Nascido na cidade de Jundiaí (SP), RODRIGO CÉSAR MIRANDA é casado e pai de duas filhas. Estudioso ativo e palestrante bastante requisitado, Rodrigo é diretor fundador do Centro Espírita A Caminho da Luz, também em Jundiaí, no qual exerce o cargo de vice-presidente. Renovando sentimentos e emoções é seu primeiro livro, sobre o qual ele nos dá maiores detalhes na entrevista a seguir.
Como conheceu o espiritismo?
A partir de uma viagem à casa de meus avós, em janeiro de 1997. Na antiga rodoviária de Jundiaí, fui à uma banca do livro espírita e adquiri a obra “No Mundo Maior”, do espírito André Luiz através da psicografia de Chico Xavier. Durante a viagem de mais de oito horas eu praticamente li toda a obra e quando retornei da viagem iniciei o estudo da Doutrina, no Centro Espírita Operários da Verdade, de minha cidade.
Frequenta ou trabalha em instituições espíritas? Como se chamam?
Sou diretor-fundador do Centro Espírita A Caminho da Luz, de Jundiaí-SP, fundado em 04 de agosto de 2001.
Como a mediunidade auxilia nos seus livros e como ela auxilia em seu cotidiano?
Como bem asseverou o codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, todos somos mais ou menos médiuns. A mediunidade não deve ser avaliada para determinadas horas somente, numa sala de atividades na Casa Espírita, mas uma verdade e uma realidade para ser vivida a todo instante. Esse apoio espiritual superior, para toda obra que pretenda auxiliar seu próximo, sem segundos interesses ou intenções, passa a merecer o estímulo dos benfeitores da vida maior, através da intuição e forças renovadas para a obra.
Possui outros livros publicados, além deste lançado pela Editora EME?
Não, este é o meu primeiro livro e muito agradeço essa oportunidade a Jesus, aos amigos espirituais e a Editora EME.
Qual a principal motivação para escrever Renovando sentimentos e emoções?
Reuni trinta sentimentos e emoções doentes, que tantas lágrimas e dores tem nos sujeitado ao longo dos milênios, para sobre eles refletirmos buscando uma nova construção. Conhecermos o que se passa em nossa intimidade, identificarmos nossos pontos vulneráveis e vislumbrarmos caminhos renovadores para um estado íntimo saudável são os principais objetivos propostos. Diante da dificuldade em encontrar uma obra que catalogasse uma relação mais ampla de sentimentos, verifiquei que poderia ser útil registrando os estudos efetuados.
Alguém o incentivou a desenvolver este trabalho?
Sim, minha família, os amigos mais próximos da Casa Espírita e alguns companheiros que acompanham nossas reflexões e solicitaram registrá-las num livro quando fosse oportuno.
Teve alguma surpresa ou dificuldade para realizar o livro? Quais?
Ao longo dos anos fui reunindo o material, revisando os textos e ampliando os estudos através de fontes seguras vindas pela mediunidade de Chico Xavier e Divaldo Franco. As autorizações das diversas editoras, detentoras dos direitos autorais das obras citadas sempre se mostrou oportuna e a autorização de forma cordial. Numa época economicamente desafiadora, o lançamento deste livro para mim é uma verdadeira benção do alto.
Faça uma resenha sobre Renovando sentimentos e emoções. O que deseja transmitir aos leitores e o que eles encontrarão neste livro?
Procurei contextualizar sentimentos e emoções que possuímos e que muitas vezes nos desequilibram por não sabermos lidar com eles. Procurei relacioná-los às nossas experiências do dia a dia; algo prático, factível, para repensarmos nossas atitudes e agirmos em maior conexão com Deus.
Na introdução de Renovando sentimentos e emoções você fala em aproveitar os dias atuais para empreender uma nova construção evangelizada e nos reconectarmos a Deus. Como fazer isso diante do medo e da incerteza causados pela pandemia?
Compreendendo o objetivo espiritual desta prova que passamos. Fomos convocados à uma reestruturação completa em nosso ser. Nossa essência é espiritual, somos espíritos numa experiência corporal. Houve um chamado maior para nos repensarmos intimamente e definirmos nossos passos evolutivos, deixarmos tantas ilusões e vivermos como espíritos conscientes na Terra. Temos uma grande oportunidade de despertar o ser espiritual que somos e esperamos que este livro seja um auxiliar na identificação do que sentimos, apoiando nosso crescimento espiritual.
Como o espiritismo pode contribuir neste reencontro com Deus?
O espiritismo nos auxilia a reconhecermo-nos como filhos de Deus, herdeiros de seu Amor, criados com potenciais espirituais incríveis que são atributos permanentes nossos a se desenvolverem através de nossos próprios esforços. O livre-arbítrio, a consciência, o pensamento, a vontade e o amor nos assinalam a individualidade e, quando sublimadas, nos aproximam do Pai.
Em Renovando sentimentos e emoções você aborda uma série de temas atuais. É difícil aplicar o conhecimento espírita em assuntos do dia a dia?
Pelo contrário, os ensinamentos espíritas podem e devem ser aplicados nas mínimas coisas, nas pequenas atitudes. A gentileza na fila do supermercado, no bom dia ofertado ao vizinho, na fala de esperança com o companheiro de trabalho, no conselho dado aos filhos, no contato fraterno e amoroso com o cônjuge, na identificação do pensamento que nos nutre. A falta de atenção é que muitas vezes nos faz perder essas oportunidades de sintonia superior. Um exercício diário, reflexivo, possibilitará esse estado de alerta moral permanente.
O espiritismo tem contribuído para um fortalecimento da espiritualidade em nossa sociedade?
Passadas as fases de curiosidade e expansão, agora estamos no momento de renovação social, que partirá sempre de cada um, uma vez que o convite é sempre individual para este despertar. Uma pessoa renovada em sua espiritualidade passará a influenciar o seu próximo. Um homem, uma mulher voltada para o bem e para os valores da alma fortalecerá sua rede de relacionamentos com esse vigor. O espiritismo nos amplia a visão do mundo com uma nova perspectiva, com novo entendimento e mais amplo valor.
Muitos acham que a pandemia vai mudar o comportamento humano para a melhor. Você compartilha desta visão?
Minha visão é sempre de esperança em relação a este momento, sabedor, no entanto, que dependerá de cada um o aproveitamento da lição.
E quais os fatores básicos para planejar nossa reforma íntima?
Procurarmos nos conhecer mais detidamente; identificar os nossos “pontos de risco”, nossos pontos vulneráveis favoráveis à queda; desenvolvimento de um projeto no bem que nos sustente a vibração elevada e a conexão com o alto.
Por que os espíritas tem tanta dificuldade em persistir em sua reforma íntima, apesar de todas as informações que recebe a respeito?
Nos dizeres de Militão Pacheco, no livro O Espírito de Verdade, temos sido constantes na inconstância e fiéis à infidelidade ao longo do tempo. Pouco conscientes e raramente empenhados na renúncia, temos feito a opção pelas paixões e prazeres, alimentando nossos tormentos. Não basta a informação elevada e superior, que temos tido há pelo menos dois mil anos com a vinda de Jesus à Terra, fazendo-se necessário, agora, a compreensão que promova a mudança.
Para se alcançar a reforma íntima, é imprescindível ser espírita ou mesmo conhecer a doutrina espiritista?
Jesus informa que a bondade do Pai faz com que o sol se levante sobre bons e maus e que a chuva desça sobre justos e injustos, mostrando que a misericórdia e amor de Deus são para todos. Logo, a doutrina espírita não pode ser o único caminho para o indivíduo se renovar e chegar ao Pai, que sempre oferece muitas estradas. Jesus afirmou “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, direcionando aí um roteiro que todo indivíduo interessado em sua reforma efetiva deve perseguir. O conhecimento espírita constitui-se, no entanto, em um recurso de alto valor, que poderá acelerar o processo quando efetivamente for sentido e vivenciado. Assemelha-se a casa edificada sobre a rocha da verdade.
Na introdução de Renovando sentimentos e emoções você fala sobre a transição do planeta Terra para mundo de regeneração. Como você analisa esse importante momento para a Humanidade?
No capítulo 18 do livro A Gênese, no item “Sinais dos Tempos”, Allan Kardec fala da fase em que vivemos. Trata-se de um momento turbulento, de decisão para todos os espíritos vinculados ao nosso planeta: avançarmos para a regeneração ou mantermo-nos sob o domínio do egoísmo e orgulho, que caracteriza o mundo de provas e expiações. É como se estivéssemos com um pé no barco da luz e outro no das sombras, devendo cada consciência optar por um, com risco de cair nas águas e se afogar. Como o homem velho ainda fala alto em nossa intimidade, os hábitos arraigados desde tempos imemoriais ainda se apresentam e a luta para a vitória sobre nós mesmos deve ser definidora nestes dias. Muitos espíritos estão tendo as últimas oportunidades reencarnatórias neste orbe e as lutas se intensificam, bem como as polarizações – bem e mal – moral e imoral – se mostram acentuadas. Não poderemos alegar responsabilidade de terceiros neste processo e cada um dará conta de sua administração ao término da jornada. Conscientes disso, eis o momento de agir no bem, utilizarmos das preces para angariarmos forças e energias superiores e cada dia renovarmos o propósito de vencermos a nós mesmos.
Muitas pessoas confundem a ideia da transição com o dogma do juízo final. Como explicar esta diferença?
Não concebemos um extermínio da raça humana ou a destruição física do nosso planeta, mas a eliminação do mal e da impiedade no coração humano que, regenerado em suas bases, viverá em harmonia com o próximo e consigo mesmo.
Por que até mesmo alguns espíritas acreditam e temem o juízo final? O sentimento de culpa pode ser a causa deste medo?
São ideias que permanecem no inconsciente do indivíduo face as múltiplas vivências reencarnatórias e a dificuldade de se liberarem de determinados conceitos oferecidos pelas doutrinas dogmáticas. Importante reforçar que sim, o sentimento de culpa, o remorso, a constatação do tempo perdido nas faixas da vingança, do ressentimento, da mágoa, fazem muitas vezes com que o indivíduo procure fugir do encontro consigo mesmo. Encarnados podem tentar abafar a consciência e a realidade, mas cedo ou tarde identificam que ninguém foge de si mesmo e que a morte inevitavelmente os alçará ao reino da verdade, do qual não escaparão.
De que maneira a filosofia espírita pode colaborar para esta regeneração?
Os alicerces espíritas dão base segura a mudança individual e aos poucos também ao crescimento coletivo. Quando um indivíduo se conscientiza sobre si mesmo diante da lei da reencarnação e dos destinos, de sua imortalidade e progresso ininterrupto, da responsabilidade diante das escolhas e suas consequências através da lei de causa e efeito, da força de seu pensamento e comunhão constante com os espíritos pelas leis de afinidade, que a vivência na Terra de dores e vicissitudes é uma benção que Deus concede aos seus eleitos e que somente a caridade é a senha para adentrarmos aos píncaros espirituais ele está em vias de se regenerar. Um homem regenerado é melhor filho, melhor pai, melhor esposo, melhor trabalhador, melhor membro da sociedade e influenciará uma multidão ao longo de sua vida.
Individualmente, como podemos participar dessa transformação e fazer a diferença no círculo em que vivemos?
Jesus nos chama individualmente, faz seu sublime convite de coração para coração. Temos um poder transformador no meio em que nos situamos e mudar o nosso mundo íntimo é o que conseguimos controlar, o que está em nossas mãos. O que pensamos, falamos e como agimos está sob nossa responsabilidade. Desta forma já podemos dar esperança aos desalentados, consolar os sofredores, amparar os fracos, vibrar pelo próximo e socorrer os enfermos da alma que muitas vezes se encontram na condição de um familiar querido.
Em Renovando sentimentos e emoções você também fala sobre o “momento oportuno para fixarmos novas memórias identificadas com o pensamento de Jesus”. Como seria este processo à luz do espiritismo?
Como espíritos vindos de muitas existências voltadas para atendermos nossas paixões, fixamos nossas memórias nos quadros do poder, da posse, do prestígio e do prazer. Vibrações deste teor foram fixados em nosso corpo espiritual cujas consequências vivas ainda mantemos. Temos, no entanto, hoje a oportunidade de novas construções evangelizadas, novas telas mentais a serem fixadas no serviço com Jesus, sem interesse pessoal. Cada atitude nobre, cada coração que auxiliarmos, cada vitória sobre um tormento facultará um novo capítulo no livro de nossas vidas. A ação do bem, as harmonias do belo e do superior fixam novas telas sublimadas em nossa memória, como uma fotografia registrada. Desta forma embelezamos nosso corpo espiritual que ganha leveza, sutileza fluídica.
Qual a importância do estudo sobre a personalidade e os atos de Jesus para o espírita?
De acordo com a questão 625 de O Livro dos Espíritos, Jesus é o modelo e guia da humanidade. Espírito crístico, veio nos ensinar e serviu como sublime modelo de vivência do amor e da verdade. Seus exemplos são vivos e nunca passarão e nos momentos tempestuosos, nas experiências mais desafiadoras teremos sempre em Jesus o modelo a nos espelharmos.
Será que não é exigir muito de nós mesmos, limitados que somos, adotar Jesus como paradigma em busca da evolução?
De forma alguma. Jesus sempre será o modelo a ser vislumbrado. Ninguém oferece uma lição para alunos que nunca a compreenderiam; desta forma Jesus nos ofereceu a dois mil anos lições que devemos nos esforçar para efetivarmos também. Nos perguntemos diante das situações que nos chegarem: o que faria Jesus? E se procedermos como nos recomenda o Mestre, atendendo seu evangelho, teremos a nossa consciência aprovando a atitude e resolução tomada.
Como podemos “resgatar” as habilidades que Jesus afirmou estarem em nós e que se encontram, digamos, num estado de latência?
Estimulando-as em nós. Pequenas atitudes devem ser valorizadas, diminutas resistências e vitórias efetuadas devem ser registradas. O primeiro passo pode ser o mais difícil, mas, vencida a resistência inicial, o segundo se faz mais natural, até entrarmos no ritmo. Divaldo Franco afirma que era muito difícil acompanhar a doença do Chico. O dinamismo de Chico Xavier era intenso, percebendo muitas possibilidades de se fazer útil, como o verdadeiro homem de bem…mas isso foi construção também ao longo dos séculos. Temos que iniciar esse processo e não pararmos ou estacionarmos até a vitória final, que nos facultará múltiplas formas de cooperarmos com Deus na grande obra de sua criação.
Que mensagem deixaria para quem nos lê agora?
É possível mudarmos nossas vidas para melhor, nos transformarmos intimamente e superarmos os sentimentos doentes que nos tornam infelizes e geram nossas dores. Assim como Maria Magdala, Zaqueu, Paulo de Tarso, nós também podemos resplandecer nossos potenciais e fazermos brilhar a nossa luz. Tenhamos muita esperança nos dias que seguem, nos mantenhamos em nossos postos de serviço no bem e agradeçamos a Deus a infinita honra e oportunidade de estarmos na Terra nos dias que seguem, pois são grandes oportunidades para nossa redenção. Aproveitemos o tempo que temos e se o passado nos oferece remorsos e culpas, lembremos que o amor cobre multidões de nossos erros e abracemos o serviço ao próximo como fonte que dessedenta e oferece vida.