De todos os fenômenos empreendidos por Jesus, os de cura estão entre os mais marcantes e que geraram grande repercussão em sua biografia.
Em escala muito menor, devido às limitações naturais que possuímos, mas que Jesus não possuía, vemos esse mesmo fenômeno ser reproduzido na atualidade mediante o já conhecido passe magnético, ofertado abundantemente nas casas espíritas. Outras vertentes utilizam-se da mesma terapêutica, mas com técnica modificada e sob outras denominações, como o reiki, terapia alternativa japonesa que consiste na transferência de energia vital do Universo (ki) por meio da imposição de mãos.
E, nesse sentido, podemos entender melhor, então, como as curas empreendidas por Jesus puderam se multiplicar tão intensamente. Marcos conta que, em Betsaida, trouxeram um cego à presença de Jesus. Este, levando-o para fora da cidade, passou-lhe saliva nos olhos e impôs-lhe as mãos duas vezes, recuperando a visão do homem.
Bem mais do que curas físicas
Fica muito claro nessa passagem que o efeito magnético que proporciona a cura nem sempre é instantâneo e que, por vezes, é gradual, pois, primeiramente é preciso imantar o corpo fluídico (perispírito) para que este opere transformações nas células físicas.
Mas Jesus empreendeu bem mais do que curas físicas. A prática chamada exorcismo por muitas crenças e desobsessão pela doutrina espírita é o afastamento de um ou mais espíritos desencarnados que exercem influência negativa sobre uma pessoa ou mesmo sobre um grupo de pessoas.
Hoje sabemos que muitas das curas bem-sucedidas empreendidas nos centros espíritas são possíveis, não só pela ação curativa dos fluidos, mas principalmente pelo afastamento das inteligências desencarnadas que assediam a pessoa enferma, comprometida com a melhoria espiritual.
Discrepância com a realidade
Entre todos os fenômenos empreendidos pelo Cristo e registrados nos evangelhos, há dois que chamaram a atenção de Allan Kardec por sua discrepância com a realidade. Esses, o codificador, após pesquisas intensas e diálogo como os espíritos, afirma categoricamente que foram fruto de intervenção dos autores, que se utilizaram de alegorias e metáforas e que pouco tem de reais, devendo-nos ater ao seu sentido simbólico.
Um deles diz respeito ao fenômeno divisor de águas na história de Jesus, quando ele encontra um obsidiado geraseno (de Gerasa), cujas entidades obsessoras se identificam como “legião”. Na narrativa, Jesus as expulsa, lançando-as em uma manada de porcos, que se afogam no mar.
Do ponto de vista histórico e cultural, o povo judeu considerava a carne de porco como impura e não a consumiam; portanto, nada mais estranho do que haver um criador de porcos na região. É inverossímil. Portanto, deveremos nos ater ao significado simbólico da ação, já que os espíritos, tidos com impuros na narrativa, foram encaminhados para que possuíssem os porcos, animais considerados igualmente impuros.
Do ponto de vista espírita, a passagem é por si mesma bizarra, pois sabemos que os espíritos são as almas dos homens que viveram na Terra e que, portanto, não poderiam “entrar” ou “possuir” corpos de animais. Em tempos onde abundavam a ignorância e a superstição seria comum o mau entendimento ou o uso de alegorias para se explicar fatos que hoje seriam entendidos com muita naturalidade.
Hoje, graças aos estudos espíritas, sabemos que as obsessões individuais são muito frequentes e se apresentam com os mais diversos aspectos.
Jesus, o mágico?
O outro improvável fenômeno aconteceu nas Bodas de Caná e que, na verdade, foi o primeiro “milagre” realizado por Jesus – misteriosamente registrado apenas por João. Basicamente é relatado pelo apóstolo que Jesus foi capaz de transformar água em vinho em uma festa de casamento.
Nada contra a possibilidade de que tal fenômeno pudesse ou não ter ocorrido, ainda mais quando sabemos o quanto a magnetização fluídica pode mudar as características da água, dando-lhe novas propriedades. No entanto, Allan Kardec faz uma análise peculiar desse fenômeno aparentemente tão “inocente”. Considerando a elevada estatura moral do Cristo, será mesmo que utilizaria seus recursos de maneira tão vulgar, como um mágico em um espetáculo público?
JULIANO PIMENTA FAGUNDES no livro Governador da Terra (adaptado)