DONIZETE PINHEIRO foi Juiz de Direito por trinta anos, aposentado desde 2013, é pai de três filhos e avô de dois netos. Pela Editora EME publicou Respostas espíritas entre outros. Seu novo livro, O cristianismo nos romances de Emmanuel, é o resultado de uma pesquisa feita pelo autor nos romances do guia espiritual de Chico Xavier. Nesta entrevista, ele nos fala um pouco mais a respeito, confira:
O que o motivou a escrever O cristianismo nos romances de Emmanuel?
Há algum tempo tenho me interessado pelo cristianismo primitivo e ministrei dois cursos com essa abordagem. Se o espiritismo é o cristianismo redivivo, é importante que conheçamos as nossas raízes com mais profundidade, para que possamos valorizar as bênçãos que Deus nos oferece à evolução espiritual e, portanto, à felicidade. Quem ler os romances de Emmanuel com atenção, vai perceber que ele nos apresenta diversos aspectos históricos e informações espirituais, com uma certa cronologia dos acontecimentos. Conhecer a saga dos cristãos primitivos é emocionante e fortalece o nosso ideal espírita, para que possamos prosseguir aprendendo, vivenciando e divulgando o espiritismo.
O que deseja transmitir aos leitores com esta obra?
O meu propósito foi reunir numa só obra a sequência histórica do cristianismo com base no olhar de Emmanuel, pinçando as informações apresentadas nos quatro primeiros romances por ele nos transmitidos pelas abençoadas mãos de Francisco Cândido Xavier. Isoladamente, lendo cada romance, nem sempre o leitor consegue perceber essa linha do tempo e fazer uma ideia clara de como o cristianismo avançou e das lutas e sofrimentos enfrentados pelos cristãos, desde o retorno de Jesus ao mundo espiritual. Além disso, também quis que o leitor tenha uma percepção da ação espiritual nos acontecimentos e informações que avançam além da história narrada nos evangelhos e no livro atos dos apóstolos, do evangelista Lucas. Considero verdadeiras as informações espirituais do nosso irmão Emmanuel e as aceito incorporadas à história do cristianismo.
Qual o principal foco doutrinário deste livro?
Primeiro, que o cristianismo não se fez apenas pelo trabalho dos discípulos encarnados, mas que houve uma ação espiritual por trás, coordenada por Jesus e seus auxiliares diretos, com isso querendo que nós espíritas confiemos mais nos amigos espirituais, na orientação e inspiração do Alto no trabalho que nos compete na seara espírita, uma vez que o Espiritismo é a terceira revelação e dá continuidade ao trabalho de implantação do Reino de Deus na Terra. Segundo, que sejamos estimulados pela fé forte, pela coragem e pela determinação dos cristãos primitivos, que enfrentaram os contraditores e se afirmaram cristãos mesmo com o sacrifício da própria vida. Por fim, que o cristianismo nos inspire os sentimentos de fraternidade, solidariedade e de caridade, uns para com os outros, a exemplo de Jesus e dos cristãos primitivos, que souberam deixar de si e se entregar ao trabalho de socorro aos “filhos do Calvário”.
O que o leitor encontrará em O cristianismo nos romances de Emmanuel? Faça-nos uma resenha.
Um concentrado de informações, em ordem cronológica, de várias passagens da vida de Jesus, dos seus discípulos próximos e dos demais cristãos que se seguiram, até por volta do ano 260, começando com o Há dois mil anos e terminando com o livro Ave, Cristo! Há narrativas de fatos que podem ser encontrados no Novo Testamento, mas também o relato de ocorrências espirituais, muito elucidativas e que permitem se compreenda melhor aquilo que os evangelistas escreveram de forma sucinta ou incompleta. Emmanuel avança contando sobre os pensamentos e sentimentos íntimos dos personagens, circunstâncias que só poderiam ser conhecidas pelos registros espirituais. Foi necessário que eu fizesse um resumo dos romances das vidas contadas nos livros, para que o leitor compreenda o contexto e acompanhe a evolução dos fatos; com esse resumo, espero que o leitor se interesse e leia os romances originais, com os quais poderá se emocionar e se entusiasmar pelo assunto.
Além de conhecer melhor as raízes do cristianismo, o que mais podemos aprender com as reencarnações de Emmanuel?
Emmanuel é um espírito notável e tem um importante papel na divulgação do cristianismo e do espiritismo. Eu o considero o mais profícuo e completo estudioso do Novo Testamento, de todos os tempos, não só no aspecto histórico, mas em especial no seu conteúdo doutrinário e moral. Foi humilde o suficiente para narrar suas falhas na reencarnação como o senador romano Públio Lentulus, à época de Jesus, e sua vida é um exemplo de como podemos deixar a sombra interior e nos iluminarmos com o estudo e a vivência da Boa Nova. Soube ser o amigo e mentor do médium Chico Xavier, conduzindo-o com firmeza e disciplina, mas com amparo amoroso, na sua árdua e afanosa reencarnação dedicada à continuidade do trabalho de Allan Kardec.
De que maneira os conteúdos, as lições e os exemplos contidos nos romances de Emmanuel estariam articulados a um período de transição espiritual do planeta?
No início do romance Há dois mil anos, Emmanuel narra um sonho no qual fora informado de que reencarnaria numa época de maravilhosos fulgores espirituais, porque seria o tempo em que Jesus estaria na Terra. A Humanidade estava madura, preparada para conhecer o Deus de Amor que o Senhor nos apresentaria. Devemos ter consciência de que, com o Espiritismo, o consolador que Jesus disse que ia pedir ao Pai que nos enviasse, também estamos numa época de transição espiritual. Avançamos para o conhecimento da verdade, que ilumina a justiça e o amor, preparando-nos para um mundo novo, de regeneração, em que o bem preponderará sobre o mal.
Apesar de terem sido psicografados entre 1938 e 1953, tais romances podem ser destinados às pessoas que se encontram em processo encarnatório atualmente, tanto no Brasil quanto no mundo?
As obras de Emmanuel serão sempre úteis a quem deseje reler os tempos memoráveis do cristianismo primitivo com a visão da espiritualidade. Eu li os romances pela primeira vez quando ainda adolescente e só agora fiz um estudo aprofundado, com muito mais entusiasmo. Com certeza não nos trazem todo o conhecimento do cristianismo iniciante, porque os fatos são inumeráveis. Outros irmãos espirituais já nos fizeram outros relatos e novos podem até vir ao nosso conhecimento, mas com Emmanuel temos um panorama bastante importante e consolidado, que nos ajuda na compreensão dos fatos e nos estimula a ser melhores cristãos e mais dedicados espíritas.
Decorridos aproximadamente 300 anos da chegada da mensagem do Evangelho, suas lições e seus princípios começaram a ser modificados e desvirtuados. Por quê?
Conforme lemos no romance Ave, Cristo!, mesmo antes do ano 300 alguns convertidos começaram a deturpar o cristianismo, inserindo no movimento práticas judaicas e romanas, porque é da natureza humana ainda imperfeita adaptar as lições ao nosso modo particular de pensar e sentir a vida. Por isso, o cristianismo se tornou uma crença muito mais humana do que espiritual, divina. Mas o Cristo sabia que isso iria acontecer, daí a promessa do Consolador, já entre nós representado pelo espiritismo. Mas como continuamos sendo praticamente o mesmo “homem velho” dos tempos de Jesus, percebemos, aqui ou ali, num momento ou noutro, a mesma tendência de adaptar a doutrina à nossa interpretação e entendimento. No tempo certo, porém, o joio será separado e só o bom trigo será aproveitado como nosso alimento espiritual.
Mesmo adulterado, o que fez do cristianismo uma religião tão forte, a ponto de servir de base para a cultura ocidental?
A raiz forte, que é o amor, único e eficiente remédio para as nossas aflições. O eixo central dos ensinamentos de Jesus está baseado no amor e na vida futura, sem o que suas promessas de bem-aventuranças não teriam razão de ser. Allan Kardec, ao escrever O evangelho segundo o espiritismo, cuidou de anotar que se limitou aos ensinamentos morais de Jesus, sobre os quais não divergem as religiões. É a caridade uns para com os outros, a solidariedade e a fraternidade, manifestações diretas do amor apregoado por Jesus, que dão sustento às nossas vidas.
Qual a importância de se resgatar as raízes do cristianismo?
Para que o cristianismo possa ser vivido de fato na sua pureza, melhor entendido e mais bem aproveitado nas nossas vidas. Essa a tarefa a que se propõe o espiritismo: erradicar o joio da falsa compreensão, dos intermediários de Deus, das práticas exteriores e dos cultos desnecessários. Estabelecer uma verdadeira ligação do Criador com a criatura, para que o amor, a verdade e a justiça sejam cultivados no altar do coração.
A globalização enseja um ambiente propício para a união fraterna entre os povos conforme as lições e as exemplificações do evangelho?
Acredito que sim. O primeiro a ter essa compreensão e algo fazer para a globalização do evangelho foi Paulo, o apóstolo, que saiu a pregar entre os gentios, criando grupos e igrejas de novos adeptos por onde viajou por aproximadamente dez anos. Outros discípulos também se entregaram a essa tarefa, expandindo a Boa Nova entre vários povos. Era uma pregação amorosa, um convite ao amor. Infelizmente, ao longo do tempo, tentou-se impor o cristianismo pela espada, o que ensejou graves compromissos religiosos e uma repulsa a Jesus. Agora, com a globalização econômica e tecnológica, abre-se uma nova oportunidade de expansão da mensagem amorosa de Jesus, verdadeira, para a qual o Espiritismo tem dado a sua contribuição.
É neste sentido que se deve interpretar a expressão “nova era”?
Como se lê em O evangelho segundo o espiritismo, a nova era teve início com a apresentação da doutrina espírita à humanidade, o ingresso do nosso planeta na fase de regeneração. Reacendendo a pureza e a simplicidade proposta por Jesus, e a prática verdadeira da caridade, o espiritismo antecipa a proposta de um mundo em que o bem deve preponderar e no qual as pessoas se respeitarão fraternalmente. O cristianismo e nem o espiritismo necessariamente serão a única religião, mas os seus princípios certamente serão por todos vivenciados e veremos uma revolução amorosa no nosso planeta.
Que mensagem deixaria aos nossos leitores?
Que estudemos cada vez mais o evangelho de Jesus, à luz do espiritismo, nele encontrando as leis morais que nos ajudarão a ser melhores e mais felizes pessoas.