ENTREVISTA – DONIZETE PINHEIRO

donizete pinheiro-CARTA

Progresso de leitura

DONIZETE PINHEIRO é pai de três filhos e avô de dois netos. Juiz de Direito por trinta anos, está aposentado desde 2013.

Pela Editora EME publicou A morte sem mistérios, Para uma vida saudável, Gestão de crises emocionais, Respostas espíritas, O cristianismo nos romances de Emmanuel entre outros.

Carta de Paulo aos Romanos é seu novo livro e, na entrevista abaixo, Donizete nos fala um pouco mais a respeito. Confira:


O que o motivou a escrever Carta de Paulo aos romanos?

Ao escrever o livro O Cristianismo nos romances de Emmanuel destaquei os relatos sobre a importância das epístolas de Paulo, consideradas por Pedro uma continuação do próprio Evangelho. Essas epístolas foram sugeridas pessoalmente por Jesus, para que Paulo pudesse atender aos pedidos de orientação e conselho das várias igrejas por ele fundadas, e Jesus disse a Paulo que para isso seria acompanhado pelo espírito Estevão, o qual lhe transmitiria o Seu pensamento. As cartas de Paulo, portanto, são verdadeiras obras mediúnicas. Estudá-las, como já fez o nosso irmão Emmanuel, é importante para todos que desejam o aprimoramento espiritual. Emmanuel analisou determinados versículos, mas eu resolvi refletir sobre a carta inteira, à luz do espiritismo. 

Alguém o incentivou a desenvolver este trabalho?

Certamente, os amigos espirituais que me acompanham e inspiram. Fiquei entusiasmado com a ideia e aos poucos fui trabalhando cada versículo ou conjunto de versículos, até que a obra foi concluída. 

Teve alguma surpresa ou dificuldade para realizar o livro? Quais?

Sim, tive. A primeira dificuldade foi conseguir compreender o estilo e os termos utilizados por Paulo, próprios da época e submetidos à tradução atual. Além disso, em vários trechos ele se reporta a citações do Antigo Testamento, que eu precisei buscar para melhor compreender o que ele queria dizer. 

O que o leitor encontrará em Carta de Paulo aos romanos? Por favor, faça-nos uma resenha

Embora dirigida aos romanos, as palavras de Paulo são ensinamentos para a eternidade, ajustados à lei divina, e servem para nortear a nossa relação com Deus e com o próximo, em algumas situações específicas, em direção à felicidade. 

Quando e onde foi escrita esta carta?

Com certeza foi escrita em Corinto, mas num tempo que está entre os anos 55 a 58 após o Cristo. 

Para quem e por que foi escrita?

A epístola é dirigida aos cristãos romanos e com ela Paulo quis antecipar a sua ida até Roma, o que ele ainda não havia feito. Para lá foi na condição de prisioneiro, para ser julgado pelo Imperador, dada a sua cidadania romana. Conversando com cristãos, ficou sabendo que sua carta era lida com muito carinho e respeito. 

Em linhas gerais, quais características marcantes e quais os temas da carta aos romanos?

Podemos destacar a preocupação de Paulo quanto à fraternidade e ao respeito ao próximo, sem qualquer distinção; o convite ao cultivo da fé com o coração e não por obrigação; a maior responsabilidade daqueles que já conhecem o Evangelho e as leis divinas; a excelência do Evangelho e o amor de Jesus, que se sacrificou pela nossa felicidade. 

Podemos afirmar que Paulo teve inspiração espiritual para escrever esta carta?

Como afirmamos antes, Estevão, o primeiro mártir, foi o Espírito que inspirou o apóstolo quando escrevia as suas cartas, dentre elas a dirigida aos romanos, transmitindo-lhe o pensamento de Jesus.

Por que é importante que os espíritas entendam o pensamento de Paulo?

Porque a moral espírita é a mesma de Jesus, nosso modelo e guia, e as cartas de Paulo acrescentam ensinamentos em consonância com o Evangelho, permitindo-nos outras reflexões úteis à compreensão da lei divina. Na nossa ignorância intelectual e espiritual, carecemos que outros mestres nos ajudem no entendimento, clareando e detalhando a lei de amor, justiça e caridade. É o que também encontramos nas obras de Allan Kardec e de seus continuadores, encarnados ou desencarnados. 

Ao ler as cartas de Paulo, o que não podemos deixar de considerar a fim de compreendermos bem o objetivo dele ao escrevê-las? 

A grande preocupação de Paulo sempre foi a de destacar a supremacia de Jesus, do qual se considerava um simples apóstolo, separado para a tarefa de pregar o Evangelho para todos os povos, especialmente os gentios. Paulo considerava que a mensagem de Jesus era para toda a humanidade, de todos os tempos, e não poderia ficar restrita aos judeus. Assim, igualmente, devemos considerar Jesus como o nosso irmão mais velho que veio a Terra para nos mostrar o caminho para a felicidade. 

A epístola aos romanos é a mais longa das escritas por Paulo. Por qual motivo é considerada por muitos como a melhor?

Em todas as cartas de Paulo poderemos encontrar valiosos ensinamentos, mas esta dos romanos se destaca pelo seu caráter universalista e seu convite para a fraternidade entre todos, em perfeita sintonia com o Evangelho. 

Por outro lado, alguns estudiosos do tema apontam a carta de Paulo aos romanos como uma das que carrega os assuntos mais difíceis no cristianismo. Qual seria o motivo?

Pelos mesmos motivos que ainda hoje dificultam a paz na nossa sociedade. O orgulho e o preconceito que trazemos e que nos colocam num pedestal acima dos nossos irmãos que pensam e acreditam de maneira diferente. Os judeus também tinham o seu orgulho e se consideravam uma raça superior aos pagãos; mesmo entre eles existiam grupos que viviam em conflito, como os fariseus, os saduceus e os samaritanos. Paulo encontrou em alguns discípulos certa resistência para que aceitassem como novos cristãos os pagãos, porque exigiam destes a circuncisão. Além disso, Paulo ressalta a necessidade de praticarmos a fraternidade com sinceridade, o que se mostra muito difícil, pedindo renúncia, tolerância e compreensão. Quer dizer, Paulo insiste na nossa transformação moral, na nossa mudança interior, um processo que se arrasta por inúmeras reencarnações. 

Acredita-se que Paulo escreveu inúmeras cartas. Por que a escrita aos romanos se tornou uma das mais importantes para o espiritismo?

Todas as cartas de Paulo trazem ensinamentos relevantes e seria bom que os espíritas nos preocupássemos também em extrair delas o sentido espiritual, a exemplo das lições notáveis de nosso irmão Emmanuel, pelas mãos de Francisco Cândido Xavier. Particularmente, a dos romanos contém ensinamentos que estão conforme o espiritismo, especialmente no que diz respeito à justiça e a misericórdia, de Deus para conosco e de nós para com os nossos irmãos, única maneira de vivemos em paz. 

A carta aos romanos contém muitos ensinamentos sobre as doutrinas de salvação. Porém, se o espiritismo não apregoa “salvação”, qual seria a aplicação prática dessas doutrinas na vida diária do espírita?

A salvação – a tua fé te salvou – era uma expressão que Jesus utilizou por diversas vezes e Paulo segue na mesma linha. O termo é ainda utilizado pelas religiões e o próprio Kardec a empregou no lema “Fora da caridade não há salvação”. O apóstolo diz que a salvação se dá pela fé, mas não se referia simplesmente ao ato de crer, mas no processo de transformação interior, a partir do momento em que colocamos o Evangelho em prática, com alegria, e não constrangidos pelo medo. É o mesmo sentido utilizado no Espiritismo, o de que nos libertaremos da nossa ignorância e do nosso sofrimento pela prática constante do bem. 

Segundo João Calvino (um dos principais líderes da Reforma Protestante), a carta inteira é uma exposição da justiça de Deus – a justiça de Deus é recebida pela fé somente, o que os cristãos chamam de justificação. Como seria esta justificação em uma visão espírita?

Para nós, a justificação tem o sentido do nosso ajustamento à lei divina, que acolhe, ampara e concede oportunidades de progresso a todos os que, conscientes e arrependidos dos enganos, voltam-se para Deus e agora seguem o caminho do Bem. 

Focalizando a Soberania de Deus (principalmente nos capítulos 9 a 11 da carta), Paulo ressalta mais a misericórdia do que o julgamento. Porém, até mesmo entre os espíritas, a lei de Deus é mais vista como punitiva do que educativa. Por que isso ainda acontece?

A última lei moral estudada por Allan Kardec é a lei de justiça, amor e caridade, e os Espíritos Superiores disseram ao Codificador que é a mais importante, porque resume todas as outras. A misericórdia e a justiça se ajustam em perfeita sintonia, porque o amor é o mecanismo de equidade na justiça de Deus. A lei divina sempre é educativa e quem pensa ao contrário está enganado, faltando-lhe a perfeita compreensão dos ensinamentos. E eventuais sofrimentos (ou o castigo, expressão que anteriormente se utilizava), sempre tem por finalidade levar o Espírito a compreender o seu erro e encaminhá-lo ao caminho do Bem, como afirma Allan Kardec no Código Penal da Vida Futuro, inserido em sua obra O Céu e o Inferno. 

Na carta aos romanos, Paulo levanta uma questão muito importante para os nossos dias: a hipocrisia religiosa (pessoas que se apegam às tradições de uma religião, mas vivem como se Deus não existisse). Como o espírita pode escapar deste comportamento?

O perfeito ajustamento dos nossos pensamentos ao nosso modo de ser é o ideal que buscamos, mas que só muito lentamente é alcançado. Afirmou o Codificador que o verdadeiro espírita é aquele que se esforça para domar as suas más tendências. Portanto, nossa atenção, vigilância, oração e esforço devem ser exatamente nesse sentido, e aos poucos conseguiremos. 

Que mensagem deixaria para quem nos lê agora?

Disse Jesus: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará! Portanto, que todos nós nos dediquemos cada vez mais ao conhecimento, à instrução das coisas que interessam ao nosso espírito imortal.

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