Sete histórias de pecados – A inveja
Nesta entrevista concedida ao Editor da EME, Arnaldo Camargo, MÔNICA AGUIEIRAS CORTAT nos conta um pouso sobre sua vida e, também, fala a respeito de seu novo romance, Sete histórias de pecados – Volume 3: A inveja. Confira!
Este terceiro volume da saga Sete histórias de pecados foca na inveja. Cada um dos romances traz personagens diferentes com histórias diferentes. Eles podem ser lidos separadamente, ou seja, não precisa de uma ordem de leitura?
A ordem não é importante. São histórias individuais, cada uma separada da outra, apresentando algumas possíveis consequências espirituais de alguns comportamentos humanos que foram chamados de pecados desde antes da Idade Média. Atitudes que vemos no nosso dia a dia, apesar dos romances nos mostrarem tempos mais antigos.
Mônica, você é natural do Espírito Santo. Como foi sua infância e juventude em família?
Nasci em Vitória (ES), mas fui ainda criança para Colatina, no norte do Estado, onde fui realmente criada. Amo a cidade, muito quente, um pôr do sol deslumbrante! Na minha infância eu era retraída, amava ler, tinha poucos amigos, mas eram bons e leais. Da família eu era a mais velha, pais bem tradicionais, e uma lembrança de avós maravilhosos. Comecei a cantar e compor aos 13 anos.
Você começou a trabalhar cedo e se aposentou também cedo. Como é ter disponibilidade de tempo agora?
Eu também lecionei em faculdade, contribuí para jornais, e cantei. Sustentar duas meninas sozinha não era fácil, o pai não contribuía. Mas, deu tudo certo… hoje, poder me dedicar só aos romances é uma dádiva! Também faço aromaterapia, tapeçaria, tricô, crochê, estudo os chás… vida é aprendizado constante!
Conte-nos um pouco de sua experiência profissional.
Eu fui funcionária federal do Ministério da Saúde, concursada, nível médio. No Executivo os grandes salários ficam para os de nível superior. O salário é pequeno, mas eu nunca gastei demais, então, agradeço a Deus até hoje! Estava numa situação muito complicada quando passei no concurso.
Você ficou solteira depois da desencarnação do esposo que foi a “paixão” da sua vida, e hoje mora em Florianópolis (SC). Como foi todo este processo? Está feliz assim?
Muito feliz! Minha fé espírita me salvou, se eu não acreditasse no que acredito, teria sucumbido à desesperança. Vivi dezessete anos com uma pessoa profundamente generosa, que se foi de ataque cardíaco fulminante, aos 68 anos. Era onze anos mais velho, e quando conheci era agnóstico! Faleceu espírita, embora eu nunca tenha pedido que se convertesse, mas amava tanto os ensinamentos, e era tão boa pessoa, que sinto a sua companhia até hoje, quase seis anos depois de sua desencarnação. Não consigo me sentir só, não sinto falta de outro relacionamento! Ele não foi uma paixão, foi amor, e não acaba! E Floripa, é maravilhosa!
Você tem duas filhas casadas e um neto. Elas são próximas de você? Ser avó é ser uma mãezona?
A mais nova está casada com um rapaz maravilhoso, no Espírito Santo; e a outra, atualmente solteira, morando a uma quadra de mim, trabalhando no INSS, concursada como eu, também espírita e dedicada a obras sociais. Tenho muito orgulho das duas, e do pequeno Mateus, a cara do pai dele! Se morasse mais perto eu ia encher ele de brigadeiro!
Você é uma jovem senhora eclética, além do trabalho na saúde foi cantora profissional e gravou música popular brasileira e composições próprias suas?
Era a espiritualidade falando desde cedo, as composições vinham completas, melodia e letra, e eu ficava cantarolando sem parar! Algumas em língua estrangeira, que eles mesmos me traduziam! Eu mal falava alguma língua na época, e os acordes vinham, lindos! Fui eu? Não fui eu? Hoje eu acho que não fui….
Você diz que as músicas são inspiradas e que vem letra e música ao mesmo tempo. Apesar disso se considera tímida?
Sim, sou tímida e bem reservada, mas adoro gente! Uma das características da minha mediunidade, no entanto, é uma profunda sensibilidade: eu “sinto” a energia humana do próximo com mais intensidade, nem sempre isso é confortável, então tento sempre achar o bem nelas, algo de bom, (sempre existe algo de bom ou bonito numa criatura) e elogio! O mundo pode ser melhor se formos gentis e honestos, não acha? Quem disse que a honestidade deve ser apenas cruel? Mas existem pessoas com sentimentos complicados, e com a minha sensibilidade latente, eu prefiro me afastar.
A inveja é própria da natureza humana? Visto que encontramos na Bíblia casos como Caim e Abel, Esaú e Jacó (já no ventre materno), José e seus irmãos…
Não de todos os humanos, mas da maioria de nós. É milenar e universal, combatida em quase todas as culturas… Na história da Ira, o sentimento primordial era a vaidade e a intolerância, na Preguiça dominava o vampirismo e a manipulação alheia, na Avareza o medo desvairado da pobreza, explicado de vidas anteriores. Na Gula tivemos uma narcisista que não padecia de inveja, mas que se achava superior a todos à sua volta, e que era voraz para satisfazer seus desejos. Na Inveja, chegamos ao vazio da psicopatia… Judith não se conforma com a sorte da irmã, e pensa: “Isso seria meu se não fosse por ela”. O invejoso se sente injustiçado, e com essa ilusão cria seu inferno pessoal e o alheio. Quem nunca se sentiu injustiçado? É raro…
A inveja sempre é direcionada a alguém próximo?
Ou a alguém que você considera próximo. A inveja surge de algo que você “vê”, não de algo abstrato…, mas, algumas pessoas são vistas por muita gente, como os artistas, gente de expressão, pessoas consideradas celebridades. Dentro das famílias é quase um sentimento comum, em maior ou menor grau, eu mesma não fazia ideia do que significava inveja até que fui apresentada a ela neste romance.
Qual a melhor maneira, indicada pelo Espiritismo, para a extinção desse sentimento inferior, a inveja?
Quando se lê O Evangelho Segundo o Espiritismo, um dos livros básicos da doutrina espírita, e que trata dos ensinamentos de Jesus de Nazaré de uma forma tão generosa e ampliada, na explanação das múltiplas existências, da reencarnação, uma paz já invade o coração humano. A empatia profunda que se deve ter pelo próximo, o perdão às faltas alheias, a caridade. A inveja é mesquinha, egoísta, o contrário de toda a regra cristã. É o oposto do amor ao próximo, um caminho para a infelicidade do próprio invejoso, que vive num inferno constante, se imaginando um eterno injustiçado desejando fervorosamente o que não lhe pertence. Se olhasse para o bem estar alheio em vez de se preocupar com as próprias fantasias, não se satisfaria com muito maior facilidade?
Sete histórias de pecados – volume 3 (Inveja) nos apresenta o problema que a inveja causa entre duas irmãs. Como fazer para não ficarmos vulneráveis ao ataque da inveja?
“Orai e vigiai…”, disse o Mestre! E não há outro caminho! Existe alguém neste plano, tirando os iluminados, que aparecem em missões especiais, que não sofrem com sentimentos pequenos? Em quase todas as civilizações, gregas, árabes, indianos, chineses, coreanos, latinos, celtas, temos receio da famosa inveja. Olho turco, turquesas, nós de bruxa, mão de Fátima, Figa, tem amuleto para todo gosto nessas civilizações, pois somos todos feitos de energia, e ela emana de nós. Não existem determinadas pessoas perto das quais vocês se sentem “pesados”, ainda que elas sejam gentis, mas que nunca elogiam, nem ajudam a ninguém? Nesse caso é simples, rezem por elas e afastem-se. Tudo tem seu tempo sobre a Terra, eles também vão encontrar seu espaço, sua redenção!
Assim como acontece com Judith, uma das irmãs retratadas em Sete histórias de pecados – volume 3, o invejoso se vê preso a uma ilusão, não dando valor a si mesmo. Como saber o limite entre invejar e admirar, de forma a não cair nesta armadilha?
Ao contrário do que se pensa, o invejoso se tem em alta conta, e quando vê conquistas alheias, acredita que era ele quem merecia, já que se sente superior ao outro! Não importa se o vizinho conquistou, por exemplo, o carro novo, com trabalho árduo e anos de estudo. Na cabeça do invejoso, o vizinho roubou alguém ou deu sorte, e quem merecia o carro era ele mesmo, muito mais inteligente e trabalhador que o outro. Se ele puder destruir o que o outro tem, ou difamar o outro, assim ele sana a sua dor (sim, o invejoso sofre de uma dor física, quando seu alvo está feliz, e sente um imenso prazer, vendo o outro em desespero). Na admiração, você reconhece o trabalho árduo do vizinho, o felicita, e diz que assim que puder vai tentar conseguir um carro parecido, pois admite que o outro teve além de tudo, bom-gosto! A admiração te leva para frente, a inveja destrói.
Ao se deixar levar pela inveja, a jovem Judith contraria as regras de sua felicidade própria. O que leva uma pessoa a ter comportamentos que sabe que a prejudicarão?
A tristeza da vida de Judith e sua inveja, é que ela acredita que está lutando por sua felicidade! Para isso, não se incomoda em manipular, mentir, cometer pequenos delitos, não sente remorso, nem se importa com os sentimentos alheios. Numa época em que as famílias escondiam qualquer mal feito de seus integrantes, por medo de escândalos, ela acaba aparentemente impune, inclusive de um delito maior. E não tem o menor arrependimento! Acredita que merece muito mais do que tem, deseja a ventura alheia, e se esquece da própria. Incapaz de perceber a própria sorte de nascer numa família excelente, longe da pobreza, de valores morais elevados, perfeita para sua evolução, com razoável beleza e uma inteligência acima da média! Cercada de amor, não o enxergou, porque não amava! E ela colheu o que plantou, aqui e na vida espiritual. Tolos são os que acreditam que pode ser diferente!
Você sente ou já sentiu inveja?
Eu confundia inveja com admiração, essa eu sempre tive! Olhando para o meu passado nesta vida, eu noto que tive admiração por determinadas pessoas, uma moça num vestido bonito, alguém com um salário melhor numa época em que lutava com muita dificuldade, e o que eu fazia então? Arrumava mais uma fonte de renda, estudava muito, aprendia a costurar… desejar tirar algo de uma pessoa? Jamais! Me daria um forte remorso… querer que a pessoa fosse infeliz? Deus me livre! Mesmo porque sei que cada qual tem seus problemas e expectativas, ninguém tem uma vida perfeita… Pessoas mais bonitas, mais ricas, mais inteligentes, existem aos montes! Assim como os menos favorecidos… a procura do ser humano não é pela felicidade e paz interior? Cada ser humano tem suas qualidades e defeitos, valorizemos o bem, incentivar o mal é caminhar para a infelicidade. Quanto a viver com uma pessoa que sofre do mal da inveja? Podendo, se afaste, e ore por ela. Não se vingue, não lhe deseje má sorte, mas não se deixe prejudicar. O Criador espera que seus filhos brilhem, aprendam, evoluam, tanto que para isso nos dá infinitas chances. O Invejoso também alcançara sua redenção, depende só dele escapar dessa ilusão.
O amor é sublime! E nesse novo romance os espíritos dizem que “o amor é uma força poderosa”, como é isso?
A paixão é um encantamento, o amor é um sentimento. É bom não confundir os dois… claro que a paixão pode vir a se tornar amor, e algumas vezes se torna, mas no amor romântico vem junto a admiração, o respeito, a cumplicidade, o companheirismo, a confiança. Para a paixão existe uma certa sintonia, mas para o amor é necessário generosidade de ambos, empatia verdadeira, e não só entre casais, mas entre pais e filhos, amigos, e quanto mais o ser evolui, isso flui para a humanidade. Sentimentos como o ódio, rancor, inveja, ganância, são transitórios pois se agarram em ilusões, medos, meias verdades… o amor não, ele evolui! Você conhece realmente o semelhante e o aceita, não o prende, cuida de seu bem-estar, ora por ele. Quando o Mestre prega o amor ao próximo ele nos leva a um caminho de paz e entendimento…. Na rota das inúmeras encarnações, os rancores passam, as imperfeições vão sendo amainadas. Apenas o amor vai aumentando, o sentimento que nada cobra, que fica feliz em se doar!