e conspurcada pela mentira não é digno dela. E quem não é digno da verdade entrega-se à mentira”.

Poucos são amigos da verdade…

Por tudo o que foi dito acima, cumpre esclarecer que os amigos da verdade não devem esperar nem tolerância e menos ainda misericórdia dos próprios companheiros, quando o dever lhes impuser a defesa da verdade no movimento. E precisa desconfiar sempre dos bajuladores. Poucos são verdadeiros amigos da verdade e, portanto, de quem a defende.

A experiência demonstra que há mais fraqueza do que coragem, ainda entre nós. Nas sombras se movimentam com grande desenvoltura muitos corações, dizendo-se seguidores da verdade, novos soldados do bem, trabalhadores da última hora; quando, porém, se torna preciso vir à luz e mostrar o peito aberto para o combate, fogem. Não desejam ferir amigos, nem causar mal estar a ninguém. São viris, sim, mas a linha de frente não é para eles…

Quantos não se fazem incentivadores de batalha; quantos não providenciam até as armas, limpas e conferidas para uso imediato; mas quanto a participar, preferem o anonimato. É mais tranquilo, menos comprometedor. Afinal, é preciso manter amigos de ambos os lados. Como diz o Eclesiastes: “Vaidade, vaidade, vaidade; tudo é vaidade”.

O amigo da verdade está, desde cedo, condenado a viver na solidão; seus aliados serão os poucos, que lhe conhecem o caráter, e os Espíritos Bons, que sabem da sua honestidade de propósitos. É difícil, portanto, a decisão de ser amigo incondicional da verdade e enfrentar conveniências, interesses e toda sorte de indiferenças.

Omissão, aliança com a mentira

A boa imprensa espírita, porém, não tem escolha. Ou é defensora da verdade ou se faz aliada da mentira. Não defender a verdade é a pior das posições de qualquer imprensa, principalmente a espírita. A omissão é uma aliança com a mentira. E tão danosa quanto a mentira. Omitir a verdade é concordar com a distribuição da má informação (que é também mentira) e silenciar ante os milhões de corações que são iludidos por ela.

Somente os caracteres fortes são amigos da verdade!…

WILSON GARCIA no livro Sinal de vida na imprensa espírita