A prisão interior da ‘dor que não tem nome’

Single or divorced woman alone missing a boyfriend while swinging on the beach at sunset

Progresso de leitura

“Se você pode tocar seu filho além de um porta-retratos, se você tem novidades sobre ele todos os dias, se aquele sorriso não está preso em um álbum de fotos… Considere-se privilegiada, pois, neste exato momento, muitas mães se agarram ao mínimo das lembranças para sobreviver”.

Esta frase não tem autor. Circula pela internet, entre tantas que buscam superar a inabilidade total e completa da nossa sociedade em lidar com a perda, com a morte, com a dor, com a tristeza, com a solidão coletiva que perpetuamos todos os dias por não sabermos nem mesmo o que falar com quem perdeu um filho, cuja morte é a ruptura de paradigmas nos quais aprendemos a acreditar. Segundo as leis da probabilidade (ou da natureza, para alguns), pais morrem antes de seus filhos. Infelizmente, isso não é verdade absoluta.

Para a psicóloga Cíntia Rocha, a dor de uma mãe que perde um filho é uma das maiores que o ser humano pode sentir. De acordo com ela, a mãe espera muito de um filho e algumas das vezes acaba depositando no outro a sua própria vida. “Se você perde pai e mãe você fica órfão. Se você perde um filho, você fica o que? É uma dor que não tem nome”, explicou.

Ainda segundo Cíntia, nesse caso é importante ter fé, para que se consiga sustentar a angústia e retomar as rédeas da própria vida. “O luto com o tempo vai sendo metabolizado e transformado em saudade. A dor se torna amiga e dói devagar. Não há um esquecimento, mas um libertamento”, concluiu.

Deste desejo profundo pelo libertamento das mães que sofrem nesta prisão interior é que Cristiane Novais escreveu Mães de luto, da Editora EME. “Os calvários que as mães enlutadas têm que percorrer para reelaborar sua vida após a partida de um filho querido é intenso, é imenso”, explica a autora. “Com a vontade em auxilia-las nessa reconstrução intima, iniciei minha peregrinação em busca dessas mães para, através do depoimento delas, tentar dentro das minhas possibilidades levar um alento, um alivio e esperança para os seus corações”, diz ela.

A vontade em concretizar este desejo se tornou a maior incentivadora de Cristiane. “As mães vieram até mim com muita facilidade. Confiaram em meu propósito e me revelaram suas memórias mais íntimas”, conta Cristiane, que iniciou seu caminhar no espiritismo aos 16 anos de idade através do trabalho voluntário e que está estreando na EME com este seu primeiro livro.

O que mais surpreendeu a autora foi o fato de não ter sido recebida por nenhuma delas com dor ou desespero, ao contrário, todas as ‘mães de luto’ receberam-na com sorriso no rosto, leveza e dentro das possibilidades de cada uma com aceitação diante da realidade que não podiam mudar.

Afinal, é consenso entre os especialistas que nenhum tratamento afasta a dor da perda, mas facilita ao indivíduo a lutar pela sua recuperação. Que luta é essa? Pessoas, quando bem sucedidas no exercício de suas funções parentais, são pessoas amorosas, que se dispõe a cultivar naquela semente de vida (que escolheram gerar ou adotar), o potencial da dignidade, honradez, sabedoria, bondade, grandeza nos atos e nas intenções. Filhos aprendem por exemplos, daí a importância dos pais serem consistentes, coerentes em suas palavras e ações. Quando o filho se vai, talvez seja hora de continuar celebrando os valores nobres que procuramos incutir em nossos filhos. Em memória da criança ou jovem morto, o ideal é tentar viver plenamente, abrindo espaço para toda oportunidade de alegria e dor.

O espiritismo nos diz que as mortes prematuras fazem parte da ficha evolutiva não somente daqueles que devem retornar ao lar de origem, mas também para propiciar aqueles que os amam um momento de reflexão, buscando compreender os porquês da vida e buscando em Deus a única solução para superar tamanho sofrimento.

Sim, porque mesmo diante de uma prova tão difícil como é a partida de um filho não se pode perder a fé, atesta Cristiane: “ela é o grande motor que auxilia no prosseguimento que é inevitável”. Para a autora, não se pode ignorar também o poder da oração, “já que é ela que ameniza as dores dos que ficaram gerando-lhes força interior e também atua como lenitivo naqueles que partiram”, afirma.

Carinho, comunicação aberta, tolerância ao sofrimento alheio, incentivo suave para se retomar gradualmente a vida (inserindo a morte neste panorama, e honrando a estrada que os pais trilharam junto com o filho que partiu) são recursos suficientes para auxiliar algumas famílias. É desta forma que Mães de luto cumpre seu papel de esclarecer e confortar corações.

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