JORGE SINCORÁ DOS SANTOS é mineiro de Juiz de Fora. Casado, pai de três filhos, é formado em Direito. Fortes laços com o espiritismo o conduziram ao mandato mediúnico. Nesta entrevista, ele nos fala sobre Jules e Francine – Um amor além da Vida, seu novo romance. Confira:
Qual a principal motivação para escrever Jules e Francine – um amor além da vida?
Os romances que escrevo são resultado da inspiração de meus amigos espirituais. Aliás, nenhum encarnado, por mais brilhante que seja, pode ousar afirmar que suas criações, seja no campo da ciência ou da literatura, por exemplo, são oriundas simplesmente de sua inteligência e de seu conhecimento. Escrevi esse romance em razão de uma irresistível vontade de relatar acontecimentos na França do século 17 no reinado de Luís 14.
Em nossas incontáveis encarnações somos individualmente submetidos a experiências diversas e damos ensejo ao cumprimento da Lei do Carma, sendo certo que através dessas experiências, fazemos nossas renovações, uns mais, outros menos, mas como sabemos, o Pai jamais esquece seus filhos.
Se nossas experiências atravessam os séculos e se há oportunidade de retratá-las, quem sabe para ajudar aqueles que por diferentes motivos retardam seu adiantamento, porque não fazê-lo? Em cada época em que vivemos os fatos ficam registrados, podendo ser objeto de análises, comparações e conclusões.
O que o leitor encontrará neste romance? Faça-nos uma resenha do livro.
Três espíritos envolvidos entre si há muitos séculos, reencarnam na França de Luiz 14 para viverem numa época em que a violência, o orgulho, o desprezo pelos humildes e o desrespeito à mulher, formavam o cenário de fundo. Os personagens centrais da história são Jean, Jules e Francine, todos nobres franceses na Corte de Luís 14. Jean e Francine são casados, união essa decorrente de um compromisso celebrado entre duas importantes famílias. Jules vem a conhecer o casal e se tornam amigos. Jean parte para a guerra e pede a Jules que proteja Francine. Os jovens se apaixonam. Praticamente a drama se desenvolve a partir daí.
Quais os fatores básicos para planejar nossa reforma íntima?
Vou responder a essa pergunta começando com uma frase de Emmanuel: “ O pastor conduz o seu rebanho, mas são as ovelhas que andam com as próprias pernas”. A reforma íntima é o remédio muitas vezes amargo que se deve tomar para alcançar o sucesso de nossa melhora interior. Penso que devemos começar pela nossa auto crítica, pois somente por meio dela poderemos praticar atos isolados no dia a dia para nos tornar melhores para nós mesmos e para nossos semelhantes. Conhecer a si mesmo, como ensinava o Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho. Tomando conhecimento do erro e aceitando-o, sabemos que não podemos apagar o seu registro, mas podemos aprender com ele, começando por nos arrepender sinceramente e a partir daí praticar o bem, fazer o alinhamento com a lei do amor.
Quais são as dificuldades de ser persistente na reforma íntima?
As dificuldades estão no fato de estarmos vivendo no chamado “Mundo de César” com as suas inumeráveis atrações, que atuam contra nossos sentidos e que arrefecem a luta contra nossas más tendências. A advertência de Jesus consubstanciada na expressão “Orai e Vigiai” precisa estar sempre presente em nós.
A evolução rápida ou lenta depende de cada ser. É possível que nem todos possam usar o livre arbítrio da mesma forma?
O livre arbítrio ou manifestação da livre vontade deve ser exercido com responsabilidade. Ele nos foi concedido pelo Pai para que pudéssemos fazer nossas escolhas, sendo certo que somos responsáveis pelo resultado. O livre arbítrio foi outorgado a todos nas mesmas condições. Somos os seres inteligentes da Criação e o que nos identifica é a nossa individualidade. A evolução rápida ou lenta depende evidentemente de nós mesmos e de como exercemos nosso livre arbítrio.
Todas as nossas atitudes contrárias à Lei de Deus merecerão reparações futuras ou podem ser consideradas pela Espiritualidade Maior apenas como equívocos no campo da experiência, mesmo que nós tenhamos plena consciência de nossos erros?
A Lei do Retorno ou de Ação ou Reação, não importa o nome que se atribua, é reflexo das palavras de Jesus no sentido de que a cada um se dará consoante as suas obras, ou seja, ações. Não há exceções, nem privilégios. Como se costuma dizer, o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Essa lei é imutável ou inexorável e tem caráter geral, ou seja, aplica-se a todos.
Ainda hoje o conceito de castigo de Deus é muito forte, mesmo no meio espírita. Como se libertar desse dogma?
O domínio das consciências pelo medo foi o grande mal forjado pelo homem. A desconstituição do Cristianismo Puro ao longo do tempo, contribuiu incontestavelmente para esse resultado, com a imposição da fé cega. O conceito a que se referiu, realmente ainda está presente nos meios espíritas. Vejamos um exemplo extraído d’ O livro dos espíritos, resposta à pergunta 657, no final do texto: “…e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito. “A interpretação literal desse texto conduz à conclusão de que Deus nos cobra pelos nossos atos e omissões, o que sabemos não ser verdade. Expressão também ainda muito presente é – ser temente a Deus. A crença do Deus punitivo está cristalizada em um incontável número de mentes. Por ser considerado ponto fundamental indiscutível de qualquer doutrina, o dogma tem como fator negativo e prejudicial, a circunstância de não permitir a livre manifestação de vontade do indivíduo, pelo que deve ser considerado como obstáculo ao exercício do livre arbítrio. No tocante à indagação formulada, penso que a forma de libertação é compreender e ter certeza de que nenhuma fé pode ser imposta e aceita cegamente, eis que somos os seres inteligentes da Criação, dotados, portanto de raciocínio e de poder de decisão para a prática de todos os atos da vontade. Daí o princípio da chamada fé raciocinada. Na medida em que o Espiritismo for se consolidando nas mentes como a Terceira Revelação divina que efetivamente é, a doutrina espírita irá colhendo os frutos dos ensinamentos trazidos pela boa nova, que procura difundir com amor e com firmeza.
Em Jules e Francine – um amor além da vida percebemos que a consciência é o mais rigoroso censor. Quando nos pegamos com um sentimento de culpa, significa que é a consciência que está sinalizando uma infração nossa à Lei de Deus?
O reconhecimento do erro e a sua correção são reflexo da censura que faz nossa consciência. Lembra da reflexão recomendada por Agostinho de Hipona para ser feita ao fim de cada dia vivenciado? Esse procedimento, se adotado com sinceridade, permite que o indivíduo examine cada ato praticado diariamente no convívio com seus semelhantes e conclua se o que fez ao outro poderia ser feito a ele mesmo. Devemos viver alinhados com as leis divinas. A infringência a essas leis será denunciada pela própria consciência.
A reparação de uma falta pode ser compulsória ou o arrependimento é imprescindível?
A reparação da falta é compulsória, com arrependimento ou não. Somente a reparação voluntária da falta depende do arrependimento de quem a cometeu.
O mergulho interior, na tentativa de compreender a própria dor, livrando-se o indivíduo da culpa, o livra da reparação?
A reparação é indispensável. Evidentemente a forma e o meio como se dará, pode depender do comportamento do indivíduo a partir do momento em que reconhece o erro e trabalha para não repeti-lo.
Como eliminar os efeitos do sentimento de culpa do psiquismo humano?
Não gosto de falar em sentimento de culpa, que é um grande mal que nos assola. A culpa é um veneno na vida de qualquer pessoa, sendo que não serve para nada. Ela nos atormenta, nos angustia e nos invade. É de conhecimento que a culpa é liberada quando assumimos responsabilidade pelo dano causado, ou seja, reconhecemos o erro cometido. Não temos que proceder dessa forma. Já pensaram que viver dominado pela culpa não nos transforma numa pessoa melhor? Como muitos dizem, assumir a responsabilidade pelos danos reais ou imaginários causados é o correto caminho para superar essa faceta do sofrimento. E aqui voltamos a Santo Agostinho. “ Conheça-te a ti mesmo”. Vamos lembrar que o pecado não existe. Como diz com propriedade José Lázaro Boberg, o chamado pecado decorre da falta de informação. Na proporção em que vamos aprendendo e nos alinhando com as leis divinas, o cometimento do erro vai diminuindo até que finalmente irá desaparecer. Devemos entender que o erro é parte integrante do processo evolutivo. A culpa é danosa para o espírito e se não é eliminada, seguirá como sua acompanhante nas futuras encarnações. A partir do momento em o indivíduo se conscientizar de que os erros do passado não podem ser simplesmente apagados, esse pernicioso sentimento será definitivamente eliminado do psiquismo humano. Aí está a importância da Reforma Intima ou Renovação de Atitudes. Reconhecer o erro, arrepender-se e seguir em frente. O que fizemos ontem está registrado. O que fizermos hoje produzirá as consequências amanhã e assim a vida segue. E disse Jesus: “ Nem eu te condeno; vai-te e não peques mais…”.
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Meus irmãos e irmãs, a cada experiência na carne, ao retornar à pátria espiritual o espírito deixa aqui todos os bens que lhe foram emprestados. O seu único bem, que é intangível e jamais lhe será tirado, é o conhecimento. Guardem-no com muito carinho. E quanto à doutrina espírita, vamos lembrar que Kardec com a sua codificação não esgotou a matéria e quero encerrar com a frase de Herculano Pires, escrita com a simplicidade que o caracterizava e que um dia espero poder colocar na minha malinha: “Ninguém é professor de espiritismo. Todos somos aprendizes, todos.”
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