Progresso de leitura

Segundo pesquisa da startup do setor de longevidade Janno, pandemia de coronavírus trouxe a consciência de que a gente é finito. A partir disso, começamos a refletir sobre a nossa finitude e como se preparar para ela.

Nesta série especial, o Blog da EME vai apresentar textos inéditos de seus autores avaliando o assunto através da ótica espírita, já que a doutrina tem uma visão bem específica – e reconfortante – sobre o tema.

Discorrer sobre a morte é sempre uma tarefa árdua, pois ninguém gosta de admitir que vai morrer um dia nem de aceitar que é impotente para impedir este fato. A morte é tida como uma ceifadora de planos e de alegrias, uma visitante que ninguém deseja hospedar, um fantasma que jamais deveria sair do seu porão. Mas por outro lado, é uma coisa boa e até aceitável para aqueles que estão em fase terminal de uma doença incurável, com dores acerbas, com uma aparência aterradora tal qual aquelas impostas pela hanseníase ou pelo câncer que deixa crateras no rosto e um odor insuportável.

Direito à saúde

Nas reuniões mediúnicas que dirijo são comuns o atendimento a espíritos que desencarnaram vítimas desse horrendo mal, a hanseníase. Os médiuns (representando o desejo do espírito) cobrem o rosto, pedem que o doutrinador não se aproxime, pois não querem ser vistos naquele estado de apodrecimento em vida. Sinto uma profunda piedade por esses irmãos, mesmo porque nas minhas visitas a leprosários, eram assim chamados ao tempo que passei pela mocidade espírita, constatei essa repulsão por si mesmo e a vergonha que esses irmãos sentiam com nossa proximidade.     

Nessa ocasião em que são levados à reunião, com a ajuda fluídica e do ectoplasma dos presentes, das técnicas dos mentores espirituais, da mente atuante e modeladora do doutrinador, eles conseguem recuperar a antiga aparência, e saudáveis, chorando na maioria das vezes, ganham de Jesus, é isso que digo para eles, o direito à saúde para reconstruírem suas vidas. Às vezes, quando confidencio que podemos restaurar os danos impostos aos rostos, às mãos, eles duvidam da minha palavra. Mas tenho uma pergunta que os deixam esperançosos. Jesus não curou a lepra, a paralisia e ressuscitou os mortos? Sendo ele o dirigente desta casa por que se recusaria a atender a um irmão que lhe pedisse a cura? Não foi ele o autor da frase, vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mateus 11: 28-30)?

Somos imortais

Quando entendermos que morte é libertação, que tudo na matéria ao nascer já começa a morrer, que o alcançável por nossa vista está morto ou a caminho da morte, não daremos tanta importância a ela, a esta característica da matéria. O contrário de vida é nascimento, e não morte. Quando mencionamos que a morte traz um sentimento de perda nos referimos à convivência e não à permanência daquela pessoa que se foi, mas que continua fazendo parte da nossa vida. No lugar de dizermos que estamos ficando mais velhos e decrépitos deveríamos dizer que estamos ficando mais livres e mais sábios. Somos espíritos, portanto, não submetidos a essa impermanência, pois nosso vir a ser ocorre apenas no campo intelecto-moral. Somos imortais e quem não morre não deve ter medo da morte.

Não associemos a morte a um velho caixão ou túmulo no cemitério, mas a chave de uma cadeia, as asas de um condor porque ela é o anjo libertador da prisão carnal. Alguém poderá dizer que após tocado por ela poderá seguir para um lugar bem pior do que aquele aqui habitado. É verdade, mas para isso é preciso ter utilizado de maneira equivocada o livre-arbítrio, não ter seguido o planejamento pré-reencarnatório, ter desobedecido ou traído a consciência, sentinela da retidão.

Vida digna, morte digna

O que devemos temer são as repetições ou mergulhos na matéria, por negligência, por incompatibilidade com as leis divinas, por reproduzir demasiadamente lições que deveriam, por sua clareza, serem apreendidas ao primeiro contato. Viemos a este mundo para aprender lições de civilidade, de fraternidade e não para cursos de férias ou gozo de vantagens imerecidas. Vida não é o que anima a matéria. Isso é uma propriedade do fluido vital adicionado a ela dando-lhe mobilidade. A vida é um grande mistério a ser entendido quando formos espíritos sábios. Não se agaste por agora em entende-la; antes se esforce em dignifica-la. Da mesma maneira, não tente entender a morte, o seu momento, a sua necessidade ou sua certeza. Viva dignamente, pois vida digna traz morte digna.

Quem quiser, pois, morrer e passar bem, que se apegue ao bem que possa fazer. Viva cada dia com bom humor e responsabilidade. Semeie no campo material e moral boas sementes, pois isso define o futuro local a ser habitado no plano espiritual. Precisando de um referencial, escolha Jesus, um bom mestre no conhecimento eleja Kardec, um bom guia a caridade. Você não precisa ficar neurótico buscando a santidade, julgando que esse proceder lhe livrará da visita da morte. Um dia, um passo na direção do Bem, uma prece, um amigo e logo mais se verá diante das portas do paraíso.

E fique certo de que lá não se fala em morte.

LUIZ GONZAGA PINHEIRO é professor e escritor com mais de 30 livros publicados pela Editora EME