O ano de 2010 será lembrado de forma especial por todos os espíritas. Quem poderia imaginar que, no centenário de nascimento de Chico Xavier, veríamos obras como Nosso Lar e As vidas de Chico Xavier disputando a ponta dos livros mais vendidos? Ou suspeitar que o filme Nosso Lar, baseado no mesmo best-seller, iria receber mais de 70% das indicações dos internautas para o Oscar 2011, na categoria de melhor filme estrangeiro?
Com efeito, esse despertar para a realidade espiritual vem se manifestando há anos, de múltiplas formas, numa avassaladora onda de fenômenos paranormais e casos evidentes da lei de reencarnação, por meio de lembranças espontâneas de suas vidas passadas.
Um desses casos é o do garoto americano James Leininger, que recorda com detalhes a sua morte na Segunda Grande Guerra, quando combateu no Pacífico como piloto da Força Aérea Americana. O assunto foi objeto de reportagens na mídia televisiva, e que podem ser vistas no YouTube.
Mas há o outro lado da moeda. Aquele ano ficará marcado também por uma busca desenfreada pela felicidade. Uma busca louca, a qualquer preço, à custa dos barbitúricos e anfetaminas, à custa de drogas pesadas e bebidas alcoólicas (nunca se bebeu tanta cerveja!).
E por quê?
De acordo com o professor Regis de Morais, autor, dentre outros, do livro Na maior das perdas – a divina concolação, no Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita daquele mesmo ano, onde falou sobre educação, espiritualidade e ética: “o homem está em fuga de si mesmo, por não suportar a mediocridade e o vazio da própria existência”.
Regis, juntamente com outros 43 articulistas, assinam a obra coletiva Reflexões para o despertar da consciência ética (Editora Loyola), lançada na Bienal de São Paulo, em que cada autor disserta sobre o agir ético nos vários ramos da atividade humana – do esporte ao direito, da medicina à política e ao marketing, no dia a dia de cada um e até na relação amorosa.
Outra obra primorosa, esta da Editora EME, que capta de forma brilhante esse momento apocalíptico, é Pedagogia da consciência, de Evilásio Menezes, seareiro no movimento espírita baiano. Considerado um autodidata, Evilásio resgata, com erudição e beleza, a ethika no sentido mais profundo do termo, como os gregos a compreendiam, isto é, associada à própria expressão da virtude.
Escreve Evilásio: “Para Sócrates e para todas as vertentes do pensamento grego, era impossível dissociar-se a virtude da felicidade. A virtude se identificava com a própria felicidade. O conceito de virtude, para Sócrates, era o de cuidar da alma para aperfeiçoá-la.”
Todavia, a criatura humana insiste em buscar a paz e a felicidade onde elas definitivamente não estão. Vemos casas lotéricas sempre abarrotadas, e pessoas – de todas as idades! – arriscam pequenas e grandes quantias sonhando encontrar a tal felicidade no bilhete premiado.
É oportuno lembrar aqui uma reportagem da TV em que um ganhador da loteria conta como viu sua fortuna esboroar-se em poucos anos, numa vida de luxúrias e puro prazer: “O que mais me pesa na consciência é ver que, durante esses poucos anos de total insensatez, não lembrei uma vez sequer de minha mãe, que vive em extrema penúria”, confessou ele à repórter. E arrematou em seguida: “Teria sido melhor não ganhar o prêmio!”
Vejam, pois, amigos, as contradições humanas. E não faltam alertas da espiritualidade maior!
Urge façamos, pois, a transição necessária com coragem e fé naquele que recomendou nos amássemos uns aos outros. Um mandamento que o Espírito de Verdade, ou o próprio Jesus, reeditou 18 séculos depois, com o espiritismo, denotando ainda uma vez que sabedoria e virtude andam sempre juntas: “Irmãos, dois novos ensinamentos vos dou: Amai-vos, eis o primeiro. Instruí-vos, eis o segundo.”
*RUBENS TOLEDO é jornalista e diretor de Comunicação na USE São Paulo. Produz e apresenta o programa A Vida Continua (www.avidacontinua.org.br). Na Editora EME, atua como revisor e colabora na avaliação e preparação de originais.