DENISE CORRÊA DE MACEDO nasceu em Valença (RJ). Formada em Letras e com mestrado em linguística, é professora de linguística e de língua portuguesa na UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda) e no CESVA (Centro de Ensino Superior de Valença). Milena é seu novo romance, ditado pelo espírito que, com este nome, viveu no Brasil nos idos de 1888.
Qual a principal motivação para escrever Milena?
Para escrever não só Milena, mas também as outras obras, meu intuito era apenas disciplinar a minha prática mediúnica. Primeiro veio um conto completo e intenso, que consegui resumir, mas depois vieram muitos detalhes que compuseram a obra. Milena elucidou a encarnação passada dela e pude perceber sua emoção ao contar a história.
O que deseja transmitir aos leitores com esta obra?
A mensagem da autora espiritual, como ela deixa claro na carta de apresentação e falar ao coração das pessoas. Versa sobre a igualdade de direitos e justiça divina.
Durante a escrita do livro, você teve algum contato com os personagens ou o ambiente da história?
Sim, vejo cenas e percebo aspectos psicológicos das personagens. Fui levada às fazendas de café na época dos escravos. Algumas cenas muito sofridas de se ver, outras, ricas em detalhes, sentimentos e pensamentos das personagens.
Como é trabalhar com uma história que se passa em região, cultura e época tão diferentes da nossa?
A forma pode ter mudado, o cenário e as leis, mas, no fundo, somos as mesmas almas humanas lutando por autoconsciência e cometendo ainda os mesmos erros com outras denominações. Se não há mais senhores e escravos, há drogas, paixões e ilusões que nos prendem, e sempre há os que se beneficiam com a escravidão do outro.
No prefácio, a autora espiritual fala sobre o desafio de encarnar num corpo feminino. A igualdade dos Direitos entre homens e mulheres ainda é uma utopia?
Ainda há, sim, tratamento diferenciado entre homens e mulheres, e, efetivamente, muitas dessas diferenças precisam ser respeitadas em suas particularidades. O ser espiritual tem potenciais divinos e não será o modelo do corpo que conseguirá tolhê-los, nem os preconceitos do nosso mundo.
Como o espiritismo pode colaborar com esta igualdade de Direitos?
Nos fundamentos espíritas encontramos as bases que norteiam o nosso pensamento: somos espíritos imortais estagiando na Terra para aprendizado, ora num corpo feminino, ora num corpo masculino. Deus permite que vivenciemos ambas as experiências.
Nosso planeta progredirá, ao ponto de não mais termos mais desigualdades sociais?
Acredito na regeneração planetária como nos asseguram os espíritos; até lá, muito do nosso primitivismo terá de ceder às Leis de Igualdade.
É correto pensar que as desigualdades são necessárias para que o homem evolua, esforçando-se por igualar-se através do amor?
As desigualdades sociais são expressões do egoísmo humano. A miséria não existe por falta de recursos, mas por falta de consciência, nem a fome por falta de alimentos, mas por egoísmo. Quando trabalhamos pela conscientização humana, pela educação com princípios espíritas, estamos trabalhando nas causas e não nas consequências.
Reencarnar como mulher então seria uma expiação?
Num mundo de expiação e prova será comum estagiarmos numa dívida ou noutra, mas não nos é possível declarar que será sempre uma expiação. Há, como havia na época de Milena, espíritos conscientes apesar das condições e do determinismo do mundo, que conseguiam criar sua liberdade, ou concedê-la a muitos, como no caso da Princesa Isabel.
Mas é possível que, por exemplo, para dirimir a vaidade e a pretensão de determinado espírito, ele seja designado para reencarnar em locais onde a mulher sofre graves mutilações – tanto morais quanto físicas – como o caso de alguns países árabes?
Sempre há essa possibilidade num mundo como o nosso. Às vezes, acontece com aqueles espíritos que foram muito arrogantes como homem e abusaram da força bruta, valendo-se de seu sexo, e reencarnam como mulheres em países como em certas tribos africanas ou países árabes.
Milena também trata dos preconceitos contra as mulheres. Por que tais preconceitos ainda persistem, em pleno século 21?
Sim, persistem porque ainda não atingimos um grau evolutivo que garanta que nosso mundo seja mais próximo da perfeição. Pelo menos já identificamos o problema e fazemos esforços para mudar. O que na época de Milena era considerado lícito, hoje já compreendemos como transgressões da liberdade feminina.
O que é “preconceito” e qual o enfoque espiritista a respeito do mesmo?
Preconceito é filho do orgulho, quando não aceitamos o que é diferente de nós e desmerecemos o outro só por ser diferente. Não há motivos para um espírita ter preconceito porque sabe que poderá reencarnar em qualquer corpo ou condição social.
A autora espiritual diz acreditar “que as reencarnações femininas falam mais diretamente ao coração”. Por quê? Você acha que a mulher representa o amor?
A autora espiritual referia-se à capacidade do corpo feminino de gerar um filho, de poder abrigar em seu próprio perispírito o reencarnante. O espírito feminino (reencarnado como mulher) está mais inclinado a exercer o amor incondicional, abrigando em seu corpo, gerando e nutrindo outro ser humano nos primeiros anos de sua encarnação.
Milena cita a experiência da maternidade como prova de amor incondicional. É por isso que devemos valorizar a gravidez?
Além de ser exercício do amor incondicional, devemos valorizar a gravidez porque ali há um espírito que retorna à Terra, assumindo um corpo físico, com programa reencarnatório. Uma nova oportunidade de reparação. Hoje, temos recursos e opções, podemos escolher se queremos ou não engravidar.
Mas, nos tempos que vivemos, o sonho de se constituir uma família e acalentar um filho nos braços, ainda deve ser idealizado?
Não necessariamente será esta a opção de toda mulher. Há imensa gama de seres humanos na Terra, e muitos não querem nem o casamento nem a paternidade ou a maternidade. Decisão que merece o respeito ao seu livre arbítrio, além de que há recursos que garantem suas escolhas. Outros querem casar-se, idealizam e se dedicam a este sonho. É bom lembrar que é preciso aceitar a liberdade de escolher. Crianças não são brinquedos, precisam de muito amor para se desenvolverem e crescerem saudáveis. Tê-las ou não é opção; cuidar das que já encarnaram é dever dos pais.
Deixe uma mensagem para quem nos lê agora.
A obra Milena fala de um tempo passado no qual as pessoas vivenciavam muitas dores humanas. Havia ignorância, desigualdades sociais, injustiça e iniquidade. Quero deixar uma reflexão – quanto será que crescemos como seres humanos até os dias atuais? Milena passou por um processo de amadurecimento não só no corpo físico que cresceu, mas também, psicológico e espiritual. Sofrendo evolui. Procurou se conhecer para melhor poder escolher entre as opções da vida. Será que nós, nos dias atuais, amadurecemos com nossos erros? Crescemos como espíritos diante da adversidade?