Era para ser uma comemoração de aniversário de uma criança, em um salão de festas. Iniciada em um final de tarde, as brincadeiras corriam por conta de uma animadora profissional, que atuou por quase três horas. Cantado os parabéns, ela se retirou e também grande parte das famílias. A festa, porém, não havia acabado.
Em um salão à meia luz, a brincadeira continuou. Agora, ao som de música eletrônica, algumas crianças ainda se mantinham animadas. Correndo de um canto para outro, elas tentavam pisar nos reflexos luminosos que um globo de espelhos refletia no chão enquanto rodava. Coisa de criança.
No entanto, em um dos cantos, duas meninas aparentando seis anos, dançavam repetindo coreografias eróticas. A sensualidade se revelava em cada gesto, em cada expressão facial. De olhos semicerrados, simulavam atitudes de mulheres que usam a dança com fins de sedução.
Aparentemente, pessoa alguma achou estranho o que se passava. Nem pai, nem mãe. Ninguém. É como se todos estivessem acostumados a isso. Mas a mim incomodou bastante.
Sexualidade mal orientada
Foi com o olhar de educadora e espírita que passei a analisar o fato. Sei que nascemos com uma carga erótica que pode ser intensa ou suave, dependendo da forma como a conduzimos em reencarnações passadas. Neste mundo, renascemos frutos de uma relação sexual. Trazemos a erotização como parte das nossas características mais primitivas.
Se é verdade que a maioria de nós ainda não se libertou dessa energia erotizada, também é fato que cada novo mergulho na carne é uma oportunidade para irmos transformando-a em energia criadora capaz de alavancar o nosso progresso espiritual.
Pelas incontáveis informações que temos acerca dos planejamentos reencarnatórios, sabemos que espíritos protetores nos ajudam a escolher as circunstâncias e provas da nossa próxima experiência na carne. Nesse trabalho, conscientizamo-nos dos pontos fracos que precisam ser burilados e, normalmente, concordamos em não mais falir.
Sabemos, também, que a sexualidade mal orientada tem sido, ao longo dos séculos, motivo de queda para inúmeros espíritos.
Vida sexual em idade imprópria
Por isso, ver as menininhas reproduzindo atitudes eróticas e provocantes chamou a minha atenção. Percebi que aquele cenário poderia estar se constituindo um gatilho capaz de acionar recordações pretéritas daqueles espíritos, ora vivendo a quadra infantil. Despertar, assim, a sensualidade em uma idade tão precoce, poderia trazer muitas consequências indesejáveis, sob inúmeros pontos de vista, um pouco mais adiante, como problemas psicológicos, gravidez precoce, DST, entre outras. Psicologicamente, sabemos que as diferentes fases da infância precisam ser vividas de forma adequada, a fim de garantir um desenvolvimento sadio da personalidade. Acelerar ou queimar etapas pode provocar sérios desequilíbrios emocionais.
A gravidez precoce, fruto de uma vida sexual em idade inapropriada, traz consequências desastrosas, e é hoje um problema mundial de saúde pública.
O uso irresponsável e antecipado da sexualidade pode, ainda, estar correlacionado à evasão escolar; a doenças sexualmente transmissíveis; ao aborto e, até mesmo, à promiscuidade e à prostituição infantil.
Equilíbrio emocional e espiritual
Considerando tais consequências, deveríamos ter um olhar mais cuidadoso sobre certos comportamentos infantis que concorrem para o despontar antecipado da sexualidade. Há atitudes que de tão simples e comuns, muitas mães não chegam sequer a perceber que podem se constituir em plugues para a sua eclosão. O uso de maquiagem fora das situações de brincadeiras; roupas muito curtas, justas e adereços semelhantes aos que as moças usam para ir às baladas; provocações do tipo: “quem é o seu namorado?”; exibições para os adultos de danças eróticas com a intenção de fazer gracinha, e tantas outras são comportamentos vistos como naturais. Mas não são.
Na certeza de que os pais desejam, de fato, o melhor para os seus filhos, seria importante que eles entendessem que criança é criança e como tal precisa ser vista. Ante situações como a aqui relatada, caberia aos pais serem mais vigilantes quanto ao conteúdo a que ela tem acesso. Procurar saber, por exemplo, onde ou com quem teriam aprendido aquele comportamento tão fora dos padrões infantis. De igual modo, exercer certo controle sobre os eventos que frequenta, optando por aqueles que privilegiam brincadeiras compatíveis com a sua idade e seu amadurecimento. Tais providências deveriam ser tomadas a bem do seu equilíbrio emocional e espiritual.
Lucia Moysés no livro Educação para um mundo melhor