Progresso de leitura

Solteiro, natural de Araguari (MG), no Triangulo Mineiro, ÂNGELO DIAS vive atualmente em Goiânia (GO), para onde sua família se mudou quando ele era ainda pequeno. Professor na Universidade Federal de Goiás (EMAC/UFG), fez bacharelado na UFG, em Goiânia, e o mestrado e doutorado nos EUA. É maestro e cantor lírico. Juntamente com o espírito Carlos Henrique, Ângelo nos apresenta o romance mediúnico Além do aborto. Confira na entrevista abaixo:

Como conheceu o espiritismo?

Na adolescência, era muito ligado ao catolicismo, até que uma tia espírita de desfiou a ler O Livro dos Espíritos. Foi o que bastou.

Frequenta ou trabalha em instituições espíritas? Como se chamam?

Sou trabalhador do Posto de Auxílio Espírita (PAE, Goiânia), onde atuo na evangelização de adultos e no trabalho de orientação espiritual pela psicografia, trabalho ligado ao Atendimento Fraterno da Casa. Sou também membro do Conselho Editorial da Federação Espírita do Estado de Goiás (FEEGO). Como atividade permanente, desenvolvo um intenso trabalho como orador, na capital e no interior do Estado.

Qual a importância do espiritismo em sua vida?

O que dizer? Meu sustentáculo, minha ferramenta de progresso, minha alegria.

Como a mediunidade auxilia nos seus livros e como ela auxilia em seu cotidiano?

A mediunidade é a fonte de todo meu trabalho literário. Minha atividade como docente me traz continuamente a oportunidade de escrever, mas os livros mediúnicos são de natureza totalmente diversa. Nos momentos aprazados, após a preparação, o fluxo do texto vem intenso dos benfeitores. Não há planejamento, antecipação, conhecimento prévio. A cada nova sessão, o material vai se juntando. Ao fim de um ano, que é a média de tempo gasto, lá está o livro pronto, com suas idas e vindas, proposituras e desfechos. Fico tão surpreso com as reviravoltas quanto os futuros leitores o ficarão.

O que o motivou a escrever Além do aborto?

Como sempre acontece, em relação aos temas que vem do Alto, eu não tenho nenhuma ideia do   que será. Neste caso, a intuição de começar a ler sobre o assunto chegou num doloroso processo de sensibilização. Foram dias de muita angústia e lágrimas, mas a certeza de que seria um livro de esperança.

O que o leitor irá encontrar neste romance? Faça-nos uma resenha

Como disse na pergunta anterior, é um livro sobre esperança. O objetivo foi mostrar que qualquer erro humano é causado pela nossa ignorância e que viver nele é ignorância ainda maior. As histórias apresentadas pelo Carlos Henrique são cheias de dor, mas a esperança cura todas elas. É preciso, como o título já diz, ir “além do aborto”, recomeçar, reconstruir, ter fé na torrente do amor.

O que o espírito Carlos Henrique deseja transmitir aos leitores com esta obra?

O amor cobre a multidão dos pecados.

Poderia nos dizer algo sobre o espírito Carlos Henrique?

Sei dele muito pouco. Ele me concede a bênção de sua presença há mais de uma década. Já escrevemos muito, desde contos até cinco romances (o sexto está em andamento). Ele participa dos   trabalhos literários, em casa, e na atividade psicográfica do Centro Espírita. Quando outros autores espirituais assumem o trabalho literário, em um determinado ano, ele se mantém por perto, ajudando quando preciso. Discreto, intenso. Aparenta ser jovem.

Como foi seu trabalho de psicografia junto a este espírito?

Nós nos damos muito bem, há grande sensibilidade. Ele toma minha sensibilidade de assalto.

Durante a psicografia de Além do aborto, você teve contato com os personagens e com o ambiente da história?

Com personagens, não. Mas uma das características da minha psicografia literária é a imagética. Enquanto o texto vai brotando rapidamente, eu vejo tudo, não como numa tela, mas mergulhado na cena. E ao cabo de duas horas, cessa tudo. Até a próxima sessão.

Você se emocionou com a história? Sabia antes de alguns acontecimentos?

Além das imagens, o Carlos Henrique me mantém em contato profundo com os sentimentos das personagens. Como não sei de nada previamente, muitas coisas me surpreendem além da conta. Me recordo de uma ocasião em que uma personagem desencarna numa sessão. Eu comecei a chorar copiosamente e a pedir, pelo amor de Deus, que ele a deixasse viver por mais uma sessão de psicografia, pelo menos. Nada feito. Para meu desespero, ela desencarnou de forma linda e pacífica.            Jamais me esquecerei da sensação de escrever, assistir a tudo e implorar por ela ao mesmo tempo.

Você tem alguma relação com esta história transmitida por Carlos Henrique?

Não.

Alguma coisa mudou na sua compreensão da vida, durante a psicografia de Além do aborto?

Simplesmente tudo. Cada livro que me vem, me transforma completamente. E profundamente.

Por que é tão difícil as pessoas entenderem que o aborto é uma prática criminosa, se todos sabem que no aborto está se tirando uma vida?

Não saberia dizer. As pessoas cometemos delitos de toda natureza por uma infinidade de razões   que nos cabem a todos nós, individualmente, resolver depois. O aborto é só mais um dos tantos problemas graves que acumulamos ao longo das existências, devido a nossa ignorância. Se pudesse me arriscar a penetrar nas razões do outro, diria que a própria concepção de vida, legalmente  falando, é falha. O ser não existe quando nasce, ele existe quando já está pulsando lá dentro daquele ventre.

Uma criança abortada sofre com a inconsequência da mãe?

Todos os envolvidos num aborto, em qualquer nível, sofrem profundamente.

Quando se fala em aborto, sempre temos a figura da mãe, mas como fica a responsabilidade do pai, que se omite, e dos outros que incentivam a esta prática?

É fácil culpar a mãe, porque parece ter a decisão final. Ledo engano. Aborto é um processo envolvendo muitas variantes e personagens, e no qual, tantas vezes, a mãe é a que menos poder de decisão tem.

E quem contrai maior dívida: a mãe que aborta? O médico que pratica o aborto? Ou as pessoas próximas à mãe que não lhe garantiram apoio para aceitar a gravidez?

Cada caso é um caso, mas as responsabilidades são atribuídas a cada um pelas malhas infalíveis   das Leis Eternas, como ocorre com qualquer de nossas faltas. Depois, arrependimento, expiação e reparação, que é a parte bela da Lei.

Em Além do aborto, as personagens passam a ter consciência do erro praticado. Quem, através do conhecimento, arrepende-se de ter abortado, pode resgatar este erro ainda nesta encarnação?

Assim é com TODOS os nossos erros. Deus é amor.

Há alguma situação em que o aborto é moralmente permitido pela Lei Divina?

Como está dito em O Livro dos Espíritos (questão 359), apenas na circunstância de estar a vida da mãe em perigo.

Existe no aborto natural influência do espírito reencarnante?

Os abortos naturais ou espontâneos ocorrem por uma infinidade de razões de ordem fisiológica,   mas sempre, é claro, envolvendo circunstâncias morais. Pode ser para provação dos pais, do espírito, por gravidez teratogênica (no caso de ovóides em recuperação), por recusa da mãe ou do espírito reencarnante etc. O que é preciso ter em mente é que as responsabilidades virão, sim, bem como as oportunidades de refazimento.

Sabemos que muitas reencarnações são planejadas e que muitos casos de aborto são devido a gravidez indesejada. Quem seria este espírito reencarnante? Seria programada esta reencarnação?

Na Codificação e na boa literatura espírita complementar (Ex.: a de Chico Xavier, Ivone Pereira), a encarnação é sempre alvo de planejamento cuidadoso. Em algumas outras obras, há a sugestão   de que muitas gestações ocorreriam ao acaso, o que até poderia qualificar a existência da chamada gravidez “indesejada” ou “não planejada”. Neste caso, até se justificaria o aborto, como em caso de estupro, por exemplo. Contudo, permaneço afeito à premissa de que existe algum nível de planejamento e influência da Lei maior em cada concepção. Assim, a decisão de abortar uma gestação é fruto de uma mudança de compromisso.

O que se dá no plano espiritual, quando existe um aborto provocado e legal (permitido pela justiça dos homens), quando diante de um produto de estupro, onde a vítima e seus familiares não desejam aquele nascimento (a legislação permite, desde que comprovado o produto de um estupro, o aborto provocado e assistido por médico obstetra)?

O que se dá é o que sempre ocorre quando há um aborto. Afinal, a lei humana tornando certas atitudes válidas não significa que seja validada pela Lei eterna. Porém, volto a afirmar, cada caso é um caso e será atendido pela Divindade com o mesmo rigor e amor.

Para aquelas pessoas que se envolveram com o aborto provocado, e que nutrem um certo sentimento de culpa, o que poderíamos recomendar, para minimizar nelas este sentimento?

Como dissemos, “o amor cobre a multidão de pecados”. De nada adianta viver na culpa, seja o que quer que tenhamos feito na vida. Deus espera de nós a reconstrução do caminho, o voltar a amar, o desejo de acertar.

Para que trabalho na casa espírita, por exemplo, poderíamos encaminhá-la?

Primeiro, para o Atendimento Fraterno e a Evangelização/Cursos. É preciso fazê-la entender que Deus não está furioso ou decepcionado, que continuará nos amando sempre. Esta consciência é uma das primeiras conquistas espirituais que se perde quando cometemos um grave delito. É preciso recuperá-la. Em seguida, qualquer trabalho que possa fazer fluir o amor novamente.

Qual o melhor meio que temos para a prevenção do aborto, principalmente com os jovens?

Conscientização da vida e seus processos encarnatórios. O aborto interrompe ou atrasa por décadas o processo de cura espiritual dos sofrimentos de um espírito a nós ligado. É muito sofrimento que fica sem cura por mais um longo tempo de preparação. O conhecimento prévio da existência é um dos grandes elementos de prevenção do aborto. Afinal, o medo do inferno, como em outras vertentes religiosas nunca foi capaz de detê-lo. O medo não funciona. Alguns tentam até usá-lo no meio espírita, ameaçando com os sofrimentos do umbral, ou com penas terríveis ao reencarnar. Veja bem, não quero dizer que não haverá a parte da expiação, mas a conscientização e emenda do espírito fará essa etapa muito menos necessária. O foco do futuro recairá na reparação.

Como o espírita pode contribuir de modo a evitar a legalização do aborto em nosso país?

Busco a voz de Kardec para esta resposta: ”É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade.”

E que mensagem você deixaria para quem nos lê agora?

O aborto é um grave problema moral, espiritual e social que, como tantos outros, ainda aflige o    espírito imortal. Porém, como todo delito cometido, é preciso se concentrar no refazimento, na reparação. Se o aborto fez parte de seu passado, não permaneça no sombrio estado da culpa, que não leva a nada. Consciência e refazimento, reparação e progresso. Apenas assim reabriremos as comportas do amor que nós mesmos fechamos com nossa angústia e autocondenação. Fé e oração, amigos! A vida espera por nós!

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