ENTREVISTA – MÔNICA CORTAT

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Progresso de leitura

MÔNICA AGUIEIRAS CORTAT, autora mediúnica de seis romances espíritas, apresenta a segunda parte de sua trilogia Nas trilhas do umbral. Se na primeira parte o grupo socorrista encontrou Eulália, nesta segunda parte, Tobias,outras histórias serão contadas e novos aprendizados serão feitos.

O que o leitor vai encontrar nesta segunda parte de Nas trilhas do umbral? Faça-nos uma resenha.

Encontrará a história de Tobias e sua família, um rapaz que desencarnou assassinado aos vinte e poucos anos e que se encontrava já na Colônia, devido ao seu desenvolvimento espiritual. Bons valores morais, trabalhador honesto, apaixonado pela bela esposa e seu filho, e que em uma das suas visitas à ela na Terra, decide-se a ficar para “proteger” a esposa, e com isso acaba por se tornar quase que um obsessor quando nota algumas injustiças sendo cometidas. Uma das coisas que esse livro me ensinou foi que é muito fácil ser bom quando as coisas vão bem, mas quando as coisas vão mal é que temos a oportunidade de testar a nossa fé.

Desta vez a equipe de socorristas precisa resgatar um espírito que não quer ser resgatado. O que fazer numa situação destas?

Na realidade, Tobias acha que não merece ser resgatado, e tem um motivo especial para permanecer no Umbral. Um motivo que mostra o seu desvelo e o seu amor para com uma pessoa muito especial, e enquanto essa pessoa estiver no Umbral, ele permanecerá lá para protegê-la. Como fazer com um espírito que não quer ser resgatado? Nessa situação vale o livre-arbítrio sempre: só devem habitar a Colônia os que realmente abrem o seu coração para os ensinamentos que lá estão. Isso vale para qualquer ser: do mais primitivo, ao mais erudito. Para os que se acham já suficientemente sábios, que em nada creem, que persistem no erro e se alegram com isso, a Colônia se manterá distante, esperando o dia em que acordem. A busca por Fabrício teve um motivo especial, que aos poucos está sendo desvendada, nada foi por acaso, tudo foi guiado pela espiritualidade superior.

Todo espírito, após a desencarnação, tem que passar, necessariamente, pelo umbral?

O campo espiritual mais próximo da Terra, é o Umbral. Cada pessoa é um caso diferente, a realidade é que você, quando desencarna, assim que tem seus “laços” energéticos cortados de seu corpo físico, vai para onde estão espíritos que “vibram” como você. Vale o que está em seu coração! Todos passamos pelo Umbral, mas os que se pautaram pelo bem, passam por ele de uma forma tão rápida, vendo na frente uma esperança de luz tão forte, ou ainda entes queridos, que sequer sentem medo! São segundos apenas, rápidos, de sensações diferentes para cada um. A leveza de ser novamente um espírito os contagia, a sensação de paz, o reencontro com os amigos! Os bons passam também pelo Umbral, mas passam protegidos, e muito rapidamente!

Mesmo que você não tenha sido um exemplo de pessoa, mas tentou pautar-se por boas condutas, necessariamente passará pelo umbral?

Sim, da forma que disse antes. Se tem fé, ore, peça perdão, tente melhorar que a Colônia abre as suas portas. Ela está cheia de pessoas dessa forma. Os mais evoluídos estão em outro tipo de esfera. No livro há Olívia, que pertence a uma esfera mais evoluída: ela nos mostra um pouco da luz de lá.

Um dos personagens de Nas trilhas do umbral: Tobias está preso às suas paixões terrenas. Como a doutrina vê a paixão? Seria uma característica de um estágio menos evoluído do espírito ou ela pode ajudar nossa evolução?

Tobias foi um homem que vivia na década de 1930, e aprendeu que seu dever era cuidar da mulher, do filho, da mãe e das irmãs. Foi um excelente marido, filho e irmão, não tinha inimigos… e paixão, embora pareça com amor, não é amor. Na paixão, muitas vezes, existe o desvario: a crença cega de que um ser lhe pertence, ou ainda, que o outro ser é perfeito. Acredito que ele ficaria enciumado se ela se casasse de novo, mas se fosse com um bom homem que tratasse bem seu filho, se conformaria. O que enlouqueceu Tobias foi ver o perigo se aproximando da amada, sua capacidade de ler o pensamento dos vivos e não poder fazer quase nada para proteger os seus! A paixão passa, o amor dele atravessou a morte, pois a amava tal qual ela era de fato: não houve ilusão ali. Tanto isso foi verdade, que ele seguiu Flávia por algum tempo, mas depois, vendo seu filho em dificuldades, esqueceu-se da esposa para ajudar ao menino. Quanto a paixão em nós mesmos, pode existir uma prova maior? Ela nos desnuda, testa-nos o caráter, amedronta-nos, coloca-nos a suspirar por coisas tolas, a fazer castelos no ar! Ficamos sublimes e um tanto ridículos, tudo ao mesmo tempo, adolescentes em plena meia-idade, e nos achando muito sábios, quando mal saímos da adolescência. Se apaixonado, você não sucumbir ao egoísmo, não tentar controlar o outro, não perder sua autoestima e nem sacrificar outras pessoas em nome dessa paixão, será um forte, e terá passado por uma das mais difíceis provas.

Como o espiritismo pode nos auxiliar quando estamos diante de uma paixão que nos turva os sentidos?

Fortalecendo o nosso senso de moral, de ética, de amor ao próximo. Coisa mais triste quando vemos uma pessoa sacrificando os filhos em nome de uma paixão: quer se separar, separe, mas do parceiro (ou parceira), não dos filhos! Eles continuam existindo. A honestidade sempre é um bom termômetro. Não faça aos outros o que não quer que te façam… se alguém se interessou por você e é comprometido, desfaça o compromisso, e depois apareça. Situações dúbias não trazem felicidade, por maior que seja a paixão, e se ferem a alguém, não lhe fará bem algum… . Cabe também a nós espíritas o não julgamento de quem quer que seja. Que sabemos nós do pretérito das almas que ali estão? Quem somos nós para julgar? O bom-senso é obrigatório para quem sabe que já viveu muitas vidas.

Quando alguém se aproxima de nós com estes sentimentos que sabemos não ser edificantes, que postura devemos adotar?

Cada um de nós possui dentro de si uma gama de sentimentos muito intensa, e só nós mesmos podemos responder o que sentimos diante de determinadas situações. É muito fácil uma pessoa de fora julgar o sentimento alheio, mas a realidade é que cada caso é um caso diferente. Tente não magoar ninguém, não abra mão da honestidade, e se o sentimento da outra pessoa não for edificante, afaste-se dela. Ninguém muda alguém que não quer ser mudado.

Em Nas trilhas do umbral: Tobias Daniel não consegue se reaproximar do espírito que lhe fez mal em vida anterior. Como proceder quando sabemos que tentar a reaproximação com o outro certamente acarretará mais ressentimentos?

O sentimento de Daniel no caso, era o medo, a angústia. Às vezes o bom Deus nos coloca junto a determinadas pessoas que por seu temperamento diferente do nosso acaba acarretando algumas desavenças. O livro comenta casos desta natureza, principalmente entre os laços de família. A verdade, é que quando a desavença é ainda muito séria, ou dolorida, o que devemos fazer é orar verdadeiramente para que a pessoa melhore e deixar que o tempo passe, que as portas estejam sempre abertas, para quando essa pessoa resolver melhorar. Se ela insistir nas ofensas, torne a se afastar. Se for você o ofensor, hora de pedir desculpas. É bom lembrar que pessoas que ofendem ou causam desarmonia, costumam estar em grande sofrimento, por conta da energia que espalham. Mas isso não é culpa de quem é ofendido, é uma mudança que eles mesmos têm que operar em suas vidas. Só o receba quando ele o tratar com dignidade, isso é o melhor para ele mesmo.

Outro personagem, Lourenço, afirma que não odeia mais seu algoz, mas que não gosta dele. Qual o primeiro passo para conseguirmos perdoar, de verdade, nossos inimigos?

Lourenço, no caso, foi honesto. Ao menos não pensa em torturar ou magoar o espírito que não é de sua simpatia. A verdade é que todos temos simpatias e antipatias, não é mesmo? Médiuns costumam ter uma empatia muito forte, e embora eu não considere ninguém meu “inimigo”, às vezes costumo ter umas “intuições” sobre determinadas pessoas, e então enxergo algumas “maldades”. De início ficava muito espantada com isso, triste mesmo, como que tentando entender… mas depois de um tempo, eu fui vendo a coisa como realmente era, com a ajuda de meu guia espiritual, e tive tamanha pena! Como todo mundo no planeta, tive pessoas que me prejudicaram, de um jeito ou de outro. Fiquei zangada na hora? Claro. Mas passou rápido! O primeiro passo é esse: Veja as coisas como são – Eles não estão bem. Não guarde mágoas no seu coração, não faça uma semeadura com os insultos que lhe fizeram! Por que guardar raiva ou desejar o mal a quem já vive num inferno? Pessoas que fazem o mal não são felizes, têm no máximo uma satisfação transitória nas suas vidas. Vivem os seus dias cercados pela inveja, orgulho, vaidade… tudo tão fútil, tão escasso de luz! São irmãozinhos nossos também, ore por eles! Escolheram um caminho distante do teu, mas espalham a maldade porque ainda estão perdidos. Muitos cercados de obsessores, não conseguem notar uma bela paisagem, eleve-se você! A lei do retorno existe, ore por eles!

A primeira parte de Nas trilhas do umbral foi muito bem recebida (e elogiada) pelo público. A que você atribui este sucesso?

Aos espíritos que me mostram as cenas, me levam por caminhos tão diferentes, numa rapidez tão grande, com ensinamentos tão diversos. Tantas vezes comecei uma história acreditando que sabia o que aconteceria e tudo foi tão diferente! Sempre é diferente! E aos leitores, muito gentis, inteligentes (o público espírita é muito culto, não é para qualquer um…), que felizmente me aceitaram. Fico honrada.

O que podemos esperar da terceira e última parte?

Já comecei o terceiro livro, Fabrício. Por sinal, Ariel o encontrou numa situação completamente diferente do que eu imaginava! Estou lá pela página 70, e me divertindo bastante. Não posso falar muito, seria “spoiler”.

Que mensagem deixaria aos nossos leitores?

Toda vez que começo um romance, eu fico como vocês, esperando para ver o que acontece. Não me sinto uma “escritora”, mas alguém que transcreve o que vê e ouve, e com isso acabo chorando, ou rindo, e ficando curiosa com o que vai acontecer. Acho tudo uma dádiva, mas por isso nunca poderia cobrar por um romance desta natureza. Não tenho essa “imaginação” nem esses ensinamentos que são passados. Um médium, como no meu caso, é um “transmissor”, uma “antena” que descreve o que lhe é passado. Claro que tenho um vocabulário razoável e sensibilidade, mas é só. “O que vem de graça, de graça dê.”, disse alguém certa vez, e meu trabalho não é nem mais nem menos meritório do que os de nossos amigos das casas espíritas espalhadas por todo o nosso país. Aliás, o meu é bem mais divertido, e só me trouxe alegrias! Obrigada por tudo!