A CRIANÇA COMO CONSTRUTORA DO PRÓPRIO SABER

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Progresso de leitura

Sabemos que grandes parcelas de educadores espíritas não têm formação pedagógica. Assim sendo, ignoram que toda metodologia advém de uma forma de conceber a aprendizagem. Muitos pensam que basta boa vontade, um pouco de inspiração e outro tanto de talento para bem desempenhar a ação pedagógica, o que não é verdade.

Teoria Behaviorista

Há uma teoria de aprendizagem surgida nos Estados Unidos e que foi muito difundida na década de 1970 que sustenta que aprendemos formando conexões simples entre estímulo e resposta. Ou seja, decorando. Como a base da teoria era a mudança de comportamento e, em inglês, comportamento é behavior, ela passou a ser conhecida como Teoria Behaviorista. Ainda hoje há pessoas que a adotam, apesar das inúmeras críticas que recebeu pelo fato de apelar para a memorização no lugar da compreensão.

Temos notícia de que, por falta de orientação pedagógica, ainda há educadores espíritas que valorizam o “saber de cor”, em detrimento do saber construído ou fundamentado na compreensão. Mas se o objetivo do estudo da doutrina espírita é a transformação moral da pessoa, uma memorização que não resulte em internalização de valores e consequente mudança de comportamento não cumpre essa finalidade.

Compreender é fundamental

Compreender o que se lê é tão importante que o próprio Kardec, na Introdução de O evangelho segundo o espiritismo assinalou, com muita propriedade, o seguinte:

Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as consequências. A razão está, principalmente, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o maior número dos seus leitores, é ininteligível. A forma alegórica e o intencional misticismo da linguagem fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como leem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos os preceitos morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então, apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais (grifos nossos).

Ou seja, compreender é fundamental.

Piaget

Um grande opositor a essa forma de conceber a aprendizagem foi Jean Piaget (1896-1980), um pensador suíço que, embora biólogo por formação, passou a se interessar pela maneira como o ser humano aprende a partir da observação do comportamento dos seus filhos pequenos e, posteriormente, das pesquisas que ele próprio conduziu. Nas suas observações ele constatou que o desenvolvimento infantil se dá em estágios distintos, que ocorrem à medida que a criança vai amadurecendo suas funções sensoriais, motoras e mentais. Essa constatação é considerada preciosa para quem ensina, pois fornece uma orientação sobre as características da criança em cada fase.

Outra contribuição de Piaget foi o esclarecimento de como se processa a aprendizagem. Para ele, ao estabelecer contato com o mundo a sua volta, a criança vai assimilando as informações em forma de esquemas mentais. Esses mesmos esquemas serão, por sua vez, utilizados, toda vez que se apresentar uma situação desafiadora.

Se tal mecanismo funciona, ela permanece utilizando os esquemas, mas se deixa de funcionar, ela vai procurar substituí-lo por outro mais eficiente, coordenando os esquemas mentais de que já dispõe. Tudo isso, no entanto, depende do seu grau de amadurecimento.

Construindo o saber

Transferida para a situação de aprendizagem formal, a Teoria do Desenvolvimento de Piaget ainda hoje serve de norte, sobretudo para quem lida com crianças, pois explica como elas aprendem. A ênfase é na construção do saber pelo próprio aprendiz.

Tal teoria conduz a uma metodologia específica. Respeitando-se os estágios do desenvolvimento, oferece-se à criança estímulos para que ela própria vá construindo sua aprendizagem.

LUCIA MOYSÉS no livro A evangelização mudando vidas (adaptado)

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