Essa é uma das questões mais complexas. E, da mesma forma que, ao analisarmos o “novo racismo” tivemos que lidar com opiniões divergentes sobre o mesmo tema, as questões ecológicas estão no cerne de inúmeros – e conflituosos – debates da atualidade. Nas próximas décadas o ser humano vai precisar enfrentar essa “nova” questão, que os radares do mundo já estão captando há algumas décadas: o risco – ou não – do colapso ecológico.
Em tese, a maior ameaça é a mudança climática. Os humanos existem há centenas de milhares de anos e sobreviveram a inúmeras idades do gelo e avassaladoras ondas de calor. No entanto, a agricultura, as cidades e as sociedades complexas existem há menos de 10 mil anos. Durante esse período, conhecido como Holoceno, o clima da Terra tem sido relativamente estável. Mas ninguém pode imaginar quantas vítimas perecerão em um novo processo de adaptação.
Uma primeira questão seria: esse processo já foi acionado? E o espírita precisa pensar sobre isso, pois Allan Kardec, em A Gênese, publicou uma mensagem de um espírito chamado Arago, onde ele fala dos ciclos eternos a que os planetas e as sociedades estão sujeitos. E a mudança climática é um deles. A mudança climática acontecerá em algum momento, como já aconteceu no passado, e isso não dependerá de nós, pois o planeta tem uma vida própria.
De qualquer forma, questionar o modelo de desenvolvimento atual vem fomentando negócios no mundo todo. Ganham espaço os produtos verdes, “sustentáveis”, e as certificações ambientais. Se nos anos 70 o movimento ambiental combatia o capitalismo, aliado às organizações de esquerda, após a queda do Muro de Berlim, com o desbaratar de diversos movimentos esquerdistas, tivemos algo inusitado: o sistema capitalista foi agregando, vagarosamente, o movimento ambiental para dentro de suas fileiras.
O planeta vai mudar
O que observamos é que toda vez que algo fica “ecológico” o lucro sempre aparece embutido em três etapas: elevação de preços, recebimento de subsídios e redução de impostos. O que é reciclado é sempre mais caro, e não raro ganha ares de glamour ou sofisticação, por incrível que pareça. Assim, quem paga a conta é sempre o cidadão, diretamente, quando compra o produto, ou, indiretamente, pela ação do Estado benevolente ao empreendedor “verde”. Sim, ser sustentável tornou-se muito lucrativo e a legitimidade dessa conduta cínica é sequer colocada em questionamento, muito menos discutida.
Os humanos ainda podem desestabilizar a biosfera global em múltiplas frentes. Estamos extraindo cada vez mais recursos do meio ambiente, e despejando nele quantidades enormes de lixo e veneno, mudando a composição do solo, da água e da atmosfera. Não temos sequer ideia das dezenas de milhares de maneiras com que rompemos o delicado equilíbrio ecológico que se configurou ao longo de milhões de anos.
Quando se trata de ecologia, os países estão à mercê de ações realizadas por pessoas em todo o planeta. Temperaturas mais altas ou mais baixas podem transformar a China num deserto e simultaneamente fazer da Sibéria o celeiro do mundo. O Deserto do Saara já foi, há 10 mil anos, uma grande savana, com pradarias e bosques, e nessa época não existiam indústrias nem grandes rebanhos. Éramos caçadores-coletores, engatinhando ainda no plantio de grãos. A geografia de diversas áreas do planeta vai mudar em algum momento, independente de nossa interferência.
Pulmão do mundo?
E quanto a Amazônia? Das muitas razões para se preocupar com os incêndios devastadores na maior floresta tropical do mundo, o suprimento de oxigênio não é uma delas. Simplesmente não faz nenhum sentido físico, porque não há dióxido de carbono suficiente na atmosfera para que as árvores fotossintetizem um quinto do oxigênio do planeta. Para cada remessa de moléculas de dióxido de carbono que as árvores retiram do ar, elas liberam um número semelhante de moléculas de oxigênio. Como a atmosfera contém cerca de 0,033% de dióxido de carbono, mas 21% de oxigênio, não é possível para a Amazônia gerar tanto oxigênio.
Em resumo, o efeito real do oxigênio da Amazônia, ou de qualquer outro bioma, é próximo de zero. Na verdade, o oxigênio que respiramos é o legado do fitoplâncton nos oceanos que há bilhões de anos acumula constantemente o oxigênio que tornou a atmosfera respirável. Todavia, o mito dos 20% está circulando há décadas, mas não é claro saber de onde se originou. Talvez derive do fato de que a Amazônia contribui com cerca de 20% do oxigênio produzido pela fotossíntese no planeta – que deve ter caído erroneamente no conhecimento público como 20% oxigênio na atmosfera.
Portanto, em meio a tantos números e debates, não é fácil formar uma opinião racional sobre um tema tão abrangente e que ainda está em transição. Com certeza esse é um assunto que ainda demandará muita pesquisa, estudo e reflexão nos próximos anos.
JULIANO P. FAGUNDES em Às portas da regeneração (adaptado)