O PULSO AINDA PULSA. E O CORPO AINDA É POUCO

COVID

Progresso de leitura

Lançada em 1989 pelo grupo de rock brasileiro Titãs, a música O Pulso lista uma sequência de doenças clínicas ao mesmo tempo em que reafirma a força da vida: “o pulso ainda pulsa”.

Além disso, a letra, de autoria de Arnaldo Antunes, apresenta uma série de patologias da alma, como rancor, estupidez, ciúmes, culpa, etc, enquanto conclama que “o corpo ainda é pouco”. Ou seja, não bastassem tantas doenças do corpo a gente ainda complica a situação com doenças que estão em nosso espírito.

Em plena pandemia de Covid-19, exigindo de nós uma drástica mudança de hábitos e comportamentos, esta canção se faz atual para nos ajudar a “distinguir muito bem a dor física da dor moral. A dor física é, em geral, um aviso da natureza, que procura preservar-nos dos excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até o ponto de os destruirmos antes do tempo”, conforme nos explica o médico Ricardo Sallum em seu livro Afinal, por que adoecemos?, da Editora EME.

Rancor, cisticercose, caxumba, difteria

“A dor”, prossegue Sallum, “será necessária enquanto o homem não tiver posto o seu pensamento e os seus atos de acordo com as leis eternas; deixará de se fazer sentir logo que se fizer a harmonia. Enfim, a dor persistirá, neste mundo, enquanto o pensamento se desviar dos aspectos profundos, isto é, enquanto a flor da alma não tiver desabrochado”.

Em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis refletiu sobre a dor, afirmando ser a história da humanidade um grande martirológio, recheada do lamento dos sofrimentos humanos, com a dor seguindo-nos todos os passos. E, por mais que considerássemos a dor uma punição, uma expiação ou o resgate das faltas cometidas, ela não deixaria de ser uma lei de equilíbrio e educação, um agente de desenvolvimento, condição do progresso, e todos os seres teriam de, por sua vez, passar por ela, a dor. É o que nos lembra Juliano Fagundes em seu livro Causa e origem de nossos males, também da Editora EME, alertando que, “quando falamos de dor, não é apenas da dor física. Cada vez mais as pessoas buscam formas de aliviar as chamadas “dores da alma”, sobretudo após a evolução meteórica alcançada pelas ciências psicológicas e das terapias alternativas”.

Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania

O sofrimento, explica Juliano, teria ação benfazeja para quem souber compreendê-lo; mas, somente podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos, e, se a dor física produz as sensações; o sofrimento moral produz os sentimentos.

Assim, para o já mencionado doutor Ricardo Sallum, “a doença deveria nos remeter à reflexão e modificar nosso padrão de sintonia mental. Isso pode levar uma ou várias encarnações. Depende apenas de nós mesmos”. Portanto, no que diz respeito ao tratamento, explica Sallum que “ele deve iniciar-se pela modificação de nosso padrão mental. Com tal mudança de paradigma, não me parece razoável esperar que só o médico resolva nosso problema”.

Catapora, culpa, cárie, câimbra, lepra, afasia

Afinal, como mostra Juliano, para as doenças do corpo, temos comprimidos, injeções e operações sofisticadas que aliviam nossas dores físicas – e o pulso ainda pulsa. E para as dores da alma? Sallum acredita que nós, humanos, deveríamos descer de nosso pedestal e aceitar com humildade e resignação que ainda estamos em um “estado muito pobre de evolução”. E, relembrando que aprendemos, pela religião (qualquer uma), que somos Corpo e Alma, o médico alerta que estamos cuidando cada vez mais do corpo – que ainda é pouco. Mas… será que estamos nos esquecendo da Alma?

GEORGE DE MARCO é jornalista-redator das publicações periódicas da Editora EME