Um pai que trabalha fora, uma mãe que fica em casa cuidando dos filhos, e que, assim que terminam os estudos, casam-se e saem de casa. Se essa é a sua família, saiba que ela está virando peça de museu. Nos últimos 30 anos, o modelo tradicional de família sofreu profundas alterações. Muitas crianças acostumaram-se a ter duas casas por causa do divórcio dos pais. Mães e pais solteiros começaram a tornar-se comuns. Mulheres entraram no mercado de trabalho e passaram a sustentar suas casas. Casais homossexuais encaram a sociedade e adotam filhos… E, nas próximas décadas, a tendência é que esses novos modelos familiares se consolidem. Todos eles.
Família Modelo
Isso quer dizer que não vai existir uma “família-modelo” como a de nossos pais ou avós. No começo do século passado, as famílias eram quase sempre iguais. O núcleo era patriarcal: o pai fazia as vezes de “homem da família”, trabalhava fora e era o único responsável pelo sustento da mulher e dos vários filhos. À mãe cabia o papel de educadora dos filhos e “rainha do lar”. Ela cuidava da limpeza da casa, do preparo das refeições, da educação das crianças. Os filhos cresciam, estudavam e saíam de casa assim que arrumavam o primeiro emprego – para casar-se e repetir a mesma história, mais uma vez.
Mas, nas últimas décadas, o conceito de família começou a se alterar profundamente.
Ao mesmo tempo, as famílias nos moldes tradicionais devem continuar encolhendo.
Adaptação da família
A família é universal e tem diversas funções. Atende a necessidades econômicas, uma vez que é muito mais fácil manter-se com ajuda de alguém; tem função afetiva, já que é uma espécie de ancoradouro dos indivíduos; e tem função social, pois é através dos laços que formam uma família que o tecido social fica coeso. E isso tudo não vai mudar. A família tem a capacidade de se adaptar ao momento histórico.
O novo Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 2003, é um reflexo da mudança comportamental da família. A começar pela definição de família. No antigo Código, de 1916, a família legítima era a formada pelo casamento formal. Já no novo conjunto de leis, o conceito abrange as unidades familiares formadas por casamento, união estável ou comunidade de qualquer genitor e descendente.
E ainda temos as famílias compostas por pais ou mães homossexuais. Tais núcleos costumam se enquadrar em uma das três situações seguintes: pessoas que assumem a homossexualidade depois de um casamento heterossexual no qual tiveram filhos; homossexuais que adotam filhos e mulheres homossexuais que fazem inseminação artificial. Embora esse fenômeno ainda não tenha sido dimensionado no Brasil, acredita-se que a situação seja similar à dos Estados Unidos. Lá, 22% dos casais homossexuais têm a guarda de seus filhos. E, um fenômeno atual e bastante curioso: há uma espécie de luta entre os componentes de um casamento homossexual para que ele seja reconhecido como família, nos moldes dos casais tradicionais, na medida em que tentam ser um casal que apresenta as funções masculina e feminina, paterna e materna, na manutenção do status quo, e não algo diferente.
Família: União e afeição
Do ponto de vista psicológico, os amigos podem ser vistos como uma família que não existe. Do ponto de vista espiritual, família é um termo amplo que pode designar tanto as relações consanguíneas quanto as relações de afinidade.
Nos próximos anos, no entanto, poderemos ter novos paradigmas, que estarão aí para serem questionados novamente.
No entanto, para os espíritas, não importa qual seja a configuração familiar à qual participemos, Allan Kardec é muito claro ao nos ensinar que os espíritos formam, enquanto desencarnados, grupos ou famílias, unidos pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Estes Espíritos, felizes de estarem juntos, se buscam, seguindo juntos durante a encarnação, reunindo-se numa mesma família ou num mesmo círculo, trabalhando juntos para a evolução mútua. A união e a afeição existente entre familiares e parentes são o indício da simpatia anterior que os aproximou.
Dessa forma serve o lar para ambiente educacional para todos que nele se reúnem; por isso, se devemos ter o máximo de cuidado ao constituir uma família, maior cuidado ainda deveremos ter quando intentamos em desfazê-la, pois essa é uma situação que poderá demandar ainda outras encarnações para ser resolvida por completo. Apesar de poderem ser rompidas durante a temporada em que passamos na carne, normalmente as relações familiares são retomadas no mundo espiritual, onde entendemos em que ponto falhamos em nossas relações e nos programamos para retomá-las em outra encarnação.
JULIANO P. FAGUNDES no livro Às portas da regeneração (adaptado)