Autor de diversos livros de sucesso em categorias diferentes como contos e lições, o estudo O amor pelos animais, a autoajuda Conhecereis a verdade, a biografia Triunfo de uma alma – recordações das existências de Yvonne do Amaral Pereira e os romances Elos de ódio e O ódio e o tempo – todos publicados pela Editora EME. Agora, Ricardo Forni está reverenciando a vida do homem considerado “o maior brasileiro de todos os tempos”. Confira a entrevista:
O que o motivou a escrever Chico Xavier, histórias e lições?
Na medida em que fui me aprofundando no conhecimento da Doutrina espírita, a figura ímpar do apóstolo de Jesus, Chico Xavier, foi crescendo aos meus olhos de forma impressionante, como não poderia deixar de ser. De tal maneira que, ele, sem nenhum misticismo ou mito, tornou-se para minha pessoa no exemplo vivo do cristianismo sobre a face do planeta, transformando-se no norte para minha atual existência, muito embora minha imensa dificuldade de aplicar na minha vida os exemplos dele.
Qual sua principal fonte? Como foi a construção deste livro?
Quando escrevi esse livro já tinha lido muitos outros de variadas autorias sobre Chico Xavier e que constam da bibliografia relatada, o que me proporcionou através desses felizes relatos que foram deixados a ideia para a confecção de Chico Xavier, histórias e lições.
Por quanto tempo você estudou a vida e a obra de Chico Xavier?
A vida de Chico Xavier é atemporal se posso me expressar dessa maneira. Em assim sendo, sempre é tempo de estudar a vida dele porque nos ensina como deve ser o verdadeiro cristão reencarnado. Estudar a vida de Chico tem início, mas não conhece término.
Existem muitas biografias sobre Chico. Qual seria o diferencial da obra – Chico Xavier, histórias e lições?
É exatamente nesse ponto que o livro Chico Xavier, histórias e lições se diferencia dos livros biográficos. Nele recordamos acontecimentos da sua vida e procuramos extrair lições dos acontecimentos comentados à luz do nosso entendimento, sem a pretensão mínima de esgotarmos o assunto.
Tendo lugar de destaque absoluto no espiritismo brasileiro, Chico Xavier não teve um tipo de “fabulação” em torno de sua vida?
Chico foi tão verdadeiro que a fabulação, com certeza, não faria justiça à sua vida de sacrifícios que lhe impôs renúncias ainda desconhecidas, não corretamente compreendidas e avaliadas.
Em Chico Xavier, histórias e lições vemos que praticamente tudo na vida e obra do médium mineiro dão testemunho do sistema de valores do espiritismo. Podemos, então, afirmar que ele seria um espírita modelar?
Em minha opinião Chico é mais do que um espírita modelar, é um cristão modelar que honrou Jesus e engrandeceu a lide espírita com a sua presença.
É correto afirmar que Chico mudou a face da crença e das práticas espíritas no século 20, como o Culto do Evangelho no Lar?
Um verdadeiro cristão modifica tudo à sua volta independente da religião através daquela em que se manifesta nesse apostolado. Com ele não poderia ser diferente.
Como você avalia a opinião de que Chico realiza uma peculiar combinação entre o espiritismo com um catolicismo familiar e popular bastante tradicional?
Para mim, Chico respeitou e honrou o catolicismo enquanto nessa religião esteve. Da mesma forma procedeu com maior amplitude na Doutrina espírita pelos anos a ela dedicados. Mas o seu maior chamado a todos os que têm olhos de ver e ouvidos para ouvir é de como deve proceder um verdadeiro cristão nesses tempos de dificuldades maiores da transição planetária, não propondo fórmulas ou estabelecendo limites religiosos, sejam eles quais forem.
É correto afirmar que, com Chico Xavier, o espiritismo no Brasil atingiu uma espécie de ápice da vocação mediadora, centrado na preeminência carismática dos médiuns e dos espíritos?
Chico nas suas variadas e profundas modalidades mediúnicas elevou a possibilidade da comunicação entre o mundo visível e o invisível que nos cerca e conosco interage, derrubando barreiras ou dúvidas que se levantavam até então na história da Humanidade.
Apesar da oposição doutrinária (e do próprio Chico Xavier) ao culto de santos, o nexo entre a vida devotada de Chico a uma missão e à sua obra mediúnica é geralmente lido no registro do extraordinário, do mítico e do santificado. Por que isso acontece? E como combater essa leitura equivocada de sua vida e obra?
Acostumados ao homem que engatinha no seu início de jornada evolutiva, a figura de Chico se desenhou dessa forma a muitas pessoas sem que ele mesmo, Chico, nada tenha feito para que tal conceituação acontecesse. Isso corre por conta da nossa pequenez evolutiva. Ele próprio se anunciava como um cisco ou uma besta a serviço dos Espíritos superiores. Pediu aos planos maiores da vida que desencarnasse num momento em que o país vivesse uma grande alegria, como realmente aconteceu, para que a sua morte física não entristecesse a ninguém. De tal maneira que, tal conceituação corre por nossa conta e risco.
Podemos afirmar que, para o médium mineiro, a dimensão espiritual é ontologicamente mais real e intensa do que a material?
Foi isso que ele pretendeu nos mostrar nos anos todos em que esteve reencarnado em um corpo físico. Deu provas suficientes para que chegássemos a essa conclusão. Contudo, pelos acontecimentos atuais, parece que ainda não entendemos muito pouco ou praticamente nada.
Os eufemismos que predominam na retórica de Chico Xavier podem ser enquadrados como “politicamente coretos” ou apenas uma transfiguração de conceitos densos em sutis, em uma espécie de “espiritualização” da linguagem humana?
Creio que os eufemismos existentes eram utilizados pelo fato de Chico entender a criança espiritual que ainda somos necessitados de muita paciência e misericórdia por parte do Criador.
Em Chico Xavier, histórias e lições você faz comentários evocando as lições contidas nos acontecimentos da vida do médium ali narrados. Qual o objetivo destas análises?
Trazer a lembrança para o nosso dia a dia de como devemos agir e reagir perante os acontecimentos que a vida se nos apresenta apoiando-nos nos ensinamentos dele.
Não obstante a inegável liderança dos segmentos intelectualizados durante a primeira metade do século 20, o modelo de espiritismo de Chico Xavier alcançou um sucesso sem precedentes entre pessoas que vivenciavam uma religiosidade popular. Como você explicaria este sucesso?
Como disse o confrade Adelino da Silveira em um dos seus livros sobre o Chico com o qual ele conviveu intimamente durante vários anos, o povo tinha e tem saudades de Jesus. Sendo Chico um cristão exemplar, ele conseguiu aplacar de certa forma durante seus anos entre nós essa saudade que trazemos na intimidade de nosso ser principalmente nos momentos de dificuldades maiores da existência.
Seria por conta deste sucesso que Chico se projetou além do espiritismo, tornando-o, também, um fenômeno na cultura e na sociedade brasileira?
O sucesso do Cristianismo com os exemplos do Chico estará sempre presente em todos aqueles vultos, independentemente da religião que professem, que souberem viver dessa forma perante o homem que perdeu a rota deixada por Jesus.
A partir dos anos 60, ganha força a publicação dos “livros de mensagens”, onde Chico Xavier traz uma vertente mais popularizante em suas psicografias. Foi esta modernização da linguagem dos textos espíritas que pavimentou o caminho em direção ao estilo que aparecerá doravante em livros assinados por outros médiuns?
Os bons exemplos falam à consciência de todos aqueles que estejam imbuídos da boa intenção. Os livros psicografados pelo Chico foram direcionados pelo plano espiritual deixando um bom caminho a todos aqueles que desejarem servir à causa do Cristo no mundo. Os médiuns que estejam dispostos a trilhá-lo, mesmo dentro de suas limitações, serão sempre úteis seareiros de Jesus.
Com a morte de Chico, morreu também a fase de popularização do espiritismo, de ser e de pertencer à cultura espírita?
Espíritos nobres estão reencarnados ou se preparando para retornar ao cenário terrestre em missão sacrificial para que a obra do Cristo prossiga. Chico deixou uma imensa saudade, mas a determinação de Deus prossegue para que todos nós atinjamos a perfeição para a qual fomos criados. Outros seareiros surgirão para que esse destino não sofra nenhuma interrupção.
Ao final de Chico Xavier, histórias e lições você questiona sobre o que estamos fazendo do que Chico nos ensinou através de toda sua vida de enormes sacrifícios. Você teria a resposta à esta sua pergunta?
Essa é uma resposta que cada um deve buscar na sua consciência analisando o que tem feito da sua existência.
Que mensagem deixaria a quem nos lê agora?
A riqueza de estarmos em um corpo físico pela bênção da reencarnação, somente saberemos avaliar quando estivermos de retorno ao mundo espiritual. A fila da reencarnação está muito grande porque os casais estão limitando o número de filhos pelas mais variadas razões. Não é uma boa escolha jogarmos fora a preciosidade da vida física atual e buscarmos como Espíritos desencarnados entrar no fim da fila daqueles que buscam angustiadamente por uma nova oportunidade na carne pela cobrança que a consciência endividada faz a todo aquele que deixou o corpo em débito com essa própria consciência. Saibamos bem viver enquanto temos tempo!