Progresso de leitura

De acordo com estudo do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios (Sincep), 87% dos brasileiros não se sentem preparados para lidar com a morte. Porém, durante a pandemia de coronavírus, empresas de serviços funerais passaram a ter uma procura maior.

Nesta série especial, autores da EME analisam o tema através da ótica espírita.

Todos vamos passar pela porta estreita do retorno à vida espiritual, através da morte do corpo, passagem que, em si, não dói, é como dormir. Dormir dói ou é gostoso e descansa? Não tem como fugir, independente de idade, raça, crença, pobreza ou riqueza, ignorância ou sabedoria, maldade ou bondade – a morte é uma necessidade evolutiva estabelecida pela lei de renovação criada sabiamente por Deus.

Viver e até encanecer os cabelos é o sonho da maioria aqui na Terra, e de controlar o nosso eu. É necessário vencer a si mesmo para ter um controle de si, ser senhor de suas decisões com sabedoria. Estamos aqui cientes de que envelhecer é obrigatório e amadurecer é opcional. Amadurecer as ideias, os sentimentos, o amor, a sabedoria, e controlar a emoção. E não chegar aos cabelos embranquecidos com atitudes de adolescentes e fanfarrões.

Não há prêmio

O final da existência física para todos é a morte do corpo, e tanto os bons como os maus terão de enfrentá-la. As doenças são democratas e alcançam os otimistas, os negativistas, os positivistas, os empreendedores, os que têm amigos e os solitários, os generosos que praticam o bem e os ambiciosos e egoístas que pensam somente em si e até praticam o mal para obter o que desejam – bons ou maus, todos vão enfrentar a passagem para a vida espiritual.

Visitei o cemitério e vi que ele está cheio de pessoas importantes na comunidade, que gerenciavam bancos, empresas, prefeituras; estão lá os que se achavam indispensáveis, arrimos de família, gênios da pintura e da poesia, amoráveis mães e adoráveis filhos.

Diante da morte não há prêmio, se os bons não morressem, estariam ainda conosco São Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, Jesus Cristo. Eles não estão no corpo, que voltou à natureza, mas estão conosco em espírito e vida.

Aprenda!

A morte é que dá sentido à vida, porque nós nos reconhecemos passageiros de uma viagem, na qual aqueles que se esforçam pelas virtudes, que evitam os maus hábitos e se aplicam, por certo estarão melhores do que aqueles que só pensam em si, em desfrutar e defraudar a vida, ou que são adeptos da luxúria, dissipação ou avarentos.

No exercício da vida, devemos aprender diariamente, como disse Jesus: “Olhai os lírios do campo”. Em provérbios, a recomendação de que o sábio aprende com o erro alheio. Devemos investigar como uns estão se dando bem e outros estão se complicando. Desobedecendo aos sinais que gritam aprenda… aprenda… aprenda… com as leis da vida e de Deus.

Aprenda que você não pode ficar gastando à vontade, comprando e trocando coisas desnecessárias. Você só vai aprender quando fizer uma dívida que não consegue pagar.

Aprenda como tratar a saúde…. Os pais, os professores e os médicos falam, não coma isso, não beba assim, não fume essa coisa, não experimente essa outra… E o que dizem os endiabrados? “Comigo não vai acontecer.” Se acham especiais, com eles nunca vai acontecer. Acontece uma primeira vez de ter problemas com a saúde, com acidentes, e não acreditam. Até terem um enfarto, ou sofrerem uma overdose e retornarem mais cedo para o Além.

Questão de tempo

Tudo é uma questão de tempo, mais cedo ou depois vai acontecer, porque é a história do “ainda”… Ainda não se acidentou. Ainda não ficou doente. Ainda não foi preso ou agrediu alguém.

Quando estiver no caixão, vão dizer: “Parece que está dormindo, tão bonitinho”… Essa foi outra fase, agora é caixão mesmo; o corpo não suportou e expeliu o espírito para o outro lado da existência.

Vejamos a vida daqueles que deram certo (estudo, trabalho, determinação, espiritualidade, vivência cristã), fora de tudo aquilo que puxa para baixo (desregramentos e vícios nocivos). Procuremos copiá-los, para nos darmos bem e estarmos mais perto de Deus, não com sucesso e riquezas, que até pode acontecer, mas com paz e consciência tranquila.

Não temer, mas não procurar

Meu pensamento e minha fala é que não temo mais a morte, mas não a procuro: faço exercícios físicos, me alimento, durmo bem e procuro tratar bem os meus familiares e o próximo.

Não temo por dois motivos.

Minha meta era poder ver os filhos crescer e educá-los para a emancipação; essa primeira meta já alcancei, quando completei 65 anos (hoje estou com 68).

O segundo, porque semanalmente acompanho as notas de falecimento nos jornais e faço prece pelas pessoas falecidas, mesmo desconhecendo-as em sua maioria. Acredito que a oração pode ser um bálsamo na vida espiritual para quem retorna ao Além antes de mim, e também para os seus familiares, que sentem sua falta. Como ninguém quer morrer, espontaneamente se pensa em adiá-la; assim, foi ‘sem querer’ que essas pessoas enfrentaram a viagem – e eu também vou enfrentar.

Creio que para estar preparado para deixar o corpo e retornar junto dos que nos antecederam é fundamental: acreditar em Deus e na imortalidade, estar com a consciência tranquila, não guardar mágoa, ressentimento ou desejo de vingança, e desapegar-se emocionalmente, com amor, das pessoas e das coisas temporais (bens materiais).

ARNALDO DIVO RODRIGUES DE CAMARGO é diretor da Editora EME