Entrevista com o doutor Donizete Pinheiro, feita pelo editor da EME, Arnaldo Camargo
DONIZETE PINHEIRO iniciou sua formação doutrinária aos 12 anos de idade, dedicando-se ao estudo das obras de Allan Kardec e desempenhando diversas atividades no movimento espírita. Além do sucesso Terapia da paz, líder em vendas na sua categoria, Donizete também é autor de Contos modernos em tempo de paz, Carta de Paulo aos romanos e Suaves mensagens poéticas, entre outros.
Nesta entrevista concedida ao Editor da EME, Arnaldo Camargo, ele nos conta um pouso sobre sua vida e, também, fala a respeito de seu novo livro, O médium e o centro espírita. Confira!
Você é paulista e reside atualmente em Marília (centro-oeste do Estado de São Paulo). Como foi sua infância com seus pais e irmãos?
Fui registrado em Vera Cruz, onde meus pais moravam e desde meus 5 anos passamos a residir em Marília. Tive uma infância normal para a época, mas aos 12 anos já frequentava a mocidade espírita. Comecei a trabalhar aos 16 anos, graças à iniciativa de minha mãe, o que hoje agradeço. Fiquei fora de Marília por 20 anos, exercendo a magistratura em Pacaembu e Adamantina e, em 2005, retornei.
Como foi sua escolha pelo direito e ser concursado para ser juiz de direito? Tinha familiares que exerceram essa profissão? Ou que incentivaram nessa carreira?
Fiz direito por exclusão, uma vez que não era afeito às ciências exatas e nem biológicas. Uma tendência da alma, pois na família não havia ninguém nessa área. Advoguei por 3 anos e fui aprovado para a magistratura, que exerci por 30 anos.
Juiz tem o benefício da lei vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos, que são apanágios dos integrantes do Poder Judiciário. Por que escolheu se aposentar cedo?
Minha aposentadoria se deu aos 57 anos, após 40 de trabalho. Poderia ter continuado até os 75 anos, limite constitucional, mas seria mais útil me dedicando ao movimento espírita, tão escasso de trabalhadores. Além disso, o momento foi oportuno para que eu pudesse cuidar dos meus pais, que estavam doentes.
Você gosta muito de escrever: tem 13 livros publicados com diversas reedições num total de 68 mil exemplares vendidos – o que dá uma média de 5.230 exemplares/título. Como nasceu essa veia de escritor com contos, poesias, temas históricos e doutrinários, crônicas e agora essa obra, O médium e o centro espírita?
Sempre tive mais facilidade com o português e desde cedo no espiritismo eu me dediquei a ler as obras básicas de Allan Kardec e as clássicas de Francisco Cândido Xavier, especialmente as dos espíritos André Luiz e Emmanuel, podendo dizer mesmo que meu estilo de escrever foi inspirado por eles. Como sempre ministrei cursos no centro espírita, precisei estudar bastante e meu objetivo ao escrever foi oferecer os ensinamentos de forma que pudessem ser compreendidos pelos iniciantes ou aprofundar determinados assuntos. O recente – O médium e o centro espírita – é resultado da minha experiência no ensino e prática da mediunidade no centro espírita, por mais de 40 anos, mas focando nos aspectos que atualmente são mais relevantes para os médiuns iniciantes e a organização do centro espírita. A prática da mediunidade é a grande dificuldade dos centros espíritas, sempre carecendo de muito conhecimento e postura doutrinária dos dirigentes.
Você foi levado ao centro espírita ou o centro espírita chegou até você?
Fui para o centro aos 9 anos, levado pelos meus pais, mas apenas ficava sob cuidados de uma senhora enquanto eles estavam nas palestras. Aos 12 anos, foi criada a mocidade no Centro Espírita Luz e Verdade e, logo em seguida, eu comecei a participar e a aprender. Fui dirigente da mocidade por alguns anos e, como jovem adulto, passei a me dedicar aos centros espíritas e ao movimento de unificação, nos quais estou até hoje.
Como divulgador, você produz e edita o jornal Ação Espírita com foco regional no espiritismo há mais de 30 anos. Foi um casamento com o espiritismo?
Sempre achei importante a divulgação espírita e desde cedo me inclinei a essa área. Na mocidade, ajudava na elaboração de um pequeno jornal mimeografado e quando iniciei no órgão de unificação de Marília criamos um boletim informativo, que entregávamos em todos os centros espíritas. Quando em Adamantina, sentimos a necessidade de um órgão de divulgação e surgiu o Ação Espírita, com foco na informação das atividades dos centros e no ensino espírita, sem nunca polemizar. A primeira edição impressa foi em agosto de 1990. Distribuíamos para as casas espíritas locais e enviávamos pelo correio para diversos centros espíritas do estado de São Paulo, de forma gratuita. Sendo uma iniciativa da nossa parte, sem vinculação a órgãos ou a centros, quando retornamos para Marília prosseguimos na divulgação. São 34 anos registrando as atividades do movimento e divulgando a doutrina, sempre contando com vários colaboradores.
Nesse novo livro, O médium e o centro espírita, você estabelece um tempo estimado para cada atendimento do espírito; como é isso?
Essa é a recomendação de estudiosos com a qual eu concordo. O diálogo com o espírito não é uma “doutrinação”, como alguns pensavam. O atendimento deve ser focado nas necessidades do comunicante, quase sempre um sofredor, como os médicos fazem num pronto-socorro. Dez minutos é apenas um referencial e a prática indica que geralmente é o suficiente. Muitos espíritos apenas precisam do denominado “choque anímico”, que nada mais é do que um “acordar” ao contato com as sensações físicas do médium. O dialogador, portanto, deve ser hábil em extrair do espírito o que é útil, importante, e prestar os primeiros esclarecimentos, que continuarão depois com a assistência dos dirigentes espirituais. Por óbvio, às vezes nos deparamos com comunicantes que têm maiores dificuldades e o dialogador precisará avaliar se o diálogo está sendo produtivo e se vale a pena investir um pouco mais de tempo no atendimento. Do contrário, a demora sem razão implicará em maior sofrimento para o espírito, desgastes para o médium e inquietação dos demais participantes da reunião.
Outro diferencial apresentado neste novo livro é que você reúne os médiuns em círculo e não na forma tradicional em torno da mesa. Quais os benefícios desse método?
A nossa experiência indicou que trabalhar em círculo, sem mesa, é mais eficiente, porque o dirigente tem uma visão geral e direta dos participantes, melhor percebendo as suas reações e o envolvimento. O diálogo com o espírito é mais direto, como quando conversamos amigavelmente com alguém. Muitos espíritos têm percepção da realidade, nos veem, sabem onde estamos, de modo que seria muito estranho um diálogo pelas costas ou à distância. Isso não significa que o uso da mesa não produza resultados, nós mesmos já a utilizamos, apenas que não nos parece o ideal.
Um tema sempre polêmico é a questão da possessão e você afirma que ela pode ocorrer, inclusive com entidade elevada para dar mensagem. Como é isso?
Em O livro dos médiuns, publicado em 1861, Allan Kardec classificou a obsessão em simples, fascinação e subjugação. No entanto, por sua experiência posterior, admitiu a possessão e tratou do assunto no capítulo 14 (dos fluidos) de A gênese, publicada em 1868. Nesse capítulo, afirma Kardec a possessão, dizendo que nesse caso o espírito não age exteriormente como na obsessão, mas se substitui, por assim dizer, ao espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. Também diz que a possessão pode ser por um espírito inferior ou por um superior.
Na questão do diálogo nas comunicações você orienta não dizer ao espírito, que está sendo atendido, que ele converse com os espíritos ao seu redor, pois justamente foi trazido à reunião para contato com os encarnados. Mas, e quando o espírito diz que está vendo alguém ou ouvindo alguém chamá-lo, deve recomendar que o acompanhe?
Nesse caso, é possível, sim, uma conversa do comunicante com um desencarnado que se lhe apresente, muitas vezes um amigo ou familiar, mas isso costuma acontecer após o diálogo de esclarecimento. O que explico no capítulo “O diálogo com os espíritos” é que esse diálogo não pode ser transferido para os dirigentes espirituais, porque para isso é que existem os dialogadores. Nossa observação é feita porque sabemos de dialogadores que apenas acolhem o comunicante e depois pedem que converse com os dirigentes espirituais, alegando que estes possuem maior conhecimento da situação. Isso é inadequado, pois em geral o estado de perturbação do comunicante não lhe permite perceber a realidade do plano espiritual e não têm condições de estabelecer um diálogo útil com os amigos desencarnados. Cabe ao dialogador se preparar convenientemente, se adestrar para cumprir com a maior eficiência a sua tarefa.
Por qual motivo na reunião mediúnica o dirigente não deve ficar de olhos fechados ou concentrado?
Porque o papel do dirigente é dar assistência aos participantes, percebendo suas reações e envolvimento, para auxiliá-los na comunicação. Às vezes, o médium já está envolvido e não ocorre de imediato a comunicação, ou por sua dificuldade ou porque o espírito se recusa a falar. Somente com os olhos abertos é que ele saberá o que de fato está acontecendo. No seu caso, concentrar significa estar focado no trabalho, atento ao que está acontecendo e realizar o seu trabalho, para o que não precisa estar com os olhos fechados.
No final das reuniões ocorre uma avaliação dos trabalhos? E como orientar ou apontar equívocos dos participantes?
Essa avaliação tem por finalidade o aprimoramento do trabalho, analisando-se as comunicações, algumas dificuldades dos médiuns e mesmo do dirigente. Num grupo fraternal, essa avaliação será feita de modo respeitoso e sem qualquer propósito de menosprezar. No entanto, as questões mais delicadas deverão ser objeto de uma conversa individual e particular, quando então o dirigente terá a oportunidade de aprofundar eventual problema
O que o motivou a escrever O médium e o centro espírita, ? Qual seu objetivo com esta obra?
Fui incentivado a escrever o livro para que a minha experiência possa ser útil aos lidadores da mediunidade e aos dirigentes espíritas, pois é uma área bastante delicada, com muitas práticas inadequadas e muitas dúvidas sobre o que é o melhor. Sempre trabalhei com médiuns iniciantes e é necessário que eles recebam uma orientação correta, adequada e sejam bem acolhidos numa reunião mediúnica. O iniciante sempre tem muitas dificuldades, medo e dúvidas e precisam ter uma atenção especial até que ganhem segurança. Muitos me pedem orientação e com a publicação ficará mais fácil, pois recomendarei a leitura de O Livro dos Médiuns e do meu livro.
O que o leitor encontrará neste estudo? Você pode fazer-nos uma resenha, por favor.
Podemos dizer que o livro pretende oferecer a teoria da mediunidade sobre questões importante à prática da mediunidade na atualidade, pois existem fenômenos que eram relevantes na época da publicação de O Livro dos Médiuns, mas que hoje quase não se vê mais, por exemplo, as manifestações físicas. Também me preocupei com a iniciação do médium na sua atividade, os cuidados necessários e caminhos a seguir, tanto no preparo como no exercício. Trato do dirigente e do dialogador, cuja tarefa é orientar e bem conduzir o trabalho, seja no cuidado com o médium ou no diálogo com os comunicantes. Finalmente, procuro passar minha experiência no trabalho de organização da prática mediúnica no centro espírita, porque é necessário que haja uma dinâmica, um devido processo até que o interessado esteja preparado para ingressar numa reunião mediúnica, já que as reuniões mediúnicas abertas ou públicas são totalmente inadequadas.
A mediunidade de cura, através do passe e magnetização, pode produzir benefícios aos espíritos sofredores, acidentados e enfermos. Você tem notado essa experiência em suas sessões?
O serviço de passe numa reunião mediúnica é relevante, pois os fluidos são aproveitados pelos dirigentes espirituais no reequilíbrio dos comunicantes sofredores e na recomposição dos médiuns quando de alguma dificuldade no retorno à normalidade, por despreparo ou por causa dos fluidos mais grosseiros do comunicante. Quanto à eventual cura dos espíritos comunicantes, o passe pode ser eficaz em algumas situações em que a problemática é mais decorrente de fixações mentais quando do processo de desencarnação ou por alguma situação no plano espiritual, como, por exemplo, espíritos que nada conseguiam enxergar porque se sentiam nas sombras e melhoram a visão e outros que morreram guardando as últimas sensações e deixam de sentir dores. No entanto, nos casos de graves repercussões no perispírito, com deformidades e alterações mais profundas, a recomposição só é possível com tratamento prolongado pelos médicos espirituais ou mesmo em nova reencarnação.
Deixe uma mensagem para quem nos lê agora.
Mediunidade é um grave compromisso que o espírito assume antes da reencarnação, para evoluir fazendo o bem, reajustando-se ante o passado de enganos. É caridade que fazemos a nós mesmos e ao próximo em sofrimento, seja encarnado ou desencarnado. André Luiz, em Os mensageiros, nos apresenta relatos de médiuns e dialogadores que não cumpriram suas tarefas ou cumpriram mal, e que por isso estavam tristes e envergonhados. Seja qual for a nossa mediunidade, agradeçamos a Deus por essa bênção e não desistamos do nosso compromisso, procurando sempre fazer o bem.