Somos espíritos imortais tendo uma experiência na Terra. Os mentores da Codificação Espírita disseram a Allan Kardec que a encarnação tem por objetivo fazer o espírito chegar à perfeição e também o de o pôr em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação.
Portanto, estamos todos aqui reencarnados com um propósito muito elevado, o de nos aperfeiçoarmos, o que se dá pelo aprendizado e pelo próprio trabalho em prol da humanidade.
Psicologicamente maduro
Quem tem essa certeza está sempre estimulado a dar o melhor de si a cada momento. Todo dia é uma oportunidade que se renova, com variadas possibilidades de realização, e então prossegue incessantemente, otimista e determinado. Esse ser psicologicamente maduro sabe quem é, de onde veio, o que está fazendo aqui, o porquê das coisas e para onde vai.
Mas difíceis são as lutas na Terra mesmo para as almas mais elevadas, porque o corpo abafa as qualidades conquistadas, as tentações são muitas e os conflitos são intensos e aflitivos.
Por isso, não raro, em algum tempo de sua existência, a criatura se sente desmotivada, questionando se deve prosseguir nos seus ideais e sonhos a realizar, porque parece solitária numa multidão que tem outros valores ou por causa das dificuldades na conquista. De outro lado, tendo alcançado os seus propósitos intelectuais, familiares, afetivos ou sociais, após uma vida de esforços, nada mais parece lhe interessar, vivendo numa rotina cansativa e tediosa.
É então que surge a crise existencial, em que a alegria que motivava o trabalho e o entusiasmo pelas coisas e pelas pessoas são substituídos por uma melancolia, pelo desânimo em seguir adiante, nada mais parecendo ter significado. O indivíduo costuma dizer que “tem um vazio na alma”, o que bem expressa o momento psicológico que está vivendo.
Patamares evolutivos
O conflito se estabelece porque a alma, em sua intimidade, já tem consciência de que é preciso avançar sempre, enriquecer a mente e o coração de valores nobres, e então questiona a si mesma quanto a estar fazendo a coisa certa. Almas mais atrasadas não padecem desse mal, porque se sentem bem como estão e tocam a vida conforme as circunstâncias que lhes aparecem; elas, porém, também avançarão, forçadas pela lei do progresso.
A atitude de cada um varia conforme o estágio em que se encontram.
Diz Joanna de Ângelis (em Encontro com a Paz e a Saúde) que “os temperamentos tímidos refugiam-se no medo e procuram soluções que não existem, evitando novos contatos, acontecimentos desgastantes, realizações geradoras de preocupações”. E que os “mais audazes, necessitando de viver mais pelo hábito do que pela satisfação decorrente da existência, bloqueiam os medos e os conflitos, navegando nesse mar encapelado, na fragilidade da embarcação da autoconfiança e da autoindiferença pelos dramas existentes e pelos sofrimentos a sua volta”.
Todos, porém, experimentam aflições, emoções desequilibradas, desconforto íntimo, insatisfação, apatia, mas que poderão ser vencidas com um pouco de esforço e nova motivação, impulsionando a criatura a outros patamares evolutivos e maior felicidade.
Gestão da crise existencial
O recrudescimento das angústias decorrentes do mergulho no vazio existencial, que não desaparecem apenas pelo escorrer do tempo, obrigará o indivíduo a buscar a sua libertação, assim como a fome e a sede compelem à busca da satisfação. A alma, cuja essência é o amor, anseia pela felicidade, pelo bem-estar, pelo afeto, pela realização pessoal, ainda que muitas vezes não saiba como proceder corretamente para atingir os seus propósitos.
De pronto, faz-se necessário identificar as causas da crise e estas normalmente têm origem na intimidade da criatura, nas escolhas que faz, na ausência de conhecimentos e valores intelectuais e morais sustentadores do perene otimismo.
Portanto, a criatura deve reconhecer que a ela compete o dever de superar a crise e partir para experiências mais enriquecedoras, ciente de que a estagnação gerara maiores sofrimentos, perturbação e desequilíbrios, que permanecerão até que se resolva a prosseguir.
Com essa consciência, deixará de reclamar do sofrimento e da vida que leva e também não transferirá para ninguém a responsabilidade pela sua desdita, o que sempre é motivo de mais conflito com os que a rodeiam, agravando a situação e afastando as pessoas que estima.
O conhecimento não se perde
As práticas sugeridas na gestão do autoconhecimento (meditação, oração, reflexão) permitirá ao indivíduo descobrir porque desanimou e buscar na sua intimidade outros anseios motivadores que lhe farão recobrar a alegria. Sabendo que é um espírito imortal e que todo conhecimento assimilado não se perde, não se deterá sob qualquer pretexto, nem mesmo ante a velhice, porque toda experiência mais o enriquecerá.
O curso de aprendizado profissional na faculdade não atende às suas expectativas? Melhor interrompê-lo e buscar alternativa segundo seus pendores, do que prosseguir para uma atividade que lhe vai fazer infeliz, ainda que possa ter retorno financeiro. Quem não gosta do que faz, ou aprende a gostar ou será um profissional incompetente, prejudicando pessoas.
O namoro é permeado de brigas e de termina-e-reata, com desconfianças, falta de carinho e de interesse recíproco? Talvez seja recomendável terminar de vez, do que prosseguir com uma relação que poderá findar em agressão ou levar a um casamento infeliz, que não durará para sempre. As pessoas devem estar unidas pelos sentimentos mais nobres de afeto, amizade e respeito mútuo, que são expressões do amor.
As festas sociais, barulhentas e frívolas, não mais lhe proporcionam as mesmas alegrias, parecendo sem sentido e perda de tempo? Quem sabe não é chegada a hora de abandonar esses ambientes e mesmo as companhias fúteis, buscando outros grupos interessados em atividades mais úteis ao indivíduo e à sociedade. A reencarnação não é excursão de recreio, mas oportunidade de se crescer espiritualmente.
O casamento virou rotina, monotonia e parece não haver mais amor? O verdadeiro amor, no entanto, encontra sempre razões para resgatar os momentos bons e felizes da existência em comum, estimulando a atenção e o carinho, com a descoberta de novas atividades do interesse de ambos, como passeios ou visitas a amigos, trabalho comunitário ou frequência ao templo religioso, assim possibilitando novo alento e alegria no lar.
Muitas outras situações em nossas vidas, numa ou noutra fase, nos fazem refletir sobre se estamos realmente felizes, se devemos ou não rever valores e tomar novos rumos. Mas esse questionamento deve levar a uma decisão quanto ao que o indivíduo realmente deseja de sua vida, sem preocupações em contentar alguém ou comparar-se ao que supõe ser a felicidade do outro. Cada indivíduo realizar-se-á e viverá feliz na medida em que segue o próprio destino, deixando que o outro faça o mesmo, sem que isso signifique indiferença ou descaso, uma vez que a solidariedade é lei divina cujo cumprimento permite que nos ajudemos uns aos outros nas nossas realizações pessoais.
Uma transição equilibrada
Toda mudança deve ser fruto de uma reflexão madura e serena, para que não venhamos a desistir do que fazemos simplesmente porque se apresentaram dificuldades, que são naturais em qualquer setor da vida, mas não tão demorada que acarrete o prolongar de uma situação indesejada e geradora de aflição e prejuízos. Por outras palavras, uma fase deve ser bem esgotada e resolvida, sem resquícios ou pendências, para que possamos avançar com a consciência mais tranquila e livre para futuras experiências enriquecedoras.
O deixar de uma situação não requer a imediata inserção em outra, porque, muitas vezes, sabemos o que não queremos, mas não temos a certeza do que queremos, sendo necessário um tempo para que as coisas se acomodem e possamos meditar com mais cuidado sobre o próximo caminho a seguir. É preciso fazer uma transição equilibrada, sem violentarmos o nosso íntimo, pois do contrário sairemos de uma crise ou conflito para entrarmos em outro.
Indispensável que as novas escolhas tenham sempre nobres propósitos, aqueles enquadrados na lei divina e que interessam primordialmente ao espírito imortal, para que não mais lamentemos as escolhas infelizes.
Natural que o novo momento, com diferentes propostas, igualmente gere certo temor pelo fato de ser inusitado e não experimentado, razão pela qual se deve insistir até a adaptação ou, não sendo compatível com os ideais da pessoa, que se busque outros estímulos para prosseguir vivendo com alegria.
Mudanças que iluminam e libertam
Em algumas situações, haverá o enfrentamento dos antigos companheiros de programas, que irão reagir para manter o estado anterior das coisas ou até ironizar ou menosprezar o desejo de novo rumo, não se devendo, contudo, ficar com raiva, mas compreender que cada um tem o seu tempo de mudar e o direito de fazer o que acha o melhor. Eventual afastamento pessoal não deve afligir, porque se deixamos para trás algumas companhias, outras virão para preencher a nossa necessidade de afeto.
Igualmente, inimigos ou parceiros espirituais, temerosos de perder a presa que lhes satisfaz o ódio ou os prazeres, intensificam esforços para impedir as mudanças que iluminam e libertam, sugerindo pensamentos de dúvida e de medo, em razão do que são antídotos eficazes a oração, a paciência e a firme vontade.
Joanna de Ângelis leciona (em Em busca da verdade) que:
Dessa crise existencial que desestrutura o ser humano, transformado em máquina de prazer, que logo se desgasta e decompõe, surgirá uma nova proposta de humanização do ser, que se erguerá dos descalabros para a valorização do divino que nele existe, dos sentimentos que engrandecem, que elevam moralmente e dá real significado existencial, trabalhando-o para que, na condição de célula social, ao transformar-se para melhor, contribua para todo o conjunto.
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